No dia seguinte do meu retorno a São Paulo, uma amiga quer saber sobre Havana, logo respondo-lhe que enquanto estive lá, Manaus, a cidade onde nasci não saía da minha cabeça, memória recorrente entre aquela paisagem carregada de significados revolucionários e utopias. A minha amiga interrompe-me e diz, “puxa, tu não consegues deixar Manaus de lado, até em Cuba...”. Realmente não consegui.
Havana sei não, mas bateu uma paisagem sentimental de Manaus da minha infância, (mantenho certa distância), sei do significado revolucionário de um grupo de jovens rebeldes que conquistaram o poder atraves da guerra de guerrilhas, derrubaram uma sanguinária ditadura e derrotaram, posteriormente, militarmente os Estados Unidos da América do Norte, simplesmente a nação mais poderosa do mundo, esta em outras circunstâncias não admitiu nenhum governo latino-americano e caribenho que contrariasse a sua hegemonia continental.
Quando Cuba optou ideologicamente pelo sistema socialista aonde o poder emana do Estado, aproxima-se da ex-URSS, e torna-se barganha no jogo entre as super-potências no contexto da Guerra Fria: Capitalismo X comunismo ou Mercado X Estado.
O fascínio rebelde guerrilheiro atinge proporções planeárias, ainda mais que numa outra ilha, quatro cabeludos agitavam, transgrediam e levavam a juventude a loucura rebelde através da música, numa palavra: THE BEATLES. Enquanto a revolução cubana já havia forjado seu ícone: CHE GUEVARA.
E como impedir que esse contágio se tornasse real? Somente matando fisicamente. E foi que fizeram, procurado morto ou vivo, numa caçada implável através dos continentes. Em outubro de 1967, Che é encontrado vivo e assassinado covardemente. Por mais que se tomasse todas as providencias de elimina-lo da face da terra, Che tornou-se num exemplo de audácia, coragem e jovem pra sempre.
No Brasil, já em 1964, as forças conservadores brasileiras, aliadas aos EUA conspiram e derrubam João Goulart e instalam uma ditadura com nova face, artimanha foi a seguinte: De quatro em quatro anos generais seis estrelas se revezam no poder.
A fórmula foi um sucesso, tanto que o governo Nixon declarou, “pra onde for o Brasil irá toda a America Latina”, e não deu outra, até o final dos anos 70 todos os paises encontravam-se son férrea ditadura. Cuba, Fidel, Che eram figuras exconjuradas, sonegados de existirem aos olhos de quem vivesse no Brasil, inclusive (ironicamente) nos passaportes nacionais tinha um carimbo: “Não é válido para Cuba”.
Esse imaginário foi forjado no meu inconsciente, por mais que tivesse consciência do significado tirânico. Passei uns 20 anos sendo convidado por Cosme Alves Netto (1937-1996) para visitar Havana, nunca consegui acompanha-lo (por diversas razões), eis que agora estou em Cuba por conta, incrivel, justamente por causa do Cosme. Busco reunir causos, pistas da sua trajetoria como artifice de muitos eventos que envolvem o intercâmbio latino-americano através do cinema. Ele, o Cosme é o personagem do meu documentário “Tudo Por Amor Ao Cinema”.
Mas o que bate de cara entre Manaus e Havana…os belos casarões abandonados, a dificuldade de comunicação, não existia TV, coca-cola, sorvetes kibon, não havia fornecimento regular de água e energia elétrica, os transportes coletivos eram construídos a partir de caminhões aonde adaptavam-se a carcaça para os passageiros. Não eram rigorosamente feios, tinham um charme. Em resumo problemas de toda ordem, então...essa foi a Manaus que vivi aos 10 anos de idade.
A vida em Havana é dura, sobretudo para quem se encontra acostumado com as novas mídias, falar no celular, internet (facebook, twitter etc), é o momento e o lugar para esquece-los, relaxar e procurar se reencontrar numa outra dimensão, funciona.
