Surge na tela de luz branca e fria o rosto impávido do vice Omar Suleiman, ele afirma que o Ditador renunciou...Um alívio? A resposta é NÃO. Ora, Suleiman é general, comandou o serviço de segurança do Egito, portanto (vá lá, mesmo que tenha diferenças), ele se manteve por três décadas como parceiro da ditadura. Agora vêm a publica (depois de pressionados durante 18 dias pela população)... Lá estava novamente a Imagem recorrente de Suleiman, um rosto sem expressão, parecendo uma máscara.Um Sarney.
Pela minha cabeça vem muitas referências...sou interompido por meu filho de 9 anos, acostumado a ouvir narrativas políticas ele me pergunta:
"- Pai quando a ditadura no Brasil acabou tambem foi assim, o povo foi pra rua?"
Até então não havia surgido na minha memória essa referência imediata com a queda da ditadura brasileira.
"DIRETAS JÁ!". Praça da Sé, São Paulo- Capital, 25 de janeiro de 1984.
Sim, fazia vinte anos em que o Brasil encontrava-se sob um regime de exceção, o país encontrava-se comandado pelo general Figueiredo, típica caricatura do carioca machista falastrão, a sua língua solta contrariava a sua trajetória pessoal, havia sido nada menos que o chefe do todo-poderoso e onipresente SNI-Serviço Nacional de Informação, os olhos e ouvidos da ditadura.
Naquele dia 25 de janeiro, meio milhão de pessoas se reuniram no "marco zero" da capital paulista, no dia em se comemorava o aniversário da cidade, mas elas não estavam aí pra isso, foi uma multidão para mostrar que estávamos fartos dos desmandos da Ditadura, queríamos democracia, liberdade - fim da corrupção, da inflação e do desemprego.
Queríamos e almejávamos um mundo melhor, ao menos pra nós brasileiros cansados de levar porradas em todos os sentidos.
A noite quando milhões de brasileiros reuniram-se em seus lares para assisitr TV e se informar dos últimos acontecimentos no Brasil e no exterior, pensávamos que esta seria a chance do movimento das "Diretas Já!" cair no domínio do povo, mas que nada, grande foi a frustração quando o "Jornal Nacional" (TV GLOBO) não noticiou.
Aquela reunião de meio milhão cidadãos paulistanos exigindo uma mudança no cenário político do país viu-se sonegado, aliás uma decisão tomada em conluio entre o proprietário das Organizações Globo, o jornalista Roberto Marinho com a censura da ditadura brasileira.
Mas não pensem que aquela multidão reunida na praça Tahrir, no Cairo tambem não sofreu tentativas em torná-la invisível da maioria da população. A máquina repressiva da ditadura egípcia tentou fechar agências de noticias, prender, assassinar e expulsar jornalistas que faziam os registros daquele movimento que tinha superado todas as expectativas, suplantado as velhas lideranças religiosas, militares e dos tradicionais partidos políticos. Um movimento que têm como evidência a juventude e esta havia sido mobilizada através da rede mundial das infovias, não teve quem e como impedir que esses sinais virtuais se propagassem e se transformassem em fagulhas reais exigindo transformações.
Talvez nunca num curto espaço de tempo um ditador ficou tão popular e odiado mundialmente como Hosni Murabak.
Mantida a proporção dos fatos (Praça da Sé,1984 e Praça Tahrir, 2011), mas mantendo as mesmas exigências de mudança por democracia e liberdade, essas duas manifestações populares acabaram por acelerar a agonia tanto da ditadura brasileira como da egípcia de Hosni Mubarak.
O meu filho ainda faz uma última pergunta:
"- Pai, qual ditadura foi pior, a do Brasil ou do Egito?"
"- Nenhuma, todas são iguais. O importante é a liberdade e o fim de todas as ditaduras.
O Brasil dos meu filhos é uma democracia, mas o Sarney(Suleyman)permanece em nosso cotidiano como imagem recorrente de uma maldição.
8 comentários:
O Mubarak foi empossado pelos Estados Unidos após o assassinato do Sadat, e sempre ficou no papel do lacaio norteamericano - assim como aconteceu com o Sadam Hussein, no Iraque, "inventado" pelas Star and Stripes na época da guerra contra o Iran, Khomeini e os ayatollahs. É curioso, pelomenos, notar como, quando todos esses fantoches não têm mais utilidade, de repente, dans l'espace d'un matin, os EUA tiram formalmente o apoio eo cara em questão vai para Sharm-el-Sheik ou para PQP... Mas não tiram, afinal,o poder, pois, como vc ressalta, Aurélio, o vice comeu e come o mesmo pão... Não é?
...é a maldição da múmia! Seria trash, tipo filme B caso não fosse realidade. O cara saiu do palácio carregando caixas com barras de ouro e mais de cem malas. Tudo combinado, ele agora, descansa em seu paraíso. Piada de mau-gosto, mas observemos o caso Sarney, homem permanece...ARENA, PDS, PMDB e vai...
O importante é que Mubarak saiu por pressão popular... Essa é a grande vitória do povo egípcio!
Um grande exemplo a ser seguido por nós brasileiros... a pressão popular é a melhor das armas...contra os desmandos!
Anete, nós já demonstramos várias vezes a capacidade de mobilização popular, inclusive as Diretas Já e o impeachment contra Collor...A questão que se coloca é quanto a herança malditas, as múmias que insistem em permanecer vivas no centro do Poder.
a pressão popular tem agora um aliado "indomável": a internet. estivesse ela presente quando a globo, em 84, ignou o movimento, tudo seria diferente. a informação se alastra como fogo... e ninguém segura!
...vivemos aquela realidade imaginada nos anos sessenta- "aldeia global- isto faz a diferença, estaremos e permaneceremos conectados...
Aurélio, só não pode trocar uma Ditadura pela outra, agora com os militares... (e o Sarney que por aqui ainda "reina": ninguém merece!)
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Beijos,
Juliana Hatoum
Democracia sempre foi uma conquista, mesmo em continentes declaradamente abertos ao dialogo tbm caíram no "encanto" de ditaduras: nazifascismo, estes que ainda hoje insistem em manter como assombração. Por aqui a gente vai levando...conquistando passo-a-passo a cultura democrática, veja até nos EUA que se declaram fiéis a esses princípios, ali viceja um ódio contra o OUTRO, e eles costumam resolver suas diferenças com assassinatos.
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