sábado, 24 de dezembro de 2016

SUCATEIRO QUE FEZ DA SUCATA...UM CINEMA



José Luiz Zagati, morreu neste ano-2016. Soube através de um obituário na FolhaSP. Um sucateiro apaixonado por cinema e que fez da sua casa uma sala de exibição de filmes em Taboão da Serra/SP.

Quando entrevistei (2013), o seu espaço encontrava-se em decadência. Mas, ele sempre entusiasta, mesmo assim já havia jogado a toalha, não havia grana. A família, era visível, queria que ele encerrasse de vez aquela "aventura", aquilo sangrou as economias da família, as filhas via o cinema como uma espécie de adversário. Neste sentido, creio, depois da sua morte, eles devem ter devolvido para a sucata, o patrimônio que Zagati construiu da mesma sucata. 

Como escreveu José Luiz Vieira, um incansável pesquisador do cinema brasileiro: "Uma história, enfim, que se repete por todo o país (e pelo resto do mundo também), infelizmente. A gente fica impotente pois não tem como intervir (e nem pode e nem cabe) quando a família não tem posses, não tem sensibilidade e interesse por nada daquela ''velharia"...Triste mesmo. Volta e meia me vejo em situações mais ou menos parecidas. Daria para escrever um conto, um ensaio grande..."  

* foto: André Lorenz Michiles



segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A PERVERSA LEI DO SEXAGENÁRIO * 1885 a 2106

NEO-ESCRAVAGISMO NEOLIBERAL




Qual a semelhança entre a Lei do Sexagenário (1885) que alforriava os escravos com mais de 60 anos, e a atual proposta de reforma da Previdência que quer instituir a idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres - sem distinção? Pense nisso.

domingo, 27 de novembro de 2016

FIDEL CASTRO, A HISTÓRIA QUE PERMANECE


Fidel Castro atravessou o oceano das utopias, mas deixa uma marca indelével na história da humanidade, sobretudo da América Latina, será sempre uma pedra no sapato dos EUA, um assombro no sonho da "american way of life". 


A imagem de Fidel é indissociável a outra imagem ícone de Che Guevara, este ficou jovem para sempre, enquanto que Fidel, acompanhamos envelhecer. 

Em 2014, nesta última vez que estive em Cuba, observei na conversa com os jovens,  estes, quando se referiam a Fidel Castro, era com sentimento de respeito como nós temos com os nossos avós. Não havia aquela verve revolucionária, mas, também em qual lugar do mundo de hoje, existe o fervor pela transformação?

Fidel, é referência emblemática do século XX, talvez e recorrendo a uma expressão contemporânea, ele tenha sido uma das maiores vítimas da "pós-verdade", foi a pessoa que mais vezes sofreu tentativas de assassinatos, entrou para o Guinness, até 2006 havia sofrido 638 tentativas de assassinatos, na maioria conspirado pela CIA: 

Charutos e milk-shakes envenenados, bola de baseball com explosivos, substâncias químicas que fariam cair a barba, sedutoras espiãs, LSD etc. 


Ao final, mas no meu imaginário a revolução cubana ainda tem como uma das suas fortes referências o filme "Memórias do Subdesenvolvimento" (1968) de Tomás Gutiérrez Alea, com música de Leo Brouwer. Neste filme, se encontra o conflito que permanece...os desafios para os que ficam talvez, sejam os mesmos para os que partiram: CUBA - os cubanos.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

SNOWDEN - UM FILME DE OLIVER STONE


Quem ainda não assistiu "SNOWDEN" filme de Oliver Stone, não perca tempo...

Eis um filme sobre a existência reveladora das ameaças contra as nossas conquistas individuais e coletivas, através das tecnologias contemporâneas. 


O intrigante sub-título "Herói e Traidor", nos levar a pensar que alguém quer nos fazer duvidar da integridade moral do personagem. Mas, isso não passa de mais uma tentativa para desqualificar todas aqueles que tentaram desmascarar a tirania que tenta moldar o destinos dos humanos a imagem e semelhança dos que controlam o poder. A paranóia da vigilância onipresença, os olhos e ouvidos do sistema se encontram todos em todos os lugares. Não duvide disso.


Por exemplo, o mito de Prometeu, esse herói trágico que não mediu consequências para se tornar um referência simbólica da luta pelas liberdades, pelas artes e as ciências como conhecimentos inerente `a toda humanidade. 

SANTO AGOSTINHO


"A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a muda-las." 

