terça-feira, 18 de novembro de 2008

AMAZONAS FILM FESTIVAL 2008


PÃO & CIRCO

       É sempre energizador retornar ao nosso canto, pisar firme na terra, respirar fundo, encontrar os amigos e manter a memória on line, paixão pura.

        O Amazonas Film Festival precisa assumir suas contradições e raízes. Não podemos esquecer que foi no Teatro Amazonas em que se exibiu numa das primeiras vezes um filme no Brasil. E aqui morou, filmou e morreu um dos pioneiros do cinema, o cineasta que em 1910 fez estágio nos laboratórios dos Irmãos Lumière (os inventores do cinema) e nos Estudios Pathé-Frères (2) mesmo assim esse fato encontra-se perigosamente ameaçado de re-interpretação, cujo ardiloso objetivo é minimizar a sua importância histórica, estou me referindo a Silvino Simões dos Santos e Silva (1886-1970).

        O cinema do Amazonas, da Amazônia e do Brasil pra existir tem que assumir as águas do rio caudaloso deste pioneiro: Silvino Santos. (3)

        Em 2009 completará 40 anos que ele foi re-encontrado e celebrado no I Festival Norte de Cinema Brasileiro (Manaus,1969), este de vida curta, como foi tudo naquela época pós- AI-5.Em seu discurso de agradecimento Silvino Santos defendeu o cinema brasileiro denunciando a excessiva presença da produção estrangeira, conclamando os jovens realizadores fazerem mais filmes."O fato é que a declaração do Silvino Santos foi um delírio no cinema, ele foi embora para casa e um ano depois morreu", relembrou Cosme Alves Netto.(4)

        Acredito que o nosso Amazonas Film Festival daria um salto qualitativo, se o seu desdobramento estivesse relacionado a uma ESCOLA DE CINEMA, esta ação transformaria o glamour que o caracteriza numa consagração entre amazonenses e o resto do mundo.

O POVO NÃO COME CULTURA?

         Nem queria cair nessa armadilha, mas não posso deixar de comentar sobre a desastrada declaração do nobre deputado Eron Bezerra (PCdoB-AM), “O povo não come cultura”, numa comparação oportuno-provocativa-populista entre a grana da saúde com a graninha da cultura.
 
        Logo vi nesse argumento um raciocínio juvenil (com todo respeito aos arroubos juvenis, mas quando feito pelos próprios, e neste caso foi utilizado por um antanho).

        O que pensaria o autêntico "Negão" - Eduardo Gonçalves Ribeiro (1862-1900), filho de uma escrava maranhense com um português e que foi o primeiro governador republicano amazonense.(5)


         Eduardo Ribeiro assumiu o governo do Amazonas aos 28 anos - a idade do Che quando conquistou Cuba - e aos 38 anos foi assassinado -, sob o impulso rebelde militar-positivista ao encontrar os cofres públicos abarrotados de divisas, não pensou duas vezes, "vou transformar este amontoado de casebres cobertos de palhas, numa cidade moderna"
Entre os muitos monumentos erguidos, o Teatro Amazonas foi um deles. 

         Naquela época não faltou Eron's choramingando comparações. Mas o "Negão" sabia que para fazer um povo orgulhoso do chão e das suas coisas era preciso mais do que casebres cobertos de palhas, era preciso educação, saúde e cultura. O Negão estatizou o ensino, criou uma rede publica de educação, muitos dos edifícios projetados na sua época ainda se encontram em pé: Saldanha Marinho, José Paranaguá, Benjamin Constant entre outros... Manaus é uma das poucas cidades do mundo cujo monumento referencia, alem dos fenômenos naturais (o encontro das águas) é um templo gerador de cultura e entretenimento - TEATRO AMAZONAS

      E queria mais... Mas antes que desse prosseguimento as suas obras, Eduardo Ribeiro, foi morto... Os seus detratores o acusaram de "louco", "perdulário", "negro insolente", "viado"...

      O "Negão" apareceu enforcado num punho duma rede de dormir, os seus joelhos curvados, impossível morrer daquele jeito..lembram da farsa-suicídio Vladimir Herzog?

      Hoje o que ficou daquele fausto de riqueza, daquela disputa pelo poder foi exatamente o Teatro Amazonas.

ESCOLA LIVRE DO AUDIOVISUAL E OUTRAS MÍDIAS

      Com certeza estarei chovendo no molhado, mas vislumbro a criação duma Escola Livre do Audiovisual e Outras Mídias em MANAUS. 
   
       Existem muitos exemplos desde a Escola de Cinema de Santo Antonio de los Baños (Cuba) a Dragão do Mar (Fortaleza), mas a experiencia, o modelo que me bateu forte no momento é o festival internacional de filmes-documentários na cidade de Lussas, na França (6), esta minúscula cidade e que tem uma única avenida principal, vibra em festividades com realizadores de todos os lugares do planeta... Quando o festival acaba... A cidade se transforma numa das escolas de cinema mais importantes da França. Bacana, não?

