terça-feira, 12 de setembro de 2023

11 SETEMBRO 1073 - GOLPE CONTRA SALVADOR ALLENDE...50 ANOS DEPOIS






11 de setembro é uma data carregada de significados históricos. O sangrento e covarde golpe contra Salvador Allende nos deixou uma marca indelével, era o ano de 1973. Havia realizado durante 5 meses uma viagem de carona pela América do Sul - éramos 5 estudantes da UnB. No Chile, o clima era eufórico e tenso. Todos pediam para irmos embora o quanto antes, a barra ia pesar. Ainda era março, quando cruzei junto com o Armando Sobral Rollemberg, o deserto de Atacama durante 9 dias em direção ao Peru. Em Maio desde Bogotá, desembarquei em Manaus onde as histórias vividas foram datilografadas em papéis de seda. Em seguida, quando retornava à Brasilia, fui sequestrado pelos órgãos de repressão em pleno aeroporto, encapuzado e levado para as masmorras da repressão, onde conheci o inferno. Ainda não sabia, mas a ditadura se encontrava na captura dos estudantes da Universidade de Brasília, foram mais de 30 prisões. Os relatos de cada um dos prisioneiros expressam o horror da violência covarde dos torturadores. Faz 50 anos...meio século.

domingo, 19 de setembro de 2021

PAULO FREIRE (1921-1997,) UM PROFESSOR LIBERTÁRIO

 


Aurélio Michiles e Paulo Freire


Escola da Vila. Anos 80. Palestra Paulo Freire.

O professor, o mestre me fez lembrar o livro escolar adotado nas escolas de Manaus onde aprendíamos as primeiras leituras. 

O livro tinha o personagem "Pedrinho". Ele mudava de casa. O bairro tinha uma ambientação sem nenhuma referência para nós. Tampouco suas experiências da nossa vida cotidiana: Inverno, Verão, Primavera e Outono. Culinária, flora, fauna, frutos, frio, neve... inimagináveis. Nada de cupuaçu, tambaqui ou umidade, calor amazônico. 

Eu e o meu amigo Narciso, tirávamos sarro disso tudo. Não sabíamos, já existia um professor que propunha uma educação em diálogo permanente, diretamente com o imaginário do aluno. Ele era Paulo Freire, hoje completa 100 anos, foi exilado pela Ditadura 64, justamente porque em 1962, Angicos, Rio Grande do Norte, em 40 horas alfabetizou 380 trabalhadores rurais. 

Isso foi considerado um crime, uma traição que a elite retrógrada e refratária não engole até hoje. 

VIVA PAULO FREIRE!

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

JEAN-PAUL BELMONDO, O HOMEM DO RIO

 


Jean-Paul Belmodo (1933-2021) esteve em Manaus em 1962 filmando "L'Homme de Rio" de Philippe Broca, um dos maiores sucessos de bilheteria da historia cinema francês. 

Com locações em Paris, Rio de Janeiro (cenas filmadas no Museu de Arte Moderna), Brasilia (ainda em construção) e Manaus (Cidade Flutuante). 

Belmondo, ele já havia arrebatado fãs com seu carisma ao interpretar com uma imensa naturalidade o ladrão de carros no filme "À Bout de Souffle" (Acossado, 1959) de Jean-Luc Godard. Mesmo assim a sua presença em Manaus não despertou muita curiosidade. 

Ainda criança tive a oportunidade de encontra-lo. Foi um encontro bizarro. Meu pai era proprietário de um bar em Manaus, chamava-se "Aristocrata Bar", localizava-se num lugar privilegiado, onde se encontravam os boêmios (magistrados, religiosos, intelectuais e artistas). Não faço ideia, mas Belmondo junto com um grupo de pessoas fez presença e pediu uma "caipirinha". Tomou uma, duas e na terceira ele jogou o copo que espatifou-se numa árvore (mangueira) que ficava em frente ao bar. Falava alto e como era francês poucos ali conseguiram entender exatamente o que falava. 

A "Cidade Flutuante" era uma cidade que boiava em frente à Manaus, apesar de gerar uma economia permanente, o comércio ficava aberto 24 horas, mesmo assim, a sua paisagem incomodava, para muitos da elite amazonense aquilo era uma excrescência, pior, um amoralidade, lugar de prostitutas, rufiões entre outros marginais. 

Quando do golpe de 1964, a primeira coisa que os militares fizeram foi amarrar com correntes puxados por tratores e balsas aquelas construções flutuantes para destrui-las. Foi o fim da Cidade Flutuante. 

Felizmente ela continua existindo para sempre no filme "O Homem do Rio" e que tem como astro Jean-Paul Belmondo, Françoise Dorleac e com participação dos brasileiros Milton Ribeiro (O Cangaceiro), Zé Keti (sambista), Annik Malvin e Adolfo Celi (ator italiano que viveu no Brasil muitos anos). Uma curiosidade para lembrar, uma das roteiristas ( indicado ao Oscar Melhor Roteiro) leva a assinatura de Ariane Mnouchkine ( fundadora do Théâtre du Soleil em Paris).

terça-feira, 1 de setembro de 2020

QUALQUER SEMELHANÇA NÃO É NENHUMA COINCIDÊNCIA



A trágica situação que nos encontramos confinados dentro de nossas casas, protegidos por álcool-gel, água, sabão, luvas, máscaras, desemprego em massa, falências, mesmo assim tem gente lucrando... Durante a pandemia o ouro surge como o porto seguro dos investimentos no mercado internacional. O seu alto valor tem impulsionado os garimpos ilegais na Amazônia e com ele a destruição da floresta e a ameaça de extinção das populações indígenas. 

