sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

MEIO SÉCULO: 2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO



Este ano completa meio século que estreiou "2001: Uma odisséia no espaço"(1968) de Stanley Kubrick


Um filme na tradição das utopias interplanetárias desde os romances futuristas de Julio Verne, "Da Terra à Lua"-1865), H.G. Welles, ("The First Men in the Moon"-1901) ao filmes de Méliès "A Viagem à Lua"(1902) , "Metrópolis"(1927) de Fritz Lang. 




No filme de Kubrick, o vilão é HAL, um computador motivado por ressentimentos e quer dominar o Homem. É uma espécie de "Frankenstein" que se volta contra o seu criador - "o perigo vem do homem". Na verdade, parece que não somente no filme, hoje, todos nós estamos escravizados (alteramos nossas relações sociais) pelos smartphones, estamos destinados a servir a robótica do capitalismo digital que despreza aqueles que detém a força do trabalho, mas ao contrário dos lucros e da concentração da riqueza que só aumenta, assim como o desemprego e a miséria.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

"POLÍCIA É POLÍCIA, BANDIDO É BANDIDO"

A história do Cinema Brasileiro é mais complexa do que um roteiro com narrativa linear. 

A entrevista do José Padilha("Ilustríssima"- FolhaSP,04/02), como sempre muito rica em reflexões, mas atira para todos os lados como se ele próprio fosse o único "cavaleiro solitário" do velho oeste. Ao fim do duelo...generalizações. 

Acusar a falta de comunicabilidade do nosso cinema com temática policial à uma possível e recorrente narrativa "marxista"? Antes de José Padilha...antes do "Tropa de Elite"? 



Ora, basta dois exemplos, não mais que isto: 

1º "O ASSALTO AO TREM PAGADOR" (1962) de Roberto Farias;
2º "LÚCIO FLÁVIO, PASSAGEIRO DA AGONIA" (1976) de Hector Babenco.


Cada um em seu tempo foram sucesso de bilheteria, os dois estão na lista dos 100 melhores filmes do cinema brasileiro. Aliás, "Lúcio Flávio" foi realizado em plena ditadura do "esquadrão da morte" que ameaçou de sequestrar e matar o diretor Hector Babenco. Mesmo assim o filme fez 7 milhões de espectadores. Não consta que Farias e Babenco sejam marxistas.


Talvez, Padilha estivesse querendo citar Glauber Rocha, quem sabe a produção do "cinema novo", estes sim, se poderia dizer que realizassem filmes com alguma vinculação ideológica com o método dialético do marxismo. Infelizmente a narrativa dos filmes desta geração (Glauber, Nelson Pereira dos Santos, Diegues, Guerra, Hirszman, Joaquim Pedro entre outros) aconteceu e floresceu em plena ditadura e que através da censura puniu e frustrou que a narrativa destes jovens cineastas pudesse acontecer com liberdade. 

O roteiro dos filmes tinham uma narrativa metafórica, de subterfúgios num duelo barroco contra a liberdade de expressão no país. Sem falar nas limitações com o circuito de distribuição e exibição. Uma realidade que a geração de José Padilha não precisou enfrentar, mesmo que a estrutura desta repressão/corrupção policial ainda se mantém até hoje. 

No filme "Lúcio Flávio" (Reginaldo Farias) num diálogo entre o personagem título e o dr. Moretti (Paulo Sergio Peréio), policial corrupto ligado a tortura dos presos políticos e ao "esquadrão da morte": 

"- Polícia é polícia, bandido é bandido...".

Esse diálogo caiu na boca do povo ou melhor se espalhou pelo país através dos 6 milhões de espectadores.

MARXISMO & CINEMA BRASILEIRO

Ironicamente, hoje, a obra de Karl Marx (este ano completa 200 anos de nascimento) nunca como antes foi tão publicada, analisada, relida e estudada. Seus livros são os que mais vendem. Mais uma vez Padilha se equivoca, ele mesmo é fruto de conjunções históricos fundamentados numa perspectiva dialética, na medida que ele e a sua filmografia é fruto/consequência da filmografia produzida em nosso país. Ele realiza o sonho/desejo dos cineastas num diálogo direto com o público. 