       Contínuo confiante no espírito empreendedor e inusitado. Queremos uma melhor distribuição da riqueza, mas também de sabedoria, inteligência, sensibilidade, sem isso estaremos SEMPRE comprando gatos por lebres.PS. Foi justamente em plena recessão dos anos 30, quando milhares de norte americanos morriam de fome, foram produzidos filmes musicais (alegria, luxo e glamour) e ao mesmo tempo filmes com humor misturado com ácidas criticas as questões políticas e econômicas daquela época. Entre outros, por exemplo, os filmes de Frank Capra, sugiro assistirem “O Galante Mr. Deeds” (1936), estrelado por Gary Cooper, Jean Arthur, George Bancroff.

Notas
(1) Num June Paik, foto: Paulo Fridman
(2) Romance da Minha Vida – relato memorialístico, escrito por Silvino Santos um ano antes de falecer – inédito.
(3) O Cineasta da Selva, doc.,84 min.,1997. Dir. Aurélio Michiles
(4) No Rastro de Silvino Santos, Selda Vale da Costa e Narciso Julio Freire Lobo, SCA/Edições Gov. Estado,AM, Manaus, 1987.
(5) Teatro Amazonas, doc.,50 min., Brasil, 2002. Dir. Aurélio Michiles
(6) Lussas (França)
ÉTATS GÉNÉRAUX DU FILM DOCUMENTAIRE
17 a 23 de agosto de 2008
lussas.documentaires@wanadoo.fr / lussas.maison@wanadoo.fr / http://www.lussasdoc.com

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

HOLLYWOOD TROPYCAL I


LUIS CARLOS BARRETO, O MASCATE DO CINEMA


Outro dia este produtor de cinema, considerado o chefão do “clã Barreto”, indignado com a fartura de festivais de cinema que se prolifera desde Oiapoque ao Chuí, declarou:

“... até nas cidades ribeirinhas da Amazônia tem festival de cinema”.

Foi aí que pensei, “hei, Barretão, per’aí, tu estás cuspindo no prato que comestes ou onde desejastes comer...”. Sim, é público e notório que LC Barreto ao longo de sua história produziu muitos filmes de curta e longa metragem. Muitos deles não somente bateram recordes de bilheteria como são reconhecidamente de grande valor cultural, sem duvida com os recursos do governo de vários estados e cidades da Federação Brasileira.

Neste sentido, a desastrada declaração do Barretão não foge a regra daqueles que tentam interpretar o Brasil e a Amazônia buscando argumentos polêmicos hiperbólicos, aliás, não é nenhuma novidade, ainda no início dos anos 50, o consagrado escritor brasileiro Gastão Cruls escreveu um livro (que se tornou referencia bibliográfica) “A Amazônia que eu vi” (2), um detalhe, ele nunca pôs os pés na região, portanto todo o seu relato foi baseado de “orelhada”.

Qual o problema de existir festival/mostras de cinema por todos os recantos deste país continental? Enfrentamos no setor audiovisual uma política de monopólio, cuja prática tem sido da desconstrução, sequer possuímos uma reserva de mercado para a nossa produção (a exemplo de muitos dos nossos vizinhos continentais), a visibilidade do cinema brasileiro para aqueles que o detratam é equipara-lo em bilheteria com os filmes produzidos pelos estúdios norte-americanos (sic).

Coincidentemente o consagrado ator Matheus Nachtergaele, dirigiu o filme "A Festa da Menina Morta" (2008), na cidade ribeirinha de Barcelos, no estado do Amazonas e foi ganhador dos mais importantes prêmios nos festivais do Brasil e no exterior.

LEIS DE INCENTIVO À CULTURA

Pode-se dizer que existe leis de incentivo (Rouanet e Audiovisual), mas não é o suficiente, a demanda de produtores e realizadores tem aumentado porem a fonte de recursos tem sido as mesmas (BNDES, Petrobras, por exemplo) nestes editais escuta-se cada vez mais o discurso em se patrocinar os projetos que tenha potencial de bilheteria, eufemismo de publico, mas como alcançar o público brasileiro com filme nacional? Eis uma antiga pergunta.

Não é de hoje a prática duma política preconceituosa contra a nossa produção cinematográfica. O fato em termos conseguido essas leis de incentivo à cultura através da renuncia fiscal, foi um salto significativo, mas ainda é pouco.

Necessitamos de uma injeção de auto-estima. Necessitamos de direitos garantidos e proporcionais quanto à distribuição e exibição. Não podemos produzir nossos filmes para depois deixá-los dormindo, como fossem a metáfora do “gigante adormecido em berço esplêndido”.

O CINEMA BRASILEIRO NO SÉCULO DO CINEMA

Ao longo do século do cinema, os cineastas brasileiros mais que demonstraram a sua capacidade de criação e inventividade na área audiovisual. É um cinema formador, influenciou e foi influenciado. Alguns dos nossos cineastas é referência ao cinema nacional e internacional.

Mesmo assim o Cinema Nacional é um realtivo desconhecido do público brasileiro, eis um dos nosso paradoxos.

Na era “da câmera na mão e uma idéia na cabeça”, do digital, do youtube e do download de filmes, resta-nos procurar os festivais e mostras de cinema para conseguirmos alguma visibilidade, furar o bloqueio, desconstruir a propaganda que tenta desmoralizar o nosso cinema.