Tudo em nome da ganância e dos super lucros.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

DE ONDE VEM O DINHEIRO DO CINEMA?


De onde vem o dinheiro do Cinema ?


É preciso esclarecer equívocos que tão mal fazem à economia do cinema brasileiro. Os recursos que irrigam nossa indústria cinematográfica não são verbas subtraídas da saúde, da educação ou de qualquer outro item do Orçamento da União, como muitos apregoam.

São duas as fontes que geram os recursos financeiros essenciais para o desenvolvimento da indústria audiovisual, em todos os seus segmentos: 1) lei 8.685/1993, instituída pelo governo Itamar Franco, posteriormente aprimorada e operacionalizada no governo Fernando Henrique; b) Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine), criada pela iniciativa do então ministro do Planejamento João Paulo Reis Veloso, em 1976, no governo Geisel.

A lei 8.685/1993, hoje conhecida como Lei do Audiovisual, é uma lei de renúncia fiscal que possibilita pessoas físicas e jurídicas abaterem de seu Imposto de Renda 3% (pessoa jurídica) e até 6% (pessoa física) e aplicarem na produção de filmes em forma de investimento ou patrocínio. Esse mecanismo funcionou de forma plena até 2018 e chegou a injetar na atividade cerca de R$ 400 milhões/ano.

Em 2019, quando venceu o prazo de vigência de dois artigos dessa lei (art. 1º e 1A), o Congresso aprovou a renovação de ambos, mas, em seguida, estes foram vetados pelo presidente Jair Bolsonaro. Agora, tendo o Congresso rejeitado os vetos do presidente, fica reestabelecida a vigência da lei 8.685 na sua integralidade.

Quanto à Condecine, tecnicamente, trata-se de uma Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico), mas que pode ser entendida como o "pedágio" que todos os filmes (nacionais e estrangeiros) e conteúdos audiovisuais pagam para explorar o mercado brasileiro. Estão sujeitos a esse "pedágio" produtores, exibidores e distribuidores, canais de TV aberta e por assinatura, além de empresas de telefonia.

A Condecine é a principal fonte de receita do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Tal taxa tem gerado em torno de R$ 1,3 bilhão por ano, sendo que desde 2012 essa receita veio sendo contingenciada pela União para cobertura do déficit fiscal. Cerca de R$ 6 bilhões do Fundo Setorial do Audiovisual foram contingenciados indevidamente desde 2013, pois a Condecine, nos termos da MP 2.228, tem finalidade específica: sua receita só pode ser aplicada na indústria cinematográfica nacional.

Ainda assim, nas redes sociais e mesmo nos jornais, há sempre alguém acusando o cinema de "mamar nas tetas do governo". É importante lembrar que produtores, exibidores, distribuidores, canais de TV, atores e técnicos pagam milhões de reais à pesada cadeia tributária (federal, estadual e municipal).

No entanto, o injusto e maldoso mantra reafirma que "mamamos nas tetas...", quando, como vimos acima, é o governo quem mama nas tetas do cinema.

Outra questão que, de tão repetida, se tornou uma acusação, é a de que os recursos financeiros que viabilizam a nossa atividade são públicos. Essa tese vem sendo adotada pelas sucessivas diretorias da Ancine (Agência Nacional do Cinema).

Essa errônea interpretação do que é dinheiro público está na raiz da atual crise de prestação de contas, pois, para legalizar o uso dos recursos gerados pelas citadas leis, as nossas empresas foram enquadradas na Lei de Diretrizes e Bases Orçamentárias em regime de convênio. Mas tal regime só pode ser praticado com instituições sem fins lucrativos. Nossas empresas são comerciais/industriais, com fins lucrativos. Essa ilegalidade já foi denunciada em voto proferido pelo ministro Bruno Dantas, do TCU (Tribunal de Contas da União).

Travamos uma luta de resistência contra esse monstro de sete cabeças em que as seguidas diretorias da Ancine a transformaram, introduzindo 101 emendas na MP 2.228 e editando mais de 150 instruções normativas que nos levaram a tal labirinto burocrático que o ato de produzir um filme se tornou quase impossível.
Somente a força, o vigor empreendedor e o talento criativo daqueles que realmente fazem cinema viabilizaram as centenas de filmes que nos últimos anos têm mantido e ampliado, em todas as telas do mundo, a imagem do Brasil.
Sempre afirmei e volto a afirmar: país sem cinema é como casa sem espelho.

Luiz Carlos Barreto - Produtor de cinema brasileiro, já produziu mais de 150 títulos de ficção, documentários, curtas-metragens, séries e minisséries para a TV

CEUVAGEM

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.