quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

PARA QUE SERVE A UTOPIA?

“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” – Fernando Birri (1925-2017) 


O CINEMA DO MUNDO ESTÁ DE LUTO

O CINEMA DO MUNDO ESTÁ DE LUTO por Luiz Carlos Lacerda



"Hoje perdemos o grande cineasta argentino Fernando Birri (1925-2017). 
Autor de importante filmografia, fundador da Escuela de Cine de Cuba ( "La utopia del Ojo y de la Oreja "), junto com Gabriel Garcia Marquez, também fundador da Escuela de Cine de Rosario, um artista libertário . 

Lembrarei de sua figura, sempre de bata branca, pelos jardins da Escuela, cercado pelo amor dos seus alunos. Irreverente, atuava nos filmes dos estudantes, desnudava-se nos banhos de piscina sem censura e sem pecado - como é da natureza dos homens livres.


A última vez que o encontrei foi no Festival de Trieste. Era a vedete das entrevistas coletivas, com sua inteligência, seu esoterismo particular, seu extremo senso de humor e sua defesa intransigente do cinema da América Latina. Contra o dragão da maldade das majors e da colonização cultural.
Ao lado de Glauber fazia uma dupla de combatentes obsessivos e brilhantes.
O último dos moicanos guerreiros.
Morreu em Roma, onde vivia, na véspera da comemoração dos 122 anos da 1a sessão de cinema.

Tristeza não tem fim."

sábado, 23 de dezembro de 2017

BRUCE McCANDLESS, O ASTRONAUTA ANJO


Bruce McCandless, aos 80 anos, deixou a TERRA-NAVE para navegar no espaço sideral como poeira cósmica. Ele foi o primeiro astronauta a flutuar no espaço sem qualquer conexão física com sua nave - 1984.


Quando lhe foi perguntado sobre sua extraordinária experiência: 

"- A visão da Terra. A outra coisa mais extraordinária quando se é astronauta é que você não vê os países, as fronteiras. Vê as pessoas, a nave espacial Terra."

Folheando meu caderno de anotações daquele ano, encontro meu registro sobre esse grande feito.



sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

CHICO MENDES - A DATA DE HOJE, 15 DEZEMBRO


Chico Mendes (1944-1988), um dos mais expressivos líderes do século XX e que se destacou por defender a preservação da floresta amazônica contra os interesses do latifúndio para a criação de gado. E, por causa disso foi assassinado. 

    Chico Mendes e o filho Sandino. Foto: Carlos Ruggi

Esse crime aconteceu 29 anos atrás...15 de dezembro.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

USP: PRAÇA MILTON SANTOS


Caminhando pelo campus-USP encontrei a recém inaugurada (12/12/2017) "Praça Milton Santos". 


Uma inspirada intervenção da artista Regina Silveira: "MUNDO" - as pegadas humanas convergindo e se misturando na pele do planeta Terra.


O PROJETO AMALUCADO DE HERMAN KAHN FAZ 50 ANOS


2017 está indo pro ralo, literalmente. 

A maioria esmagadora dos brasileiros sentirão zero de saudades. 

Mas, não podemos esquecer que faz 50 anos do estapafúrdio "Projeto dos Grandes Lagos Amazônicos", elaborado pelo Instituto Hudson, do futurólogo norte-americano Herman Kahn, figurinha que inspirou o "Doutor Fantástico/Dr. Strangelove"(1964), filme de Stanley Kubrick . 


A idéia era inundar uma imensa área do Baixo Amazonas e transforma-la num gigantesco lago, parte de Manaus e Belém, por exemplo, ficariam debaixo d'água. 

O projeto foi encomendado e defendido pelo economista e diplomata Roberto Campos, o todo-poderoso ideólogo da ditadura, mas não somente ele, houve quem apoiasse em nome do "progresso e do desenvolvimento" do comercio global.



Os ditadores defendiam a palavra de ordem contra "a internacionalização da Amazônia", "integrar para não integrar", mas na verdade, logo no segundo dia pós Golpe 64, eles entregaram de "mãos-beijadas" as jazidas aonde hoje se encontra Carajás para as empresas norte-americanas: U.S. Steel e United States Steel. Anos depois venderam ao governo brasileiro por outros milhões de dólares. Quanto isso, a intervenção atabalhoada na Amazônia causou uma devastadora desordem fundiária, consequências nefastas que até hoje empapa de sangue e injustiças a região amazônica.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

A CONTRA CULTURA EM PERSPECTIVA

A CONTRA CULTURA EM PERSPECTIVA - Luiz Carlos Maciel (1938-2017)