E aqui, meu caro Barretão, velho mascate, quero afirmar mais uma vez, a minha discordância consigo. Tomara que os festivais e mostras de cinema contaminem feito um vírus o coro dos contentes e se espalhe por todos os recantos, inclusive e principalmente nas cidades ribeirinhas deste país continente, produzindo a secular magia da câmera, luz e ação – pra todos!

NOTA

(1) Foto: ROSANE NICOLAU http://oglobo.globo.com/blog/docblog

(2) A Amazônia que eu vi (Óbidos-Tumucumaque), Gastão Cruls. Companhia Editora Nacional, RJ, 1954

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

WWW.BARACKOBAMA.COM



OLHOS NO FUTURO, NOW!

Muito antes de Martin Luther King (1929-1968) dizer que sonhava um dia em que as pessoas seriam respeitadas não pela cor da sua pele, mas pelo carater, aqui no Brasil, em 1926, o escritor Monteiro Lobato (1882-1948) publicou no jornal carioca "A Manhã", um folhetim onde ele previa que na eleição do 88.° presidente norte-americano, um candidato negro Jim Roy, venceria. 2228 era o ano em que aconteceria essa disputa, entre um candidato negro, uma mulher e o presidente atual concorrendo pela re-eleição, portanto considerando a data com a vitoria de Barak Houssein Obama a Presidencia dos Estados Unidos da América do Norte, a futurologia de Lobato foi antecipada em 220 anos.(3)

FRUTO DA ALDEIA GLOBAL

Barak Hussein Obama, nascido no Havaí, fruto da miscigenação entre uma americana branca e um queniano negro de origem muçulmana, criado na Indonésia e com um meteórico currículo escolar e político na contramão do obscurantismo e da intolerância, foi eleito como o 44º presidente dos Estados Unidos da América do Norte.

Obama reúne carisma pra lá de coincidentes, rompe o paradigma racista tanto em seu país como em grande parte do mundo, por que alem de ser um “afro-americano descendente”, traz um sobrenome árabe (Hussein) e por conta disso foi taxado por seus adversários durante a campanha como "perigoso", “terrorista” e "socialista”, mesmo assim ele se transformou numa esperança necessária para os povos do mundo inteiro, seja pela monumental importância econômica, cultural e militar dos Estados Unidos, como pelo preenchimento do vazio causado pela beligerância deste governo que encerra o mandato melancolicamente, saindo da Casa Branca pelas portas do fundo.

OBAMA SUPERMAN

Obama durante o seu discurso de vitorioso, encontrava-se com um grave semblante, ao contrario da simpatia e sorrisos exibidos durante a campanha, talvez desejasse que as pessoas compreendessem este momento de passagem, esse rito em que assumia os desafios que terá pela frente, el num discurso de conciliação conclamou a união de todos os norte americanos,independente da raça, cor, partido ou religião para realizarem juntos as expectativas coletivas. Ele sabe que ao contrário das baboseiras do tipo "fim da história" ou "conflitos civilizatorios", tem pela frente hercúleos obstáculos.

Barack Houssein Obama não poderá decepcionar, desiludir e este são os seus maiores desafios, para isso, como o herói das histórias em quadrinhos terá que exercer os superpoderes de um SUPERMAN. Obama vai ter que fazer mágica para realmente virar a página da história recente do seu país pela auto-estima do povo norte-americano e da paz mundial.

Enquanto estiver na CASA BRANCA as marcas da dor causada pela discriminação, será uma referencia na memória daqueles que testemunharam e foram vitimas como na canção "Strange Fruit" escrita e cantada por Billie Holiday, como uma indelével cicatriz:

"Southern Trees Bear Strange Fruit/Blood on the leaves and blood at the root/Black bodies swinging in the southern breeze/Strange Fruit hanging from the poplar trees".

NOTAS


(1) “Lady Sings The Blues”, by Billie Holiday and William F. Dufty. Doubleday & Company, Inc. New York, e A Regra do Jogo, Edições, Ltda. 1982.

“Wishing on the moon: a vida e o tempo de Billie Holiday”/ Donald Clarke: Jamari França – RJ, José Olympio, 1995.

(2) Nascimento de uma nação (The Birth of a Nation), EUA, 1915

Dir. D. W. Griffith

(3) O Presidente Negro (Globo, 2008, 212 págs.), de Monteiro Lobato (1882-1948).

terça-feira, 4 de novembro de 2008

YMA SUMAC IT'S ALL TRUE





















QUEM OUVIU YMA SUMAC CANTAR COM SUA VOZ DE SOPRANO QUE IA DO MAIS BAIXO GRAVE AO MAIS ALTO AGUDO?


ESTA CANTORA PERUANA QUE FEZ SUCESSO NOS MEADOS DOS ANOS 50, FICOU CONHECIDA COMO YMA SUMAC, MAS CHAMAVA-SE ZOILA AUGUSTA EMPERATRÍZ CHÁVARRI DEL CASTILLO (1922-2008), FALECEU EM LOS ANGELES, NO DIA 01 DE NOVEMBRO, AOS 86 ANOS.