Santo Agostinho

MARTÍRIO - O FILME


"Martírio", filme de Vincent Carelli Juliana Soares de Almeida e Ernesto de Carvalho não é somente um tapa na cara, mas, muito mais... São 160 minutos para abrir os olhos, coração e mente `a questão vivenciada pelos povos indígenas faz mais de 5 séculos. Logo que me deparei com o título, considerei cristão demais para o meu gosto... Estava equivocado, não existe outro título para expressar essa secular marcha genocida. Martirológio foram aqueles cristãos sordidamente assassinados: cabeças cortadas,mortos `a pedradas, jogada aos leões, esquartejados, trucidados por gladiadores romanos. 
E, este foi, é a mesma voracidade assassina contra os povos indígenas. 


Os motivos está claro na própria voz dos índios, eles tem a consciência complexa do seu martírio, é o confronto de um sistema político-econômico que visa o lucro exorbitante contra outro que tem como objetivo viver a vida sem lucrar com vida de outro. 



Os povos indígenas antes da chegada dos "brancos" viviam, a sua maneira, muito bem...Caçavam, pescavam, colhiam, cultivavam e celebravam essas dádivas da natureza com respeito religioso. O rigor da pesquisa e da montagem nos leva a esta viagem na memória dos tempos e nos confronta aos discursos dos dois lados em questão:

1. Aqueles que odeiam os povos indígenas e os veem como empecilho para lucros sem limites;

2. Os povos indígenas (aqui os Guarani-Kaiowá) que defendem os seus princípios que aos olhos destes tempos parecem ingênuos, mas numa só frase dita por um deles, em 1988, é reveladora: 

" O que tá pegando a gente é o capitalismo."

A PROFESSORA E A POLÍCIA MILITAR



A professora carioca Lenita Oliveira ministra aula de boas maneiras para a Policia Militar brasileira. Uma imagem que vale mais que todas as reportagens da grande mídia: jornais, revistas, TVs... 

"- Não duvido que um dos meus alunos, seja filho de algum de vocês."


    Foto: Fabio Motta/Agencia ODIA

PÓS VERDADE


TRUMP PRESIDENTE DOS EUA/USA

" A história é um pesadelo do qual tentamos acordar." 

"Ulisses" / James Joyce

domingo, 16 de outubro de 2016

BOB DYLAN, O DEMIURGO DO SÉCULO XX É NOBEL LITERATURA 2016


Ao meio dos retrocessos e da caretice global, eis uma excelente notícia: 
Bob Dylan, Prêmio Nobel Literatura 2016. 

A direita aprumando o imaginário deste novo século e aí...PIMBA! Dylan reaparece e todo mundo descobriu que em algum lugar da memória existe um mundo de utopias transformadoras. Não é pouca coisa. Mesmo assim houve uma gritaria de opiniões desencontradas - a favor e contra, mas como se trata de Bob Dylan, nada disso poderia ser diferente, né mesmo? Dylan como a sua obra, traz o húmus da ambiguidade, das metáforas, do simbólico quebra-cabeças de interpretações que através das suas letras (poesia) e canções (músicas) mudou a percepção das pessoas em todo mundo, ele foi um farol do convulsionado anos 60.

O Nobel sempre foi polêmico, envolto em intrigas e injustiças... Teve premiados que recusaram a premiação: Jean Paul Sartre-Literatura1964, Le Duc Tho, presidente do Vietnã do Norte que recusou o Nobel da Paz 1973. Até, o poeta Carlos Drummond de Andrade, quando se ventilou que estaria entre os candidatos, mas diante das exigências de documentos que precisava enviar, aborreceu-se e pediu para interromperem o processo de investigação da sua obra. Teve outros que foram boicotados por ações políticas (Boris Pasternak -1958, pressionado pela URSS). No Brasil, a Ditadura ficou incomodada com uma possível indicação do Nobel da Paz aos Irmãos Villas-Boas. Durante o nazismo Hitler quis implodir essa premiação. Mas, o Nobel segue, premiar Bob Dylan, foi uma surpresa, uma irreverência a altura do premiado, neste sentido é uma das boas coisas deste evento mundial. No entanto, o poeta e músico Leonard Cohen indagado sobre esta premiação declarou: "Dylan é maior que o Nobel".