A história da contracultura é contada por eventos, grandes e pequenos, e pelos indivíduos envolvidos nele. Uma lista do que nela não poderia faltar, é alentada. Grandes concertos de rock, em locais abertos, diante de multidões de jovens, principalmente o realizado em Woodstock, assistido por 500 mil pessoas e que se tornou um símbolo em 1969. A carreira de conjuntos famosos como os Beatles, os Rolling Stones, Pink Floyd, Led Zeppelin e tantos outros. Os discos marcantes que gravaram ainda na era do LP. Os poetas de San Francisco, editados pela City Lights. A mitologia que colocou uma áurea libertária nas drogas psicodélicas, especialmente a maconha, o LSD, os cogumelos mágicos, o cactus peyote. O abandono do pensamento racional, matemático, em favor do pensamento mágico, ocultistas como Aleister Crowley, divulgadores do ácido lisérgico, como Timothy Leary. As rebeliões estudantis e a campanha contra a guerra do Vietnã. O prestígio de doutrinas vindas do Oriente, como as várias crenças da Índia, o prestígio de gurus como Osho, e a influência do Budismo, do Taoísmo, do Zen Budismo. O advento da anti-psiquiatria de Ronnie Laing e David Cooper, resgatando a loucura de sua maldição. Livros reveladores do Oriente: o I-Ching que propicia a descoberta da sincronicidade, o que – como veremos daqui a pouco - iria redundar numa nova maneira de conceber o próprio Tempo. O Livro Tibetano dos Mortos que, adaptado por Leary, vira um guia para viagens de ácido. O trabalho de divulgadores da visão oriental, como Alan Watts. A revolução nas artes em geral. O teatro off-Broadway em Nova York, lar do Living Theatre, de Judith Malina e Julien Beck, na vanguarda da contracultura. O título de um de seus espetáculos, Paradise Now, indica que a contracultura vem do futuro porque faz exigências prementes ao presente. O musical Hair, na Broadway. O cinema de vanguarda. A imprensa alternativa materializando uma imagem do mundo diferente da divulgada pela media capitalista. As anti-Universidades que libertam o conhecimento humano dos limites da caretice acadêmica para sua abertura a novos e surpreendentes horizontes. O mundo da contracultura parece inesgotável. Se continuar a fazer este inventário, acho que não vou terminar nunca...No Brasil, na fase mais feroz da ditadura militar, quando nossos jovens experimentavam o apelo para a ação armada, peço licença para apontar no sentido de uma alternativa: as primeiras informações sobre nascente contracultura que foram publicadas entre nós foram registradas pelas páginas do Underground do Pasquim, sob minha responsabilidade. Minha participação no surgimento da contracultura brasileira se confundiu com minha atividade profissional como jornalista. Fui um dos responsáveis pelo aparecimento de uma imprensa alternativa entre nós, em publicações como a primeira Rolling Stone e a Flor do Mal. Se a guerra do Vietnã estimulou o surgimento da contracultura americana, aqui uma brutalidade semelhante, a ditadura militar, cumpriu o mesmo papel. Ela motivou artistas brasileiros importantes como Caetano Veloso e Gilberto Gil com seu Tropicalismo, Raul Seixas com sua Sociedade Alternativa e muitos outros. É preciso lembrar os poetas da Nuvem Cigana, a geração do mimeógrafo, o Circo Voador e seus artistas, Jorge Mautner, Rogério Duarte, José Agripino de Paula, Torquato Neto, Tavinho Paes, poeta e ativista cultural que continua a todo vapor até hoje, e tantos outros. Eventos como as noites do Curtisom, no Rio, o Festival de Guarapari, a multiplicação das comunidades rurais formadas por jovens que abandonaram as grandes cidades, o número crescente de espectadores para shows com a música da nova geração, a multiplicação da imprensa alternativa, e o crescente consumo de drogas alucinógenas, ou sagradas, são fenômenos que merecem consideração. A contracultura se alastrava por toda parte, até por aqui. Mas tudo começou com o movimento pacifista que gostava de mostrar Lord Bertrand Russell lutando pela paz na Trafagal Square, em Londres. O símbolo do movimento era exatamente o mesmo que os hippies haveriam depois de popularizar em todo o mundo, traduzindo-o no slogan fundamental Make Love Not War. Nos USA, o movimento foi abraçado por jovens universitários que, a começar por Berkeley, se espalhou ràpidamente por todos campus do país, graças, entre outros fatores, ao documentário Operation Abolition que as autoridades divulgaram por toda parte, mostrando a violenta repressão policial que se abateu sobre os meninos da California que protestavam contra a guerra no Vietnã, com o objetivo de intimidar os meninos do resto dos USA. O resultado foi o inverso do pretendido. Os jovens americanos de todos os lugares ficaram revoltados com a estupidez policial e aderiram ao movimento pacifista. Atenderam à recomendação de Timothy Leary para turn on, tune in e drop out. Cairam fora. Queimaram publicamente seus certificados para o serviço militar e preferiram tornar-se marginais da sociedade estabelecida. Vestiram roupas diferentes e vistosas, deixaram os cabelos crescer, acenderam seus cigarrinhos maconha, tomaram seus ácidos lisérgicos e viraram a mesa. Foram os primeiros hippies. Sem embasamentos teóricos, a partir da intuição e da ação pura, criaram um movimento surpreendente no melhor estilo do grupo-em-fusão, definido por Sartre como a única rebelião eficiente contra a opressão do “inferno do Prático Inerte”, isto é, o Sistema até hoje infelizmente vigente e seus mecanismos de manipulação e controle – e que Philip K. Dick chama de Prisão de Ferro Negro. Sim, o Sistema, o adversário, já havia sido identificado e devidamente caracterizado. Desde Marx , pelo conceito de alienação, a Georg Lukacs, pelo de reificação, até Sartre, pelo de serialização, ou mesmo de Heidegger, pelo de maquinação, ou de Philip K. Dick e sua visão da Prisão de Ferro Negro, sabíamos quem era e como agia o adversário. Mas ele não esperava tomar um susto tão grande quanto, de repente, viu-se diante de uma contestação que não se definia pelo confronto direto, como as revoluções anteriores, mas por uma manobra indireta, a da alternativa em todas as dimensões de nosso ser-no-mundo, como diria Heidegger. Foram os dias áureos do Flower Power – ou da Sociedade Alternativa, como a preferia chamar o brasileiro Raul Seixas. O gesto da hippie que enfia delicadamente uma flor na boca de um fuzil empunhado por um soldado a serviço da repressão, é uma síntese visual que certamente vale por mil palavras.