Os cinema de ruas (e são muitos) encontram-se lotados, filas enormes se aglomeram para se encontrar um lugar e assistir algum filme do Festival de Cinema. O fervor religioso dos cubanos está presente nas ruas, seja católico ou de origem Africana…parece refletir uma ansiedade do vazio deixado pela presença carismática de um lider permanente e que hoje encontra-se recluso. Tudo isso sob ruídos aqui e ali de música que se propagada desde um bar, boteco, esquina, rua, avenida ou dos automóveis, sim estes, apesar de cada vez mais se transformarem em peças de um museu vivo, inclusive por que os turistas pagam alguma grana para passearem naqueles modelos anos 50. Os jovens em hordas passeiam até as 06 da manhã no “Passeo”.
A juventude cubana como algo inerente aos jovens sente-se em sintonia com o mundo exterior, suas antenas genéticas buscam sinais trangressores.
Havana, aonde existe (talvez), intacto, o último patrimônio arquitetônico e urbanístico diversificado das Américas e Caribe, justamente pelo modelo econômico-político cubano prevalece uma paisagem acolhedora, mas a pressão para que tudo isso acabe é enorme (inclusive por parte da população)...como sou duma Manaus e tantos outras cidades brasileiras que nos últimos 40 anos testemunharam (muitas vezes silenciosamente) a destruição do seu patrimônio arquitetônico e urbanístico, diante disso fica a sensação que esse negócio de "progresso" é uma carta anônima enviada pelo demônio.
Precisamos rever urgentemente, senão restará apenas um pesadelo...
Ah, sim, aquela amiga comentou sobre a minha memoria arraigada em Manaus, certo, certo…algo drummoniano na sua “Confidência Itabirana”- Sentimento do Mundo.
“Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!”
E HAVANA? CUBA?
COM CERTEZA ENCONTRA-SE PENDURADAS NO HORIZONTE DA MEMÓRIA.
Havana sei não, mas bateu uma paisagem sentimental de Manaus da minha infância, (mantenho certa distância), sei do significado revolucionário de um grupo de jovens rebeldes que conquistaram o poder atraves da guerra de guerrilhas, derrubaram uma sanguinária ditadura e derrotaram, posteriormente, militarmente os Estados Unidos da América do Norte, simplesmente a nação mais poderosa do mundo, esta em outras circunstâncias não admitiu nenhum governo latino-americano e caribenho que contrariasse a sua hegemonia continental.
Quando Cuba optou ideologicamente pelo sistema socialista aonde o poder emana do Estado, aproxima-se da ex-URSS, e torna-se barganha no jogo entre as super-potências no contexto da Guerra Fria: Capitalismo X comunismo ou Mercado X Estado.
O fascínio rebelde guerrilheiro atinge proporções planeárias, ainda mais que numa outra ilha, quatro cabeludos agitavam, transgrediam e levavam a juventude a loucura rebelde através da música, numa palavra: THE BEATLES. Enquanto a revolução cubana já havia forjado seu ícone: CHE GUEVARA.
E como impedir que esse contágio se tornasse real? Somente matando fisicamente. E foi que fizeram, procurado morto ou vivo, numa caçada implável através dos continentes. Em outubro de 1967, Che é encontrado vivo e assassinado covardemente. Por mais que se tomasse todas as providencias de elimina-lo da face da terra, Che tornou-se num exemplo de audácia, coragem e jovem pra sempre.
No Brasil, já em 1964, as forças conservadores brasileiras, aliadas aos EUA conspiram e derrubam João Goulart e instalam uma ditadura com nova face, artimanha foi a seguinte: De quatro em quatro anos generais seis estrelas se revezam no poder.
A fórmula foi um sucesso, tanto que o governo Nixon declarou, “pra onde for o Brasil irá toda a America Latina”, e não deu outra, até o final dos anos 70 todos os paises encontravam-se son férrea ditadura. Cuba, Fidel, Che eram figuras exconjuradas, sonegados de existirem aos olhos de quem vivesse no Brasil, inclusive (ironicamente) nos passaportes nacionais tinha um carimbo: “Não é válido para Cuba”.
