Fui assistir o filme "VIOLETA FOI PARA O CÉU" de Andrés Wood, baseado no romance homônimo (2006) de autoria de Angel Parra, filho de Violeta. O filme faz um retrato desta famosa compositora, cantora, artista plástica e folclorista chilena. Ele não só apresenta seus diversos trabalhos, mas também memórias, seus amores e suas esperanças. Para viver a complexa personagem foi escolhida a atriz Francisca Gavilán, muitas vezes o efeito é mimético, ela consegue nos fazer vivienciar a atmosfera em conviver na realidade com Violeta Parra, tanto que nos leva a considerar aquela visão que aos mitos é melhor que ficquem distante, a convivência com eles será a própria demolição do mito e a construção do real. Conviver com Violeta Parra, creio que é a mesma coisa que conviver com Artaud, Piaf, Morrison e tantos outros que povoam nosso imaginário. A perspicácia, talento e sensibilidade da Violeta verdadeira a transforma numa antena de conflitos, aonde sonhos podem se tornar pesadelos.
Aos que pouco a conhecem, ou ao menos relacionando-a pela composição da famosa "Gracias a La Vida", descobre-se uma mulher de um sólido caráter e firme personalidade, uma pessoa/artista que não se conforma apenas em se comunicar numa linguagem, ela foi, tambem, uma pesquisadora musical com raízes na tradição cultural dos indígenas do Chile, estes como é sabido vivem uma existência de humilhações. E é neste espaço de trauma e frustrações que a poeta, pintora, bordadeira, ceramista e militante política aos 45 anos resolve zerar a vida com um tiro no cabeça.
Violeta Parra foi uma mulher e artista revolucionária. Deixou um legado, junto com seu irmão Nicanor na poesia e na música popular chilena. A composição "Gracias A La Vida" uma das mais, senão a mais famosa música de sua autoria é uma espécie de um paradoxal testamento, ao mesmo tempo que celebra a vida, esta é na verdade uma carta de despedida, Violeta Parra cometeria o suicídio no ano seguinte em que a escreveu e compôs, em 1967.
Gracias A La Vida
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el oído que en todo su ancho
Graba noche y día grillos y canarios
Martirios, turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él, las palabras que pienso y declaro
Madre, amigo, hermano
Y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida, gracias a la vida
Nenhum comentário:
Postar um comentário