No cinema quantos filmes hoje clássicos foram esnobados por filmes premiados (Cannes, Veneza, Berlim, Oscar etc) e que hoje sequer ocupam um cantinho na historia do cinema? Mesmo assim estes festivais continuam de alguma forma fazendo história. A cultura norte-americana no século XX foi muito forte, alimentou-se do melhor que se fazia na Europa antes e depois das grandes guerras e produziu referências emblemáticas em todas as áreas, inclusive políticas, como não reverenciar o amálgama da contra-cultura: poesia, literatura, música, movimento indigenista, feminista, direitos civis, afro-norteamericanos - panteras negras.




No Brasil, um dos seus maiores divulgadores é o ex-senador e atual vereador Eduardo Suplicy: "How many roads must a man walk down/ Before you can call him a man". (Quantas estradas um homem deve percorrer/ Pra poder ser chamado de homem?)

MASP, LINA BO BARDI & RUBENS GERSCHMAN



Levado pelo meu filho Antonio (14), mais uma vez visitamos o acervo do MASP.  Este é um lugar de grande intimidade para mim, frequento-o por mais de 4 décadas, conheço razoavelmente parte dos seus meandros. Aonde, também, fiz e ainda tenho alguns amigos, por que parte deles já atravessaram o rio da vida, mas deixaram de alguma maneira suas marcas inscritas nesta caverna.

Uma das referências marcantes do MASP, além do seu projeto arquitetônico, assinado por Lina Bo Bardi, com certeza se faz nos suportes de vidros aonde os quadros são expostos, fazendo uma paisagem oceânica de pintores de vários escolas ao longo dos séculos. Muito se escreveu e falou sobre esta ousadia e da forma como estes notáveis gênios da pintura se encontram ao alcance dos olhos do visitante. 



Inclusive, por muitos anos, a curadoria do MASP, pós a morte do professor Pietro Maria Bardi, decidiram excluir os suportes transparentes de vidro sob uma base de concreto. E instituiram a mesmice das paredes, sonegando a originalidade expositiva imaginada pela arquiteta Lina Bo Bardi. E, por anos, infelizmente os quadros ficaram pendurados na parede. 


Lina, quando decidiu por estes suportes, ela desejou criar uma relação íntima e didática entre o visitante e a obra, mesmo, e sobretudo que ele fosse um neófito conhecedor dos mestres da pintura. O visitante, caso não saiba quem é o artista que lhe causou alguma emoção, ele pode caminhar para a parte detrás, aonde poderá ter acesso as informações básicas do artista e da obra. 


E, aí, mais uma vez encontrava-me no MASP, mas desta vez como convidado do meu filho, ele nada ou quase nada sabia destas histórias que narrei acima, daí a maravilha desta visita. A partir das reações deste jovem, como também de outros visitantes, observei que a premissa da arquiteta...As pessoas adentravam, penetravam naquela variedade de artistas e escolas...Ticiano aqui, um Rafael ali...um Bellini acolá..Andrea Mantegna e o impressionante "As Tentações de Santo Antão" de Hieronymus Bosh, mas adiante Nattier, Delacroix, Manet, Cézanne, Renoir, Toulouse-Lautrec, Gauguin, Monet, Van Gogh, Degas, Velasquez, Goya, El Greco, Turner, Frans Gals, Rembrant, Jan Van Donicke e o tempo se abre para mais ousadias...Torres Garcia, Diego Rivera, Calder, Siqueiros, Portinari, Brecheret, Flávio de Carvalho, Almeida Junior, Anita Malfatti, Volpi, Tarcila Amaral...Vicente do Rego Monteiro e a sua arte influenciada pela produção artísticas dos indígenas brasileiros. Os séculos se passam aos nossos olhos e imaginação numa caminhada.


E, eis que lá no fundão encontrei essa pérola, a escultura-objeto de Rubens Gerchman, meu mestre no Parque Lage (1977/78). Este trabalho tem um simbolismo daquilo que nós todos desejamos...ao menos uma lufada de vento fresco nos tempos que as liberdades individuais e coletivas encontram-se ameaçadas.



segunda-feira, 26 de setembro de 2016

SEMINÁRIO ROGER CASEMENT - BELÉM/PARÁ


AQUARIUS - O FILME



Depois de ler o comentário analítico (?) econômico(?) de Samuel Pessôa (Folha SP, Mercado, 25.09.2016) sobre o filme "Aquarius", sou levado a concordar com o crítico Luiz Zanin: 

"Não há surpresa no fato de Aquarius começar a ser desconstruído pelo pensamento de direita". 