- Trecho do ensaio inédito Memórias do Futuro

domingo, 10 de dezembro de 2017

LUIZ CARLOS MACIEL, FOI ALI BEM...


Em homenagem à Luiz Carlos Maciel, ele que sempre estará entre nós, como se diz na minha terra..."Ele foi ali bem, maninha". 


Maciel, foi um dos nossos faróis naqueles anos "bicudos" de repressão e auto-repressão ditatorial, o mundo agitado queria mais e por aqui a ditadura impunha menos (muitos menos), mas existia "UNderground", uma página no jornal PASQUIM, mas que representava um front de resistência na resistência & liderada pelo nosso "guru". 

Maciel mostrava que podíamos fazer o nosso próprio impresso, com nossas próprias opiniões & em Brasília fizemos: TRIBO. 

Coincidentemente parte desta história é ficção-histórica no romance recém lançado: "A Noite da Espera" de Milton Hatoum.

E pensar que Luiz Carlos Maciel nem precisou vestir uma sunga e se exibir na praia de Ipanema para mostrar o quanto ele foi importante nas conquistas do séc.XX: nova consciência, nova-esquerda (new left), feminismo, liberação e igualdade na diversidade sexual, defesa do meio ambiente e dos direitos humanos e dos povos indígenas, a valorização da cultura afrodescendente no Brasil, a contracultura e a aura libertária das drogas alucinógenas.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

KAZUO ISHIGURO - NOBEL LITERATURA 2017


Trechos do discurso de Kazuo Ishiguro - Nobel Literatura 2017: 


"Sou um autor cansado que pertence a uma geração cansada".(...)

"Vive-se uma era de oportunidades perdidas e enormes desigualdades". (...)

"Vimos avanços em questões como feminismo, direitos dos gays e luta contra o racismo. Fomos testemunhas disso e chegamos a conclusões felizes. Mas desde a queda do Muro de Berlim contemplamos como oportunidades foram sendo perdidas - especialmente depois da guerra do Iraque e dos escândalos econômicos e a crise de 2008 -, e agora vemos proliferar ideologia de ultradireita e nacionalismo tribais. Ou um racismo em sua forma tradicional, envolvido em versões de marketing. 

O monstro enterrado acordou".

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

MR. TRUMP - O IRRESPONSÁVEL BOBALHÃO


O irresponsável bobalhão que se encontra à frente da maior potência militar do planeta, quer instalar a embaixada dos EUA em Jerusalem. Mas em nome de quem e do quê? Por referências bíblicas? 

Esta é uma cidade que pertence aos três troncos religiosos: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. A cidade sagrada é uma espécie de "cebola", ao longo da sua historia vários povos aí se instalaram e a dominaram: egípcios, assírios, babilônicos, persas, mongóis, gregos, romanos, britânicos, etc...


Ao final, sugiro ao Mr.Trump que tal devolver o Estado e a cidade de Washington aos povos originários ("Peles-Vermelhas") que aí habitavam desde milhares de anos?




segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

LIBERDADE SUCATEADA

O sucateamento das liberdades...

O artista plástico sírio Tammam Azzam, fez das tripas coração, aproveitou os destroços de bombardeios de Aleppo e fez esta provocadora metáfora destes dias (ou de sempre): 


- Liberdade, quantos crimes cometeram e ainda cometem em teu nome?


"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.