FAZIA O GÊNERO "EXOTIC NATIVE", DIZIA-SE UMA PRINCESA DESCENDENTE DOS "INCAS" (E POR QUE NÃO?), NUMA AMÉRICA IMERSA POR CELEBRIDADES DE ASTROS E ESTRELAS, ONDE O ONIRICO E O FANTÁSTICO ERA APENAS O PRINCIPIO DO IMAGINÁRIO DE FAUSTO, ENTRETENIMENTO E GLAMOUR...IT'S ALL TRUE.

QUE O DIGA CARMEN MIRANDA (1909-1955).

TANTO CARMEN COMO YMA TEM SEUS NOMES INSCRITOS NA "CALÇADA DA FAMA" EM HOLLYWOOD.


NA MINHA INFÂNCIA (INICIO ANOS 60) GERALMENTE AOS DOMINGOS À TARDE, A RÁDIO BARÉ DE MANAUS TOCAVA SUAS MÚSICAS, FICAVA ENCANTADO COM AQUELA EXCENTRICIDADE SONORA, NÃO FAZIA IDÉIA QUEM SERIA, MAS COM CERTEZA INTUÍA QUE ELA FOSSE UM RARO PÁSSARO HABITANTE DE QUALQUER LUGAR, LONGINQUO E MÁGICO.

TEMPOS DEPOIS DESCOBRI QUE EU TAMBEM HABITAVA UMA REGIÃO ONDE O MÁGICO E O FANTÁSTICO FAZIA PARTE DA INVENÇAO IMAGÉTICA - "AMAZON, EXOTIC NATIVE".

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

AQUI TUDO BÓIA, FLUTUA, MAS NÃO EXISTE ESCOLA NAVAL




Sexta 10 de outubro de 2008.

Outra vez, deu nos jornais e nos noticiários de televisão e internet... Naufrágio na Amazônia.

“A Capitania dos Portos de Parintins (AM), o Corpo de Bombeiros e voluntários levaram toda a madrugada para resgatar os cerca de 80 passageiros do barco “Cidade de Urucará”, que naufragou ontem à noite no rio Amazonas, próximo à cidade de Parintins, a 369 km de Manaus.”

“Segundo informações de passageiros, a embarcação estava carregada com muito cimento e tijolos dentro do porão, o que teria contribuído para o naufrágio, mesmo com a tentativa de amarrar o barco nas árvores situadas na margem do rio.”

“A Marinha informou que será aberto inquérito para investigar o acidente...” Etceteras.

RECORRÊNCIA... ANUNCIADA

A canoa virou e para o fundo levou seus passageiros. De quem é a culpa? No imaginário da Amazônia arcaica existe um lugar remoto e aquático, “o povo do fundo do rio” (1) (2). Todo mundo sabe, ao menos os mais antigos, aqueles que não têm medo de assombração... senhores (a) de cabelos brancos, com a pele encardida, enrugada, feito a hidrografia amazônica.

1. Não faz muito tempo, um barco foi ao fundo. A balsa bateu e ele adernou, tombou de lado, a água entrou e como as portas das cabines só abrem pra dentro, não teve jeito de empurrá-las, a força da água afogou todo mundo que se encontrava descansando na cabine.

Um barco totalmente irregular, já havia sido multado pela Capitania dos Portos do Amazonas, e mesmo assim foi deixado sob custódia por nada menos o próprio proprietário, este se comprometeu a corrigir as irregularidades antes de colocá-lo disponível a navegação, simplesmente o barco não havia sequer bóias salva-vidas.

CREONTES IRRESPONSÁVEIS

Os donos destas embarcações, como se eles tivessem o poder sobre o destino, irresponsavelmente resolvem navegar, carregando dezenas de incautos passageiros.Resultado: cenas horríveis dos corpos sob o abraço dos afogados. Muitos deles são encontrados semanas depois, a 80 quilômetros ou mais distancias do local aonde aconteceu à tragédia fluvial...

ESTATISTICAS DOS MORTOS

Todos os anos o numero de mortos em naufrágios na Amazônia sequer viram estatísticas. Não se sabe e nem se conta o número de embarcações que vão ao fundo, como estivessem numa batalha naval sem confrontos ou adversários, quer dizer, sem levar em conta a ganância, o descaso e a irresponsabilidade de uma política administrativa dos transportes que navegam pela hidrografia amazônica.

ESCOLAS NAVAIS ?

O pouco caso que se faz com a potencialidade desta via natural - utilização e instrumentalização - sem incentivo para um conhecimento técnico e cientifico, por exemplo, uma amazônica Escola Naval. Ainda hoje esse negócio vital para a circulação de riquezas na região é um conhecimento de “pai-pra-filho” ou do "mestre ao aprendiz". Os modelos que circulam pelos rios são os mesmos que já navegam há mais de setenta anos e são popularmente conhecidos como "motôr-de-linha".Os seus “comandantes”, denominados de “práticos” não utilizam mapas (mesmo porque os mapas oficiais são incorretos) e nem bússolas, mas através de mapas configurados em suas cabeças, a partir da relação de vida, do homem com os lugares ou do homem com os outros, numa espécie de cartografia mental.

