Levado pelo meu filho Antonio (14), mais uma vez visitamos o acervo do MASP. Este é um lugar de grande intimidade para mim, frequento-o por mais de 4 décadas, conheço razoavelmente parte dos seus meandros. Aonde, também, fiz e ainda tenho alguns amigos, por que parte deles já atravessaram o rio da vida, mas deixaram de alguma maneira suas marcas inscritas nesta caverna.
Uma das referências marcantes do MASP, além do seu projeto arquitetônico, assinado por Lina Bo Bardi, com certeza se faz nos suportes de vidros aonde os quadros são expostos, fazendo uma paisagem oceânica de pintores de vários escolas ao longo dos séculos. Muito se escreveu e falou sobre esta ousadia e da forma como estes notáveis gênios da pintura se encontram ao alcance dos olhos do visitante.
Inclusive, por muitos anos, a curadoria do MASP, pós a morte do professor Pietro Maria Bardi, decidiram excluir os suportes transparentes de vidro sob uma base de concreto. E instituiram a mesmice das paredes, sonegando a originalidade expositiva imaginada pela arquiteta Lina Bo Bardi. E, por anos, infelizmente os quadros ficaram pendurados na parede.
Lina, quando decidiu por estes suportes, ela desejou criar uma relação íntima e didática entre o visitante e a obra, mesmo, e sobretudo que ele fosse um neófito conhecedor dos mestres da pintura. O visitante, caso não saiba quem é o artista que lhe causou alguma emoção, ele pode caminhar para a parte detrás, aonde poderá ter acesso as informações básicas do artista e da obra.
E, aí, mais uma vez encontrava-me no MASP, mas desta vez como convidado do meu filho, ele nada ou quase nada sabia destas histórias que narrei acima, daí a maravilha desta visita. A partir das reações deste jovem, como também de outros visitantes, observei que a premissa da arquiteta...As pessoas adentravam, penetravam naquela variedade de artistas e escolas...Ticiano aqui, um Rafael ali...um Bellini acolá..Andrea Mantegna e o impressionante "As Tentações de Santo Antão" de Hieronymus Bosh, mas adiante Nattier, Delacroix, Manet, Cézanne, Renoir, Toulouse-Lautrec, Gauguin, Monet, Van Gogh, Degas, Velasquez, Goya, El Greco, Turner, Frans Gals, Rembrant, Jan Van Donicke e o tempo se abre para mais ousadias...Torres Garcia, Diego Rivera, Calder, Siqueiros, Portinari, Brecheret, Flávio de Carvalho, Almeida Junior, Anita Malfatti, Volpi, Tarcila Amaral...Vicente do Rego Monteiro e a sua arte influenciada pela produção artísticas dos indígenas brasileiros. Os séculos se passam aos nossos olhos e imaginação numa caminhada.
E, eis que lá no fundão encontrei essa pérola, a escultura-objeto de Rubens Gerchman, meu mestre no Parque Lage (1977/78). Este trabalho tem um simbolismo daquilo que nós todos desejamos...ao menos uma lufada de vento fresco nos tempos que as liberdades individuais e coletivas encontram-se ameaçadas.
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