domingo, 14 de fevereiro de 2016

TRAGÉDIA APAGA MEMÓRIA DO CINEMA - Ricardo Cota


04/02/2016 00:00:00

Ricardo Cota: Tragédia apaga memória do cinema
Como bem disse o cineasta Aurelio Michiles, a memória não é estática

O DIA

Rio - O incêndio ocorrido esta semana na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, é mais uma triste página de uma das maiores tragédias da cultura brasileira: o descaso com a memória. Ainda vai levar um tempo para conhecermos a dimensão das perdas, mas infelizmente já se sabe que há obras destruídas pelo fogo que estão perdidas para sempre.

O grande jornalista Ivan Lessa dizia que o Brasil é um país que esquece da sua história a cada 15 anos. Infelizmente, a frase está desatualizada. Estamos esquecendo da nossa memória a cada 15 segundos. Vivemos a cultura Alzheimer, em que o que é feito hoje amanhã está condenado ao lixo. Perdemos a memória recente num átimo e descuidamos completamente da memória mais remota. Onde vamos parar? No vazio?

Como bem disse o cineasta Aurelio Michiles, diretor de ‘Tudo por Amor ao Cinema’, documentário dedicado a Cosme Alves Netto, mais importante curador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna e um símbolo da preservação cinematográfica, a memória não é estática.

Ontem, em conversa pelo celular, Aurelio, indignado com o trágico acidente desabafou: “O lugar em que se guarda a memória não é uma caixa fechada de nostalgias, a memória é dinâmica, ela precisa ser bagunçada, agitada, questionada, vivida. A memória não é um museu do futuro, do passado, mas a nossa vida vivida agora e sempre.”


A perda da memória de nossas obras de arte é um reflexo maior de uma grande crise nacional. Um país que não valoriza sua memória é um país que joga diariamente a sua própria história no lixo. Um país que não acredita que o vivido hoje é consequência de uma série de ações no passado está condenado a repetir erros, o que por sinal é o que vemos hoje aí, não só na cultura, mas no esporte, na política e no dia a dia. Quando um filme desaparece, some com ele um pedaço do país. Somem hábitos, costumes, arquiteturas, registros, pessoas. No fundo, a morte de um filme é também a nossa própria morte.

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.