(1) Santos e Visagens, Eduardo Galvão, Companhia Ed. Nacional, 1976.

(2) Órfãos do Eldorado, Milton Hatoum, Companhia das Letras, 2008.

AMAZON, NAU-FRÁGIL III



"AQUI TUDO BÓIA, FLUTUA, MAS NÃO EXISTE ESCOLA NAVAL"


Sexta 10 de outubro de 2008.


Outra vez, deu nos jornais e na TV e internet... Naufrágio na Amazônia.


“A Capitania dos Portos de Parintins (AM), o Corpo de Bombeiros e voluntários levaram toda a madrugada para resgatar os cerca de 80 passageiros do barco “Cidade de Urucará”, que naufragou ontem à noite no rio Amazonas, próximo à cidade de Parintins, a 369 km de Manaus.”


“Segundo informações de passageiros, a embarcação estava carregada com muito cimento e tijolos dentro do porão, o que teria contribuído para o naufrágio, mesmo com a tentativa de amarrar o barco nas árvores situadas na margem do rio.”


“A Marinha informou que será aberto inquérito para investigar o acidente...” Etceteras.


RECORRÊNCIA... TRAGÉDIA


A canoa virou e para o fundo levou seus passageiros. De quem é a culpa? No imaginário da Amazônia arcaica existe um lugar remoto e aquático, “o povo do fundo do rio” (1) (2).

Todo mundo sabe, ao menos os mais antigos, aqueles que não têm medo de assombração... Tem muito senhor de cabelos brancos, com a pele encardida, enrugada, feito a hidrografia amazônica.


1. Não faz muito tempo, um barco foi ao fundo. A balsa bateu e ele adernou, tombou de lado, a água entrou e como as portas das cabines só abrem pra dentro, não teve jeito de empurrá-las, a força da água afogou todo mundo que se encontrava descansando na cabine.


2. Outro dia, um barco totalmente irregular naufragou, já havia sido multado pela Capitania dos Portos do Amazonas, e mesmo assim foi deixado sob custódia por nada menos o próprio proprietário, este se comprometeu a corrigir as irregularidades antes de colocá-lo disponível a navegação, simplesmente o barco não havia sequer bóias salva-vidas.


CREONTES IRRESPONSÁVEIS


Os donos destas embarcações, como se eles tivessem o poder sobre o destino, irresponsavelmente resolvem navegar, carregando dezenas de incautos passageiros.

Resultado: cenas horríveis dos corpos sob o abraço dos afogados. Muitos deles são encontrados semanas depois, a 80 quilômetros ou mias de distancia do local aonde aconteceu à tragédia fluvial...


ESTATISTICAS DOS MORTOS


Todos os anos, sem falta, o numero de mortos em naufrágios na Amazônia sequer viram estatísticas. Não se sabe e nem se conta o número de embarcações que vão ao fundo, como estivessem numa batalha naval sem confrontos ou adversários, quer dizer, sem levar em conta a ganância, o descaso e a irresponsabilidade de uma política administrativa dos transportes que navegam pela hidrografia amazônica.


ESCOLAS NAVAIS PRAQUÊ?


O pouco caso que se faz com a potencialidade desta via natural - a sua utilização e instrumentalização. Não existe incentivo para um conhecimento técnico e cientifico, por exemplo, uma Escola Naval na Amazônia, como formação educacional. Ainda hoje esse negócio vital para a circulação de riquezas na região é um conhecimento passado de “pai-pra-filho” ou do mestre ao aprendiz.


Os modelos que circulam pelos rios são os mesmos que já navegavam há mais de setenta anos e são popularmente conhecidas como "motôr-de-linha".


Os seus “comandantes”, denominados de “práticos” não utilizam mapas (mesmo porque os mapas oficiais são incorretos) e nem bússolas, mas através de mapas configurados em suas cabeças, a partir da relação de vida, do homem com os lugares ou do homem com os outros, numa espécie de cartografia mental.


(1) Santos e Visagens, Eduardo Galvão. Companhia Ed. SP,1976.

(2) Orfãos do Eldorado, Milton Hatoum. Companhia das Letras, 2008.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

BERLIN WALL & WALL STREET



A CASA CAIU


Os muros são barreiras sólidas palpáveis ou não, podem até ser virtuais, mas eles caem, transformam-se em ruínas, relíquias, permanecem intactos em nosso imaginário.


Senão vejamos: a "Muralha da China", o “Muro das Lamentações”, o “Muro do Estado de Israel contra os Palestinos”, o “Muro dos Estados Unidos da América do Norte contra os Mexicanos” e o MURO DE BERLIM, esse sem dúvida, é o mais visível de todos os muros. Ele caiu em 1989 e com ele a guerra fria e que na verdade significava propostas divergentes para gerir a riqueza produzida pela humanidade: CAPITALISMO OU COMUNISMO? ESTADO OU MERCADO?


E "Wall Street", este outro muro, é uma rua ou um beco sem saída? Qual é mesmo a sua origem? (1)


RELAÇÕES CARNAIS COM O MERCADO PREDADOR

Depois do festejado melancólico fim, as ruínas do MURO DE BERLIM viraram objetos de consumo, seus fragmentos são vendidos como souvenir.