A princípio goste-se ou não de qualquer filme, mas quando uma determinada produção brasileira é insistentemente assediada por eventos atípicos, como neste caso, o filme deixa de ser filme para ser uma referência explícita para se discutir o país. Que bom! Mas, neste caso, como se trata de um economista fiel seguidor do neoliberalismo e que inclusive já defendeu publicamente o fim do "salário mínimo", pergunta-se, o por que desta sua preocupação sobre o filme "Aquarius" de Kleber Mendonça Filho? 

Pessôa, faz uma análise do filme como se ele fosse uma produção da verdade absoluta do nazi-fascismo, do realismo-socialista ou do cinema-verdade. O filme pode ser realista, mas, Aquarius, como o próprio título nos faz remeter, é uma metáfora da "Era de Aquarius"- a geração da protagonista Clara (Sonia Braga). 



Ela apesar de ter todas as condições de se aproveitar da oportunidade, aliás, opção feita por todos os outros moradores do edifício, estes inclusive se encontram insatisfeitos com a "teimosia" desta senhora viúva, aposentada e que poderia viver de rendas numa boa. Mas, não, é uma "empata-foda" do incorporador, do jovem e ambicioso arquiteto sem escrúpulos, da filha (filhos?). Clara, constrange e intriga.

"Aquarius" escancara o Brasil, este país abençoado por deus e pela natureza, mas que decepciona os brasileiros todos os dias com sua persistência na hipocrisia da democracia racial e suas idiossincrasias. O Brasil e a Era de Aquarius decepcionaram, mas Clara, ao contrário, é uma sobrevivente que optou pela preservação da memória. É o Brasil misturado, o bom gosto com o espontâneo, ouve-se de tudo do brega ao erudito, as festas e os rostos das pessoas revelam um Brasil múltiplo, branco, mestiço, mulato. Não é o Brasil europeu ou europeizado. 

Clara, é uma metáfora, ela preserva a memória e insiste nesta memória enquanto todo mundo deseja esquece-la... Encontram-se hipnotizados pela religião do consumo, daí ela, Clara, ser uma personagem que é chata por que incomoda. Samuel Pessôa e tantas outras que seguem o mesmo pensamento conservador, querem tangenciar esta metáfora. Por fim, diria, Clara é uma sobrevivente em todos os sentidos do câncer, dos cupins e a extinção das referências físicas da memória. Como enfrenta-los? O neto e a sua namorada seriam um cadinho da memória a ser preservada (haveria esperança?).


Quanto as análises neoliberais de Samuel Pessôa, ele como economista em vez de tentar explicar o filme, poderia nos fazer compreender, caso o Mercado seja a solução, por que a Argentina que privatizou de um tudo encontra-se, desde então numa chatice de amargar. O Chile, o berço do experimento neoliberal, volta atrás e institui o ensino gratuito e tenta desprivatizar a previdência social. Ou por que nos EUA a crise solapa as conquistas do "american way of life" com o desemprego sempre crescente, a miséria ressurgindo e com ela inclusive o analfabetismo?  Como acontece no final do filme "O Grande Jogo" (The Big Shot), baseado em fatos reais. Justamente sobre a quebradeira da oferta no mercado imobiliário - subprime, empréstimos concedidos a clientes que não tinham boa avaliação de crédito nos EUA. Ou seja, pessoas que, antes, não conseguiam financiamento para casa própria. Como os juros americanos estavam em patamar muito baixo (em 2003, a taxa anual era só de 1%) e a economia vinha crescendo com força, os bancos passaram a atender esses clientes em busca de retornos maiores. A inadimplência estourou a bolha e com ela aconteceu a quebradeira geral - a crise financeira de 2008, nos EUA. Os cupins literalmente corroeram os pornográficos ganhos dos especuladores rentistas.

Ao final, os bancos foram socorridos por quem? Pelo mercado? Não, claro que não, foram salvos pelo governo, pelos recursos públicos. No diálogo final do filme "A Grande Aposta" isso fico ainda mais claro:

"Vinnie Daniel - A festa acabou."
"Marck Baum - Sei lá...Sinto que em poucos anos farão o que sempre fazem quando a economia vai para o buraco: culparão os imigrantes e os pobres." 

Quanto a "Era de Aquarius", ainda é uma referência que se acreditava em transformações coletivas. Para muitas pessoas isso continua como uma chata alternativa de vida.



