quinta-feira, 29 de outubro de 2015

EL BOTÓN DE NÁCAR / O BOTÃO DE PÉROLA


"O BOTÃO DE PÉROLA" (El botón de nácar - 2015), um doc Patrício Guzman

Diante de tantos filmes da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é difícil assistir à todos, mas este filme realmente é uma "pérola", aliás, como tem sido os filmes do cineasta chileno P. Guzman, um mestre em contar histórias com poesia, política & tantos outros conhecimentos. 


Em "Nostalgia da Luz" (2010), era o deserto e neste "O Botão de Pérola" é o mar. 

Os fatos hediondos acontecidos nos 4.500 km do litoral chileno, entre as águas do Oceano Pacífico e as areias do Deserto de Atacama...Qualquer vestígio (o mínimo imaginário) revelará segredos escondidos, incluso os crimes aí cometidos. 

E todos eles tiveram apenas o céu como testemunha. 

O mar como o inconsciente coletivo. 

Filmaço!

terça-feira, 20 de outubro de 2015

MASP: OS BARDI, LUIZ HOSSAKA E LEON CAKOFF


O Museu de Arte de São Paulo - MASP está completando 68 anos. Talvez seja o prédio mais visível no cotidiano dos brasileiros; quem sabe depois do Congresso Nacional. Quase todos os dias o MASP aparece no noticiário das diversas mídias, tal foi a escolha da população paulistana por este espaço público como um lugar para demonstrar as suas inquietações. 
MASP- av. Paulista
É comum vê-se um solitário ou multidões protestando em frente ou debaixo do "vão livre". Mas ali, dentro do MASP, encontra-se um tesouro, como consequência do encontro entre o casal Lina e Pietro Maria Bardi com um dos empresários mais poderosos dos anos 40/50/60 (Assis Chateaubriand). O resultado é um acervo de obras de artes que somam 8 mil peças: Van Gogh, Delacroix, Gauguin, Renoir, Picasso, Monet, Cèzanne, Botticceli, Modigliani, Matisse, Chagall, Bruguel, Hieronymus Bosch, Ticiano, Lasar Segall, Portinari, Velazquez...

Não gostaria de ficar escrevendo aqui sobre a obviedade desta milionária coleção, mas, contar-lhes uma história sobre duas personalidades que fizeram parte da história do MASP, refiro-me a Luiz Sadaki Hossaka e Leon Cakoff. Cada um em sua função contribuíram o mais que puderam com o trabalho desenvolvido pelo casal Bardi (Lina e Pietro). Não que tenha existido outros personagens, mas opto para relembrar estes dois com quem tive um contato afetivo. 
Glauber Rocha, Lina Bo Bardi e Luiz Hossaka - Exposição "Bahia no Ibirapuera", 1959
O Luiz ( "japonês")  trabalhou no museu durante 59 anos, quando faleceu, em 2009, aos 81 anos. Esteve presente em suas atividades quase desde a sua fundação, chegou como um estudante, vindo do interior para integrar um curso de artes promovido pelo museu, logo depois tornou-se necessário ao casal Bardi. Fazia de um tudo, secretário, assistente, motorista, fotógrafo (é dele o acervo fotográfico sobre a construção até a inauguração do MASP - avenida Paulista). Quando a Lina ou o professor Bardi viajavam juntos ou sozinhos ao interior do Brasil, era o Luiz quem os acompanhava. Quando uma ilustre figura artística ou política vinha visitar o museu, Luiz sempre estava a postos com a sua máquina fotográfica. Ele também viajava sozinho ao exterior, por exemplo, as primeiras viagens ao Japão articulando os interesses museológicos entre aquele país e o Brasil. 

Luiz, aparentemente fechado, mas quando se ganhava a sua confiança...aí era o paraíso. Mantive com ele uma amizade de todo sempre, houve uma certa época nas décadas 80 a 90 que tínhamos encontros periódicos nos finas da tarde para tomar cerveja. Nestas ocasiões, ele se revelava uma fonte inesgotável dos causos sobre o Museu, uma autêntica testemunha ocular. Luiz tinha um lugar privilegiado para confirmar sobre lendas e mitos que envolvia a estratégia do professor Bardi e Assis Chateaubriand para formar a coleção do MASP. Luiz, também, entre muitas coisas foi o pioneiro em fomentar a fotografia, por incentivo do professor Bardi instalou um laboratório fotográfico dentro do museu. Tinha um gosto apurado e sabia identificar o potencial de um jovem artista. Neste sentido era generoso. Ele era o "Tigrão" como chamava-o Leon Cakoff, outra figura que fez história no MASP. 
Pietro Bardi - garoto propaganda da Mostra Internacional de Cinema SP


Leon Cakoff
Leon, ainda jovem, em 1974 entrou no museu como programador do Departamento de Cinema do MASP e na comemoração dos 30 anos (1977) do Museu, ele criou a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo que cresceu tanto que teve que sair do MASP e seguir com as suas próprias pernas. Mesmo que o Leon tenha declarado que o Professor Bardi tinha ciúmes da Mostra, ele deixou-se fotografar carregando um cartaz fazendo propaganda da Mostra nas ruas centrais de São Paulo. E aqui, entra o acaso novamente. 