O mundo naquele período histórico entoava loas exaltando a economia neoliberal, o Acordo de Washington alinhava a todos no mesmo princípio da globalização alavancada pela revolução tecnológica que avançava quebrando os paradigmas das fronteiras – a infovia e as suas máquinas de convergir mídias.

O discurso dos líderes (Reagan, Thatcher e o Papa João Paulo II) daquela época substituía implacavelmente o Estado pelo Mercado e o exemplo a seguir era os Estados Unidos da America do Norte. Em nome da propriedade privada transformou-se as conquistas sociais em pó, regrediu-se a cada um por si, danem-se os outros.

O coletivo não existe somente o individualismo. A família, a nação e o emprego transformaram-se em moeda volátil, virtual. Paga-se para se viver, o que interessa são as aparencias (e elas enganam), personalidades midiáticas confundem-se com ações altruísticas em causa própria.


Como resultado temos o Capitalismo predador e no seu rastro o aumento do desemprego, as transformações dos subúrbios das grandes cidades em guetos, a paisagem natural exaurida transformadas em deserto, as classes trabalhadoras em classes marginais e perigosas, a informalidade da economia como um orgânico vírus de corrupção da sociedade. 


HEGEMONIA DO DÓLAR & DEFICIT NORTE - AMERICANO

Países como o Brasil, Argentina e México viram seu patrimônio de conquistas da gestão do seu patrimônio econômico volatizar-se em propriedades virtuais, sem nenhuma cerimônia. Por aqui se vendeu quase tudo, só não conseguiram desfazer-se da Petrobras.
Na Argentina não sobrou nada e a consequencia foi uma paisagem de empobrecimento e humilhação com que os argentinos tiveram que enfrentar. Os executivos do FMI (Fundo Monetário Mundial) desembarcavam como fossem os inquisidores medievais, ditavam as regras e pouco estava ligando para a calamidade social causada por suas ações intervencionistas.



A MÃE MERCADO X O PAI ESTADO


Os ditames de Wall Street entoavam o coro imperial dos índices de riqueza no mercado mundial. Livre do outro muro (Berlin Wall) não havia comunista debaixo da cama, mas agora eram os terroristas islâmicos. E em nome desta “guerra santa” torram-se trilhões de dólares, gastou-se o que tinham e o que não tinham, apostou-se no milagre do mercado, e este não veio. O que aconteceu todos já sabe e começa-se a vivenciar, é o quebra-quebra do sistema financeiro.

Diante deste quadro "entre - muros" do centro nervoso do capitalismo mundial nos leva a fazermos uma relação metafórica com MURO DE BERLIM, este feito de pedra, ferro e medo com este outro aparentemente mais sólido e confiável - WALL STREET, a famosa Rua em Manhattan, NY, onde ficam a Bolsa de Valores (New York Stock Exchange) e o Banco Central dos EUA (Federal Reserve Bank).

YOU CAN'T TAKE IT WITH YOU
DO MUNDO NADA SE LEVA

Passados todos os fatos que compõe a aventura arrivista dos investidores e especuladores do capital financeiros, estes, sempre demonstraram que não estão nem aí para os outros, afinal, “o capital não tem pátria”. O crime não compensa, quando é descoberto. A cultura dos Estados Unidos o personagem do ladrão, dos criminosos, daquele que se locupleta com o trabalho alheio é celebrado como uma recorrente figura épica, basta lembrarmo-nos dos filmes de gângsteres ou alguns outros que perfazem essa trajetória: Do Mundo nada se leva (Frank Capra), Era uma vez na América (Sergio Leone), Gangs de Nova York (M. Scorcese), O Insaciável (Edgar G. Ulmer), O Poderoso Chefão (F. F. Coppola), Wall Street (Oliver Stone), filmes emblemáticos sobre o poder paralelo baseado na corrupção, triunfo, glória e decadência.

ABBIE HOFFMAN and WALL STREET

Diante desta perversa imoralidade do mercado financeiro norte-americano, o qual denominam a traição ao “poupador” como “subprimes”, não se pode deixar de massagear a memória ao lembrarmos-nos daquela ação política em Wall Street, refiro-me a agosto de 1967 quando o líder do movimento underground Abbie Hoffman (2) (3) para demonstrar sua indignação contra o reino do dinheiro acima de tudo, vestido com uma roupa feita com a bandeira norte-americana, num gesto anticapitalista postou-se no balcão dos investidores jogando sobre eles - no “pregão” do New York Times Stock Exchange - notas de um dólar, fala-se em mil dólares, Hoffman declarou apenas 300 dólares que lhe foi doada pelo músico Jimi Hendrix.

NOTAS


(1) Em 1626 o holandês Peter Minuit fez um negócio inimaginável, comprou por uma ninharia (literalmente)
a “ILHA DE

MAN-A-HATT” dos índios Algonquianos, justamente contra quem foi construída, em 1653, uma muralha de madeira. A muralha foi destruída em 1699 e a lembrança ficou só no nome da rua – “Wall Street”.