Antes de Padilha o cinema brasileiro foi celebrado no mundo inteiro, influenciou e foi influenciado. Os grandes mestres do cinema se reverenciaram diante dos filmes de Glauber Rocha, por exemplo, Martim Scorsese, numa entrevista ao "Cahiers du Cinema" nº 500, se refere ao Glauber com um dos cineastas fundamentais em sua formação cinematográfica. Tanto que adquiriu os direitos para a restauração da trilogia "Deus e o Diabo", "Terra em Transe" e "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro". São filmes que foram exibidos no Brasil, censurados ou veladamente censurados, não tiveram êxito de público mais causaram um reboliço na geração que se encontrava na linha de frente no confronto com a ditadura. Não foi pouco. O próprio Glauber teve que se exilar e passou quase dez anos fora do país. 



José Padilha, hoje, é um cineasta brasileiro do mundo, mas é fruto desta árvore genealógica do cinema brasileiro. Os temas dos seus filmes são os mesmos buscados por cineastas de outras gerações: População marginalizada da cidade e do campo, fome, impiedosa repressão policial, corrupção, política e políticos, Brasil e os brasileiros. Nada de novo neste cinema e também nada de velho, mas sempre os mesmos desafios que nós tentamos compreender e compartilhar.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

JEAN-MICHEL BASQUIAT & HAHNEMANN BACELAR


Visitar a exposição Jean-Michel BASQUIAT- CCBB/SP é um dos passeios imperdíveis desta cidade, deixe-se surpreender diante da irreverência e oportunidades estéticas deste artista. 



Basquiat, viveu pouco e ainda assim intensamente. Foi marcado pelos movimentos que colocou os afrodescendentes norte-americanos na linha de frente na luta pelos direitos civis (Malcom X, Martim Luther King, Panteras Negras) os quais foram violentamente rechaçados pela repressão organizada pelo Estado (FBI, CIA, etc). Cada um deles assassinados ou condenados a prisão perpétua, seguidos pela distribuição irresponsável de drogas letais nas ruas dos bairros de população afro-americana, ação premeditada para aniquilar a auto-estima "Black is beautiful" conquistada naquele momento. A consequência foi a decadência e o aumento da violência social. 

Basquiat, cresceu neste clima de distopia e entre as ruínas da cidade de NY, ele inscreveu os seus desejos, desesperos, invenções e se impôs como "nova arte". Foi celebrado em vida, virou disputada mercadoria, morreu de overdose em 1988, aos 28 anos. 



Mas, durante a visita desta exposição fui marcado pela recorrente lembrança da minha adolescência em Manaus, quando no final dos anos 60, havia um artista um pouco mais velho que todos nós, ele já havia conquistado o respeito como "menino-prodígio". Ele se chamava Hahnemann Bacelar, negro, pobre, morava nos porões do Palácio Rio Branco aonde a mãe era zeladora. 

A hipócrita sociedade amazonense, mestiça, cabocla, mesmo assim se auto-proclamava branca e queria aquele menino-prodígio "domesticado". 

Hahnemann, desde os 13 anos, vendia todos os quadros que produzia, foi convidado para fazer murais nas sedes de prédios públicos e privados (bancos, etc). De repente ao som de Jimi Hendrix, ele implode os sentimentos reprimidos e direciona o seu talento e criatividade noutra direção. Os seus cabelos crescem despudoradamente, incomoda aqueles que o queriam dentro dos padrões "domésticos". 

Hahnemann é transformado num marginal, alguém que não reconhecia as "oportunidades dadas": "hippie", "drogado". Ora, ele queria o autêntico respeito não somente da sua arte, mas o respeito originário. O respeito em ser descendente dos africanos. O confronto estava estabelecido e o resultado sobrou para Hahnemann, suicidou-se aos 23 anos, em 1971.

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.