Esse imaginário foi forjado no meu inconsciente, por mais que tivesse consciência do significado tirânico. Passei uns 20 anos sendo convidado por Cosme Alves Netto (1937-1996) para visitar Havana, nunca consegui acompanha-lo (por diversas razões), eis que agora estou em Cuba por conta, incrivel, justamente por causa do Cosme. Busco reunir causos, pistas da sua trajetoria como artifice de muitos eventos que envolvem o intercâmbio latino-americano através do cinema. Ele, o Cosme é o personagem do meu documentário “Tudo Por Amor Ao Cinema”.
Mas o que bate de cara entre Manaus e Havana…os belos casarões abandonados, a dificuldade de comunicação, não existia TV, coca-cola, sorvetes kibon, não havia fornecimento regular de água e energia elétrica, os transportes coletivos eram construídos a partir de caminhões aonde adaptavam-se a carcaça para os passageiros. Não eram rigorosamente feios, tinham um charme. Em resumo problemas de toda ordem, então...essa foi a Manaus que vivi aos 10 anos de idade.
A vida em Havana é dura, sobretudo para quem se encontra acostumado com as novas mídias, falar no celular, internet (facebook, twitter etc), é o momento e o lugar para esquece-los, relaxar e procurar se reencontrar numa outra dimensão, funciona.
Os cinema de ruas (e são muitos) encontram-se lotados, filas enormes se aglomeram para se encontrar um lugar e assistir algum filme do Festival de Cinema. O fervor religioso dos cubanos está presente nas ruas, seja católico ou de origem Africana…parece refletir uma ansiedade do vazio deixado pela presença carismática de um lider permanente e que hoje encontra-se recluso. Tudo isso sob ruídos aqui e ali de música que se propagada desde um bar, boteco, esquina, rua, avenida ou dos automóveis, sim estes, apesar de cada vez mais se transformarem em peças de um museu vivo, inclusive por que os turistas pagam alguma grana para passearem naqueles modelos anos 50. Os jovens em hordas passeiam até as 06 da manhã no “Passeo”.
A juventude cubana como algo inerente aos jovens sente-se em sintonia com o mundo exterior, suas antenas genéticas buscam sinais trangressores.
Havana, aonde existe (talvez), intacto, o último patrimônio arquitetônico e urbanístico diversificado das Américas e Caribe, justamente pelo modelo econômico-político cubano prevalece uma paisagem acolhedora, mas a pressão para que tudo isso acabe é enorme (inclusive por parte da população)...como sou duma Manaus e tantos outras cidades brasileiras que nos últimos 40 anos testemunharam (muitas vezes silenciosamente) a destruição do seu patrimônio arquitetônico e urbanístico, diante disso fica a sensação que esse negócio de "progresso" é uma carta anônima enviada pelo demônio.
Precisamos rever urgentemente, senão restará apenas um pesadelo...
Ah, sim, aquela amiga comentou sobre a minha memoria arraigada em Manaus, certo, certo…algo drummoniano na sua “Confidência Itabirana”- Sentimento do Mundo.
“Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!”
E HAVANA? CUBA?
COM CERTEZA ENCONTRA-SE PENDURADAS NO HORIZONTE DA MEMÓRIA.
Um comentário:
UMA VEZ ESCREVI NO MURAL DO MEU MSN, FAZENDO REFERENCIA AO DESCASO DA FAMILIA DO MEU PAI PARA COM A MINHA "EU ME SINTO UMA CUBA SOFRENDO O EMBARGO DOS DONOS DO MUNDO POR MEIO DOS QUE ME RODEIAM". ACREDITO QUE ALGUEM QUE DESCREVEU TAO BEM A SITUAÇÃO EM QUE SE ENCONTRA HAVANA E QUE CARREGA TAMANHA SENSIBILIDADE GENETICA ENTENDE PERFEITAMENTE O QUE EU QUIS DIZER.... OBRIGADA PELAS BELAS PALAVRAS E PELA CONSCIENCIA HISTÓRICA QUE O TEXTO TRAZ
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