Em 1983, depois de ter realizado 2 documentários sobre os índios Sateré-Mawé, em visita à São Paulo tive a oportunidade de exibi-los numa sessão privada na Casa de Vidro (residência dos Bardi). Ao final, a Lina e o professor Pietro comentaram que mais pessoas deveriam conhecer estes trabalhos e sugeriu que fosse no dia seguinte ao Museu. Quando cheguei lá, fui recebido pelo Leon, ele pediu para assistir e perguntou-me se tinha uma sinopse, fotos e cartaz para a divulgação. Como não havia previsto esta possibilidade tive que correr atrás. Com a arte final do cartaz nas mãos levei ao conhecimento do Leon e que por sua vez levou-o ao professor Bardi e que chamou o Luiz Hossaka. E, eles, por fim, aprovaram. Saí do MASP cantando e dançando de felicidades. Mas o melhor viria em seguida, ganhei a amizade tanto do Leon como do Luiz. 
cartaz dos 2 documentários exibidos no auditório do MASP



















Yeda Oliveira, Aurélio Michiles e Luiz Hossaka, 2008
Em 2000, o Leon sugeriu-me realizar um documentário sobre o "Tigrão", a idéia era registrar os causos relatados em nossas conversas com o Luiz, ele era a memória viva do Museu. A Lina e o professor Bardi já haviam partido...restava o ponto de vista desta privilegiada testemunha. Infelizmente não aconteceu. Todos já partiram e estou aqui contando esta historia para comemorar os 68 anos do MASP. Como escreveu Leon, num texto de despedida, em 2011: 

"A memória, meu único capital."  




segunda-feira, 19 de outubro de 2015

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

GRANDE OTELO...UM ATOR DOS SÉCULOS


Faz um século que nasceu Sebastião Bernardes de Souza Prata, para os incautos, este senhor ficou conhecido como GRANDE OTELO, eternizado no cinema e na TV. 

Tive um único encontro pessoal com ele, foi na inauguração de uma sala de cinema em Manaus que levava o seu nome, na ocasião ele me deu um autógrafo, sumido na poeira do tempo. 


Mas, guardo a sua soberba participação nos filmes que participou como protagonista ou até mesmo em pequenos papéis, e em todos eles a sua presença tornou-se inesquecível. 

Por exemplo: a sequencia da morte do personagem "Passarinho" no filme "Amei Um Bicheiro" (1952), do "Cachaça" no "O Assalto Ao Trem Pagador" (1962)" ou do sambista "Espírito" no "Rio, Zona Norte" (1957). Só para ficarmos nestes três exemplos aonde ele pôde mostrar o seu talento dramático e não somente o de cômico.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

CINEASTAS DO REAL...AURÉLIO MICHILES CARA-A-CARA COM AMIR LABAKI


NÃO PERCAM!

AURÉLIO MICHILES CARA-A-CARA COM AMIR LABAKI

É a entrevista desta semana do Programa "CINEASTAS DO REAL". 

ESTRÉIA DIA 07, QUARTA-FEIRA, ÀS 23h30 / Canal Brasil.

Horários alternativos:

Dia 10, sábado, às 16h30
Dia 13, terça-feira, às 12h30




sábado, 3 de outubro de 2015

CINE GUARANY...By by cinemas de ruas


A Ancine anunciou neste inicio de outubro, a existência de 3 mil salas no Brasil. É uma marca histórica da retomada da rede de exibição no país, ainda carente não somente destas salas formais, mas, sobretudo de espaços alternativos aonde a produção nacional possa ficar ao alcance da curiosidade dos seus potenciais espectadores.

E como o cinema é o retrato da sociedade, as atuais salas, existem na clausura das cidadelas neo-feudais (shopping center). Enquanto que o cinema de rua foi varrido para a memória do século XX.


Em Manaus, guardo na minha memória de infância vários destes cinema, mas o Cine Guarany tem lugar privilegiado na minha (nossa) memória manauara. O 
Guarany fez história, cantada em prosa e verso, virou lenda. É verdade que quando me dei conta, ele já se encontrava rumo à decadência, mas nem por isso deixei de ama-lo. 

A sua história inicia-se com o nome Theatro-Cinema Alcazar...frequentado somente pela elite, depois se transformou no lendário CINE GUARANY e aí se tornou num lugar preferido do povão. Como sempre e ainda mantendo as características originais influenciada pela arquitetura mourisca - como o próprio nome indica, Al-cazar -, localizava-se ao meio de um bosque, um oásis de frescor que oferecia conforto aos usuários: 

"Ventilado Entre Bellos Jardins Arborizados". 

Nas sessões noturnas, na calorenta Manaus, as portas da sala se mantinham abertas e se podia do lado de fora dos seus muros, ouvir os diálogos e tudo mais que a imaginação poderia alcançar sobre um filme.


Finalmente, em 1984, mesmo depois de um grupo de amazonenses mostrarem-se contrários ao desmanche daquele importante legado arquitetônico, o Cine Guarany veio abaixo para dar lugar a uma agência bancária, será que não poderiam adapta-la a uma agencia do Banco Itaú? Não seria uma sofisticação de manutenção e preservação histórica? Sofisticação...era justamente isso que faltou e como canta Caetano Veloso:

"Triste Bahia (Manaus), oh, quão dessemelhante/A ti tocou-te a máquina mercante/Quem tua larga barra tem entrado/A mim vem me trocando e tem trocado/Tanto negócio e tanto negociante."

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.