(2) Abbie Hoffman (1936-1980) foi o fundador do partido Internacional da Juventude (Yippie). Entre as suas ações está a tentativa de fazer levitar o Pentágono através da meditação; a ameaça de jogar LSD nos reservatórios de água de Nova Iorque. Foi preso diversas vezes, procurado pelo FBI viveu na clandestinidade vários anos. As suas espetaculares intervenções políticas misturavam ousadia teatral, provocações irônicas com extrema irreverência política.


(3) "Roube esse filme" (Steal this movie), EUA, 2000. Dir. Robert Greenwald (cinebiografia de A. Hoffman)

PEQUENA FILMOGRAFIA

(1) DO MUNDO NADA SE LEVA (You Can't Take It With You)
EUA, 1938
Dir.: Frank Capra

(2) ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (Once Upon a Time in America)
Itália / EUA, 1984
Dir.: Sergio Leone

(3) GANGS DE NOVA YORK (Gangs of New York).
EUA/Alem. /Itália/Grã-Bretanha/Holanda, 2002.
Dir.: Martin Scorsese

(4) O INSACIÁVEL (Ruthless)
EUA, 1948
Dir. Edgar G. Ulmer

(5) O PODEROSO CHEFÃO (The Godfather)
EUA, 1972
Dir.: F. F. Coppola

(6) WALL STREET
EUA, 1987
Dir.: Oliver Stone 

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

ATHOS BULCÃO E VOLPI

ESTUDANTES E A IGREJINHA


Athos, quer dizer em grego, "aquele que nada teme".



Conto essa história em homenagem ao artista Athos Bulcão (1918-2008). Um dos projetos em que deixou a marca da sua criatividade foi na “Igrejinha da cento e oito sul”, o lugar de "encontro" e “desencontros” estudantis.



Em 1968 encontrava-me recém chegado em Brasília, perdia-me observando maravilhado àquelas edificações monumentais manchadas com o vermelho da poeira. Por todo lado havia referências da refundação da nossa brasilidade, e foi justamente naquele ano que a ditatura reagiu implacavelmente contra essa perspectiva histórica. Aliás, como todas as outras coisas no dia-a-dia da nação submetida à censura, mas neste caso, não havia como escondê-las.


ATHOS, VOLPI, IGREJINHA

Em 1957, a “Igrejinha da 108” foi a primeira igreja no Plano Piloto a ser construída, e foi também o primeiro trabalho do artista Athos Bulcão em Brasília, para nunca mais sair desta cidade que ajudou a construir. Este projeto surgiu como paga à N.S. de Fátima de uma graça alcançada pelo Presidente Juscelino e dona Sara Kubitschek. Oscar Niemeyer projetou-a inspirado no chapéu usado pelas Irmãs Vicentinas.


Athos Bulcão é o autor dos azulejos no exterior da “Igrejinha”, ele criou figuras estilizadas da pomba do Divino e da estrela da Natividade.


O afresco assinado pelo artista Alfredo Volpi (1896-1988) e que decorava a parte interna foi censurado. Conta-se que a esposa de um dos "bruxos do poder" daquela época não se emocionava com anjos misturados a singeleza das bandeirolas populares das festas de São João. Um dia o afresco do Volpi sumiu (continua censurado) por debaixo de uma passada de tinta. Quanto sacrilégio!



ATHOS – TEATRO NACIONAL CLAUDIO SANTORO

As obras de Athos Bulcão são onipresentes em Brasília, nos palácios (Alvorada, Planalto, Itamaraty), prédios públicos (Congresso Nacional), hospital (Sara Kubitschek) e em muitos outros lugares, mas a sua intervenção no projeto do Teatro Nacional, sem dúvida, se não é o mais importante, é uma das suas obras recorrentes no inconsciente coletivo dos brasilienses.

Aqueles blocos em relevos do Teatro Nacional criam uma simbiose entre a edificação e os adornos que lhe dão uma expressividade arquitetônica singular, remetendo-o às monumentais construções imperiais - as pirâmides maias e astecas. Como a construção de Brasília é uma refundação da nossa nacionalidade, neste caso, a criatividade da dupla Niemeyer e Bulcão assume uma dimensão excepcional, por homenagear numa única obra todo o continente latino americano.





No filme "A Idade da Terra"(1980) o cineasta Glauber Rocha (1939-1981) deu-lhe significados metafóricos.

terça-feira, 22 de julho de 2008

O CINEMA É UM SÓ II


DE QUE SERVE TEORIAS PARA O DOCUMENTÁRIO? (**)
Sergio Santeiro santeiro@vm.uff.br

Andando na rua, o real pulando na sua frente como um gêiser: “me filma, me filma”... e passa. Passou-se já era não dá pra cortar pra contra campo, plano de cobertura e outros quebra-galhos. O que fazer com a câmera na hora, que teoria vai dizer.

Mas as teorias, as reflexões, são importantes não para explicar, mas para buscar entender o porquê dos barcos movimento. Não tenho como não lembrar-me de minha querida quase amiga Ana Cristina César (1), poetisa esquisita, aguda e ferina a implicar comigo em seu livro "Literatura não é Documento”: a literatura é imanente, não existe em outra forma de expressão.