Em Tempo: Na cidade do Rio de Janeiro, anos 70, na era "sergio dourado incorporador", eles tiveram que enfrentar realisticamente uma senhora viúva moradora de um prédio na fronteira dos bairros de Copacabana com o Leme - a "teimosa e chata", permaneceu sozinha como a única moradora até morrer.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

EAT THAT QUESTION-FRANK ZAPPA IN HIS OWN WORDS


No dia 07/09, feriado nacional, em meio a caretice reinante, assistir o doc "EAT THAT QUESTION-FRANK ZAPPA IN HIS OWN WORDS" (2016), dir. Thorsten Shutte, durante a abertura do In-Edit Brasil/8ºFestival Int. do Doc Musical. Esse privilégio caso não tenha lavado a alma, deu pra encharca-la. 

A fila de espectadores virando o quarteirão do CineSesc-Augusta, sinalizava que a noite prometia. 


Ao iniciar a sessão Zappa explodiu na tela com toda inteligência que lhe foi peculiar, humor, irreverência, versatilidade e perspicácia política que abalou o meio cultural dos EUA anos 60/70/80. 



O experimentalismo musical vanguardista do disco "Freak out" (1965) influenciou "Sgt.Peppers's"/The Beatles. Entre nós Tom Zé e Arrigo Barna Barnabé fazem parte desta linhagem Frank Zappa.

NUNO - O MELHOR AMIGO DO COSME TUDO POR AMOR AO CINEMA


Setembro, dia 05, Selda Vale, uma amiga em comum por e-mail conta que o nosso querido Nuno Cunha, havia atravessado o rio da vida. 

Nuno, um amigo de infância do Cosme, os dois chegaram ao Rio de Janeiro na mesma época, final anos 40. 



Nuno, personalidade extrovertida logo integrou-se num grupo católico do Mosteiro de São Bento e em seguida apresentou o amigo Cosme. 

Os dois fizeram história, parte dela encontra-se no filme Tudo Por Amor Ao Cinema (2014). 

Nuno, figurinha carimbada em Manaus, deixou a sua marca quando criou a rede de "fast food" Ziza's - anos 70. 


O Cosme sempre se referia ao amigo Nuno como uma espécie de "bom burguês". Quando ele soube que iríamos realizar um documentário sobre o Cosme; num certo domingo recebo um telefonema, era o Nuno querendo saber sobre o filme e dando sugestões, contando causos, enviando material iconográfico... 

Infelizmente, não poderei lhe presentear com uma cópia do DVD que ficará pronto neste mês. Nuno, foi um entusiasta de muitos projetos e sonhos, inclusive para a realização de Tudo Por Amor Ao Cinema.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

GOLPE...GOLPISTAS...GOLPEADOS


FolhaSP (25/08): No artigo "#VaiTerGolpe", Clovis Rossi recorre aos recursos dos (a) ginastas campeões olímpicos(a) para afirmar que não é "golpe", não existe "golpistas" e tampouco "golpeados". Mas, como sugere Luigi Pirandello em sua peça teatral, "Assim é (se lhe parece)" - a verdade e as suas versões. 

E, aí podemos fazer comparações com as mais sórdidas articulações para retirar do governo a presidente Dilma Roussef, com o uso descarado dos recursos públicos no valor de R$50 bilhões, conforme denúncia da senadora Katia Abreu(PMDB). 

Outro ponto que chama a atenção é os golpistas afiarem as suas garras na sanha covarde contra a cultura e os artistas brasileiros. 



Tudo por causa de uma foto pendurada na parede do planeta. 

O filme AQUARIUS é a foto. 

Esta foto incomoda, sobretudo por que não existe "borracha" e tampouco adianta recorrer ao mais novo verbo da língua portuguesa: Deletar. Nada disso apagará. 



Pensei sobre isso ao sair da sessão do fabuloso "Francofonia" de Alexandr Sukurov; como escreveu Luiz Zanin em sua crítica publicado no jornal " O Estado de São Paulo": "a cultura é tudo que nos resta". 

Os governos autoritários, ilegítimos ou não, sempre recorreram em primeiro fazer silenciar quem pode meter o dedo na ferida da farsa. Foi assim quando o então governador carioca Carlos Lacerda, por considerar que o filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (Glauber Rocha), "difamava a imagem do Brasil", proibiu a sua exibição. O mesmo aconteceu com "Vidas Secas" (Nelson P dos Santos), "Os Fuzis" (Ruy Guerra), recorreram a covardia de deixar exibir, mas proibir a sua circulação no exterior. 

