É isso: um filme é um filme, é um filme.
No cinema ao contrário da vida é assim: vai-se a vida e fica-se com as imagens.
No cinema ao contrário da vida é assim: vai-se a vida e fica-se com as imagens.
Desde quando li (2003) COSMOPOLIS de Don DeLillo fiquei arrebatado pela história do multimilionário Eric Michael Packer, 28 anos, ao mesmo tempo que bateu um cagaço que um produtor de cinema quisesse adaptá-lo nos moldes rolliudiano: produção tomada por efeitos de superatividade na montagem, num clip eletrizante e apocalíptico, com vulgar cenas de sexo e "edificantes diálogos". Pensei positivamente, "tomara que nunca façam o filme".
E, eis que o diretor David Cronenberg resolveu encarar o desafio desta adaptação de Cosmopolis ao cinema. Ele declarou que depois de ler o romance separou os diálogos e desta lista constatou que aí existia (pronto) um roteiro. Outro desafio foi encontrar um ator para interpretar Eric Michael Packer, e o escolhido foi Robert Pattinson, o ator que ficou famoso ao interpretar o melancólico vampiro - Crepúsculo... Esta escolha foi sintomático e não uma mera coincidência. Robert Pattinson é um ator "persona" destes tempos contemporâneos. E convence tambem como protagonista de Cosmopolis com desafio e talento.
Podemos fazer um paralelo de Cosmopolis com o expressionismo alemão quando ele foi a metáfora diante das incertezas daqueles anos (final anos 10/início anos 30) quando o totalitarismo e a intolerância em suas várias dimensões rondava o planeta, e o cinema alemão soube responder as ansiedades daquele momento histórico (desemprego, miséria, inflação), em filmes como Metrópolis, Dr. Mabuse, M - O Vampiro de Dusseldorf (Fritz Lang). Ou mesmo nos filmes norte-anericanos de Frank Capra: A Felicidade Não Se Compra, Do Mundo Nada se Leva, Esse Mundo É um Hospício.
Tenho lido e conversado com várias pessoas que não gostaram do filme Cosmopolis (Cronenberg), mas ao contrário destas pessoas que acusam o filme em ser verborrágico, arrogante ou de esnobismo intelectual, sinceramente, por discordar, sou motivado a postar aqui a minha opinião.
Gostei do filme. Tambem é verdade, existe momentos que ficamos assoberbados pela quantidade de diálogos, e nem é exatamente por causa dos diálogos em si, mas no carregamento das metáforas e significados que estes diálogos mais as imagens provocam em nossa imaginação.
Em outros momentos encontrei-me hipnotizado pela narrativa do filme, pelo ator e no vai-e-vêm dos personagens e das situações cênicas aonde vamos numa espécie de Alice no Pais das Maravilhas caindo em labirintos, percalços, vaidades e ao destino traçado na ponta da agulha de uma arma: "Cortem-lhe a cabeça!"
Mas mesmo fazendo um paralelo com aqueles filmes expressionistas citados acima, em que as pessoas trabalham numa linha de montagem, neste filme (Cosmópolis), os homens encontram-se nas ruas indignados por falta de empregos, perspectivas... O único que se encontra sob os ganhos da riqueza encontra-se ali, dentro da limousine, máquina digital e seus aplicativos nas mãos do senhor do dinheiro e do poder. Cercado por desempregados (ou "fracassados" - no dizer do mundo neoliberal). E olhe que ele (Eli Michael Packer) nem tem 30 anos..."não acreditem em ninguem com mais de 30 anos". Sentado no seu trono dentro do seu sarcófago-limousine. Mas o que é uma limousine? Senão a máquina-metáfora do século XX, aquela inventada para nos levar mais rápido, mas hoje, e ali, por causa dos engarrafamentos, o conduz numa velocidade menor do que uma bicicleta. Ali dentro não existe amor, afeto, existe interesse, objetivo, estratégia: o alvo X o passado.
O único desapontamento de Eric Packer acontece ao se confrontar com o jovem ainda mais jovem, de 22 anos. E, este, identifica num computador, sinais promissores que Eric não consegue enxergar no mercado de ações. Aí, é o momento em que ele percebe que algo acontece, e o ameaça: a crise e o cáos.
Cósmopolis de David Cronenberg é aquele filme que ao passar dos anos só cresce de importância e significado. A metáfora que ele engendra pode ser o vírus que nos impede de compreende-lo integralmente - NOW.
2 comentários:
Aurélio, assisti Cosmopolis ontem e sai completamente aturdida, desorientada e angustiada. Como a angústia é um sinal e acaba nos mostrando algo, estou na expectativa de conseguir digerir, ainda.
O filme é tão verdadeiro, nos mostra detalhes da nossa loucura contemporânea.
Eu li o livro há alguns anos atrás e gostei muito. Vou ter de assistir novamente. Estou muito intrigada...
Vânia, é isto, ele nos deixa aturdido...e não é diferente diante das indagações coletivas sobre esse nosso espaço-tempo.
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