Fico meio implicado, fui um quase literato que migrou para um quase cinema: gosto do cinema como documentário, mas ela tinha razão, o documentário não quer ser senão a boca da tela a sorver o gosto de romances, poemas e estórias, tomar a literatura como antecedente, anterior, referencia a situar-nos no mundo que não cabe em lugar nenhum nem na tela e nem no papel.

A minha geração teve uma trindade de cineastas natos, e não sou em desmerecer ninguém, muito menos eu: Júlio (2), Rogério (3) e Neville (4) dão-me a impressão de pensar em cinemês, sem pré-formações literárias apesar de Rogério antes de filmar já ter se destacado na crítica de cinema, mais cinema que crítica, como alguns de nossos mestres. Não os vi pensar em documentário embora sejam seus filmes, como muitos, verdadeiros documentários de sua contemporaneidade. Mas pra continuar precisamos fazer um trato: não falemos aqui nunca mais em ficção que é medida unidimensional da fantasia individual.

Paulo Emílio (5) em sua sagesse referia-se a filmes posados e filmes naturais. Tenho pra mim que não era nada apreciador dos naturais, o que gostava era do posado. E Flaherty (6), Cavalcanti (7) o que fizeram era reconstituir em posado o que sua observação visual ou intelectual observava na realidade.

Poderemos falar de Eisenstein (8) e seu cinema imperial posado que se agigantou na propaganda do estado a arrastar na miséria o Vertov (9) a realidade ao natural transfigurada pelo “cineôlho” na apreensão do cotidiano na comunidade socialista construindo-se, era o documentário. Posado ou natural, os dois braços da câmera na cabeça, as duas faces da moeda, e existe uma moeda de uma só face? Dizemos que uma é cara, a outra é coroa, ambas nobres como a missão de carregar o cinema nas costas como um tripé. O que é uma e o que é outra. E agora temos o nosso querido Coutinho a brincar como se a conhecesse com a minha dramaturgia natural.

A questão fundamental é a de como lidar com a realidade externa para que ela não exploda como a bolinha de sabão.

Grande e fundamental momento a transfiguração de dona Elisabeth (10) na manhã de depois que foi filmada e viu-se, devolveu-se a sua personalidade clandestinizada pela tragédia incessante que como soube nem depois cessou. E fêz Coutinho como se deve fazer e cobra brilhantemente Jean Claude (11) tem-se que devolver ao seu dono a imagem apreendida no filme.

Os primitivos e os árabes ao que saiba sentem sua alma aprisionada pela imagem quando se os retrata. Devem ter razão. Antes de mais nada é preciso concordar: todos têm sua razão. Não adianta ficar disputando razões. Quando a vida fica por um fio, as razões enlouquecem. E nós, documentaristas de escola, não podemos ficar presos na armadilha de que o que devemos é moldar as realidades a nossa imagem. Melhor moldarmo-nos nós que é como se faz o melhor cinema, posado ou natural.

No momento em que escrevo quanta coisa não queríamos ter filmado. Não importa, podemos recriar no posado contanto que não lhe imponhamos nossas fantasias. Saber ver, saber acompanhar, saber filmar como a maravilha preciosa de Humberto Mauro, o "João de Barro", que recorta e recompõe o ninho para filmá-lo dentro. E ao fim oferece o espetáculo nunca visto de um arranha-céu de ninhos de barro, uns sobre os outros como um prédio de apartamentos.

Qual fantasia previu semelhante imagem. Não queiramos que o cinema natural ou posado seja o que queremos que seja o que é e como é. E as teorias que corram atrás querendo entendê-los e não explicá-los.
Assim seja.


(*) V. Mayakovsky, 1918. Cartaz filme: “Acorrentada pelo filme”.

(**) Originalmente postado no dia 02 de novembro de 2007, às 19h40:

CINEMABRASIL - Lista debatendo Técnica, Linguagem, Mercado do Cinema Brasileiro cinemabrasil@cinemabrasil.org.br

(1) “Literatura não é Documento”, de Ana Cristina César (1952-1983), MEC / Funarte, RJ, 1980. Uma pesquisa sobre documentário e literatura no cinema.
(2) Julio Bressane, Rogério Sganzerla (1946-2003) e Neville D’Almeida.
(3) Paulo Emilio Salles Gomes (1915-1977)
(4) Robert Flaherty (1884-1951)
(5) Alberto Cavalcanti (1897-1982).
(6) Sergei Eisenstein (1898-1948).
(7) Dziga Vertov (1895-1954). Pioneiro do “cinema militante, adepto da estética de desconstrução”, ele acreditava que o realismo cinematográfico é uma ilusão.
(8) Elizabeth Teixeira. É a personagem real do filme de Eduardo Coutinho “Cabra Marcado Para Morrer” (1984), esposa de João Pedro, líder camponês assassinado em 1962. As filmagens deste documentário foram interrompidas pelo golpe Militar de 1964, e D. Elizabeth e os seus filmes somem na clandestinidade. Coutinho retoma as filmagens em 1982 e realize aquilo que a personagem mais sonhava: reencontrar a família.
(9) Jean Claude Bernardet

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.