O mesmo fazem os golpistas: os apoiadores do Golpe Midiático Parlamentar organizam um movimento de boicote ao filme Aquarius; Um dos integrantes da comissão que vai selecionar o representante brasileiro no Oscar, torna público a sua opinião sobre Aquarius, antes mesmo de ter assistido; Ao impor a marca de que "o filme não é recomendado para menos de 18 anos", os golpistas recorrem a mais uma artimanha para vingar a foto na parede pública do planeta. 

Enquanto isso Clovis Rossi continua vendendo gato por lebre.

O GOLEIRO WEVERTON E O ACRE

A Margem da História.


O Acre é uma das páginas mais bonitas da história do Brasil.  Desde quando o Governo do Amazonas descobriu que grupos estrangeiros sediado em Nova York, tramavam com autoridades do governo da Bolívia a criação de um protetorado dos EUA - Bolivian Sindicate.  A coincidência a favor dos amazônidas foi se encontrar vivendo na região Plácido de Castro, militar gaúcho que liderando 30 homens, criou um movimento armado e tomaram Xapuri, iniciando a luta fomentada pelo Governo do Amazonas na conquista do Acre. Até aí, o governo federal brasileiro havia ignorado este conflito.


O Acre entrou no mapa do Brasil na marra. E, não foi por menos que o goleiro e acreano Weverton, ao ganhar medalha de ouro olímpica, como um dos jogadores da seleção brasileira, ostentou com orgulho a bandeira do Acre. 

Quem sabe, agora, o Brasil e os brasileiros descubram o Acre?

Esta é a Amazônia, aquela que é sempre celebrada, sempre referência das potencialidades do país e no entanto é o mesmo lugar das indiferenças. 

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

AQUELE ABRAÇO...ABERTURA OLIMPÍADAS 2016



Evoé Gil, como te amamos!

Nada poderia ser mais emblemático, mesmo que nos possa parecer um paradoxo, nas circunstâncias da abertura das Olimpíadas do que ouvir num arranjo cool e na voz de Luiz Melodia "Aquele Abraço". 

Gilberto Gil, compôs esta canção em 1969, logo depois de sair da prisão do quartel no Realengo-RJ. Foram 66 dias de cadeia, simplesmente por que era jovem, por que era um artista.

"Aquele Abraço" foi composta para celebrar sua liberdade, acabou por lavar a alma de todos os brasileiros que se sentiam reprimidos pela ditadura, foi um sucesso arrebatador. Esta carta de despedida, quando partia para o exílio, em Londres, ainda hoje, assume (talvez) novos significados. 






quinta-feira, 14 de julho de 2016

HECTOR BABENCO - AT PLAY IN THE FIELDS OF THE LORD


Hector Babenco definitivamente desenraizou-se e virou poeira cósmica. 

E isto, foi o que sempre perseguiu, era de lugar nenhum, mesmo que o Brasil e a Argentina fosse pra ele uma forte referência. A sua filmografia é marcada por esta trajetória migratória... E o único passaporte que reconhecia era a memória, fosse de Lugar como o do Afeto. 


Para mim o filme "Brincando Nos Campos do Senhor" (1991) é o que mais representa essa busca por identidade. Mesmo que não tenha sido o sucesso que outros filmes seus tiveram, mas, aí está a metáfora da preservação da origem, do éden...A ganância do progresso civilizatória contra a permanência da vida original, aí está a Amazônia, o território paradisíaco aonde se pratica os mais inomináveis crimes contra a humanidade. 



Aliás, Peter Matthiessen, autor do romance "At Play in the Fields of the Lord", inspirou-se no massacre sofrido pelos índios Waimiri-Atroari. 

Babenco, como em todos os outros filmes que dirigiu e roteirizou foram produções de risco (em todos os sentidos), neste, a soberba ganha o ímpeto de artista: 


Ficha Técnica
Direção: Hector Babenco/ Roteiro: Jean-Claude Carrière/ Fotografia: Lauro Escorel e Stan McClain/ Direção de Arte: Clovis Bueno/Figurino: Rita Murtinho/ Música: Zbigniew Preisner c/ colaboração de Marlui Miranda.
Tom Berenger/ John Lithgow/Daryl Hannah/ Aidan Quinn/ Kathy Bates/ Tom Waits/ José Dumont/ Nelson Xavier e Stênio Garcia.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

FILMES PREMIADOS 5a. MOSTRA ECOFALANTE 2016


DIVULGADOS OS FILMES PREMIADOS PELA 5ª MOSTRA ECOFALANTE

June 30, 2016

Na quarta-feira, 29/06, foi realizada a cerimônia de premiação dos melhores filmes da Competição Latino-Americana e do concurso Curta Ecofalante desta 5ª edição da Mostra.

O Júri da Competição Latino-Americana, formado por Aurélio Michiles, Solange Alboreda e Maria Elisabeth de Sá Freire, identificou, apesar da abrangência dos temas abordados nos filmes, um alerta em comum para a defesa e a preservação humana e ambiental do continente latino-americano.

O longa escolhido pelo júri como o melhor da Competição é “Jaci: Sete Pecados de uma Obra Amazônica” (Brasil, 2014), de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros. O filme aborda uma região de extraordinária biodiversidade e de extraordinárias civilizações com suas culturas e crenças, que se vê subitamente diante de uma obra monumental.

O filme “Dauna: O que o Rio Leva” (Venezuela, 2015), de Mario Crespo, levou menção honrosa pelo júri. A produção promove, a partir de um recorte particular, a reflexão sobre o papel colocado à mulher nas diversas sociedades.


Entre os curtas metragens da Competição, o júri escolheu como melhor filme “Feito Torto pra Ficar Direito” (Brasil, 2015), de Bhig Villas Bôas, que expressa não somente como conceito histórico, mas com beleza cinematográfica, a riqueza da tecnologia mantida pela oralidade, que fez e faz a descoberta de novos mundos. O filme revela o saber náutico de mestres carpinteiros anônimos, apresentando seus estaleiros artesanais, as comunidades originais onde esse saber foi passado de geração a geração e as dificuldades para dar continuidade à prática nos dias de hoje.

O curta “Ameaçados” (Brasil, 2014), de Julia Mariano, recebeu menção honrosa do júri. O filme reafirma uma realidade conhecida: os povos tradicionais, indígenas e caboclos, constituem a expressão máxima da cultura amazônica, mas também a força política que luta pela preservação da floresta. Daí serem alvos permanente, tendo suas vidas ameaçadas. O filme mostra pequenos agricultores do sul e do sudeste do Pará e sua luta por um pedaço de terra para plantar e viver.

Também recebeu menção honrosa do júri o curta “Sucata” (Uruguai, 2015), uma animação de Walter Tournier.

O público da 5ª Mostra Ecofalante escolheu como melhor longa da Competição Latino-Americana deste ano o filme “Sunú” (México, 2015), de Teresa Camou. Através do olhar de pequenos, médios e grandes produtores de milho no México, o filme costura diferentes histórias sobre um mundo rural ameaçado. Viaja ao coração de um país onde muitos povos alimentam sua determinação de seguir sendo livres, de trabalhar a terra, cultivar suas sementes, viver sua cultura e espiritualidade em um mundo moderno que, ao mesmo tempo que os despreza, necessita deles.

O público escolheu como melhor curta da Competição o filme “O Homem do Saco” (Brasil, 2015) de Carol Wachockier, Felipe Kfouri e Rafael Halpern. O filme retrata um personagem conhecido do imaginário popular, mas que muitos não sabem ser um personagem real, um homem que vive à margem da sociedade, que caminha invisível perante os olhos dela, catando materiais recicláveis para seu sustento. Hoje, esse homem desenvolveu seu método de coleta e se tornou o catador, profissão encontrada como alternativa ao desemprego que assola os brasileiros que chegam em São Paulo em busca de uma vida melhor.

Concurso Curta Ecofalante

Apesar do concurso Curta Ecofalante estar apenas começando, todos os cinco filmes selecionados para exibição têm a qualidade para estar em uma mostra de cinema, e nos impressionou como de fato os temas ambientais estão presentes nas produções universitárias. Eles tratam de temas atuais, como a questão da moradia e do transporte na cidade, o uso e a gestão da água, a produção e o descarte de lixo, a situação ambiental do Rio de Janeiro frente a recepção das Olimpíadas e, finalmente, a necessidade da recuperação de nossas matas. Os melhores filmes foram escolhidos por uma comissão da Ecofalante e também pelo público.

O curta que levou o prêmio de melhor filme pelo júri foi “Verde Chorume”, de Roberta Bonoldi, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). O curta apresenta um ritmo dinâmico, que remete aos filmes-sinfonia da década de 1920, os quais o personagem é urbano. Trata de uma questão que aflige o mundo inteiro, e parece que irá atingir cada vez mais pessoas, sintetizando-a em praticamente uma rua – a questão do lixo, e em especial a grave questão do lixo eletrônico.

Por um apurado cuidado técnico e uma abordagem sensível e humana, o júri decidiu entregar uma menção honrosa a um filme que trata de um crescimento urbano que acontece hoje, em plena metrópole paulistana do século 21, revelando não só problemas, mas também lutas e resistências: O curta “Travessia, muita vida após a balsa”, produzido pelo Centro de Audiovisual de São Bernardo do Campo e dirigido por Ana Paula Moreira.


“Travessia, muita vida após a balsa” levou também o prêmio de melhor filme escolhido pelo público.

sábado, 25 de junho de 2016

O CINEMA, A LUZ DA REALIDADE, DOS SONHOS E TAMBEM DOS PESADELOS


O cineasta britânico Ken Loach ao ganhar a "Palma de Ouro" com o filme "I, Daniel Blake", no Festival de Cannes 2016, declarou:


"A política neoliberal trouxe miséria, da Grécia a Portugal, com um pequeno número de pessoas que enriqueceram com isso." 

Concordo com ele, por isso sugiro que assistam aos filmes: 

"As Montanhas se separam" (2015) de Jia Zhange; "Chicago Boys" (2015) de Carola Fuentes e Rafael Valdeavelhano; "Inside Job" (2010) de Charles Ferguson; "O Capital" (2011) de Costa-Gavras; "A Grande Aposta" (2015) de Adam Mckay; "O Lobo de Wall Street" (2013) de Martin Scorcese.

BREXIT, O NACIONALISMO É O ÚNICO REFÚGIO DOS CANALHAS


A saída do Reino Unido da União Européia acontece num momento em que o governo-interino Temer ajoelha-se tardiamente aos pés da economia neo-liberal. 

Foi justamente este modelo de política econômica que jogou nesta crise os países europeus, EUA, Japão e tantos outros nas regras sinistras do "livre mercado", aonde a indústria do trabalho foi substituída pela indústria do desemprego e da miséria. 

As conquistas do pós-guerra levou as família dos trabalhadores a uma qualidade de vida de classe média, isto se perdeu...e com a globalização dos mercados veio com ela os imigrantes, atrás de uma qualidade de vida que nunca foi implementado em seus países dominados colonialmente por estes mesmos "países desenvolvidos". 

O confronto foi estabelecido, despertou os arcaicos preconceitos e das insatisfações nunca compreendidas causadas pelo neo-liberalismo. 

A direita que nunca abandonou suas idéias movidas pelo ódio, viu-se num campo fértil...Realmente, o nacionalismo não é o último, mas, o único refúgio dos canalhas.

A TV BRASIL PERTENCE AOS BRASILEIROS




A Folha SP, domingo, dia 25 junho, publica um cínico editorial contra a TV Pública. Leia-se TV BRASIL. 

Defende com todas as letras a sua extinção. 

O argumento é o alto custo da sua manutenção em detrimento a crise da economia brasileira e também por ser um "aparelho do PT". 

Na verdade a Folha junta-se aos seus sócios que articularam o Golpe, por que o STF indeferiu a demissão do atual diretor da EBC - Empresa Brasil de Comunicações. 

Diante do impasse, restou aos golpistas agirem pela delinquência. Ora, todo nós sabemos que não existe mídia que não defenda os seus próprios interesses, por acaso, a família Frias, Marinho, Saad, Civita, Mesquita, etc... tem posição acima dos seus interesses empresariais? 

A TV Cultura/SP tem sido vítima preferencial destes argumentos: altos custos e baixo índice de audiência. Sempre batendo na mesma tecla em comparar a audiência de uma TV pública com a TV comercial, esta move-se pelo lucro, e por ele transmite irresponsavelmente qualquer porcaria. 

Este editorial é uma afronta à democracia e o direito dos brasileiros terem uma TV que transmita a excelência de uma programação sem que esteja vinculada a ganância do lucrativo comércio ideológico em transformar as pessoas num rebanho.

A AMAZÔNIA SANGRA

Mais uma ambientalista é assassinada no Brasil.


Nilce de Souza Magalhães, depois de ficar desaparecida desde janeiro, o seu corpo foi encontrado na terça-feira ( 21 junho), estava com os pés e as mãos amarrados presos numa pesada pedra no fundo da barragem da hidrelétrica Jirau/Porto Velho-Rondônia...

Nilce destacou-se como líder do MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens. 

A crueldade e a impunidade é descarada. 

O seu corpo foi jogado no fundo da barragem que denunciava e combatia; o acusado do seu assassinato, ao menos aquele que apertou o gatilho, foi preso, mas já se encontra foragido.

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.