Finalmente chegou a vez de assistir ao filme "Que Horas Ela Volta?"
... Fui na sexta-feira, dia 11, às16h20, no Cine Belas Artes e para inicio de conversa, a sala estava quase lotada. Que coisa boa! E isto me encheu de alegria.
Este filme da Anna Muylaert é carregado de significados, um assunto cabeludo, ainda tabu entre nós, quase sempre tratado como caricatura. A diretora não se intimidou diante do assunto, tanto que elabora uma dramaturgia que não turva as emoções do espectador; afinal, deveria ser diferente?
Aqui neste filme da Anna temos a oportunidade rara de nos ver no espelho do perverso "pathos social" brasileiro: "a empregada doméstica", "o quarto-de-empregada". Isto que é a própria permanência das precárias e arcaicas relações na construção de um país justo. Cinicamente, muitos brasileiros ainda insistem nesta permanência. E, conseguiram, o mercado imobiliário de Miami (EUA), incorporou nas edificações (exclusivo aos brasileiros) justamente o (in) cômodo "quarto-de- empregada". A "casa grande" insiste manter para si este hediondo espaço para suas transgressões morais e assédios sexuais.
A identificação do público brasileiro com o filme vem muito da catarse que todos nós estamos submetidos para compreender o nosso país diante das fortes mudanças que aconteceram nos últimos 10 anos, uma ascensão de classe, com o no caso da Val (empregada doméstica), imigrante nordestina que chegou em São Paulo em busca de uma "vida melhor". A dissolução da sua família em sua cidade de origem é apenas aparente. Tudo fica muito claro quando ela recebe a filha Jessica (Camila Márdia) em sua casa e que é o "quartinho" na casa aonde trabalha. A principio a idéia de receber a filha é bem recebida pela família, somente depois quando se revela os desejos da "filha da empregada": veio prestar vestibular...e não somente isso...para "arquitetura" e não somente isso...na "FAU-USP"!
Diante desta realidade a hospitalidade da família se coloca em confronto com as conquistas e fracassos do filho dos patrões, Fabinho (Michel Joelse) que também vai prestar o vestibular. Jessica, a filha de Val, a empregada, "uma pessoa como se fosse quase da família" coloca a nu as verdadeiras relações sociais daquele "pathos" de uma família burguesa a partir da chegada desta nada misteriosa, mas desafiadora hóspede. O drama familiar se estabelece entre os patrões e a própria relação entre Val (empregada doméstica) e Jessica ( a filha deixada para ser criada no nordeste). O conflito se expõe e o filme cresce.
O carisma da atriz Regina Casé e o seu talento sempre pouco explorado mais uma vez neste filme "QUE HORAS ELA VOLTA?", ela brilha e nos faz lembrar da sua magnífica interpretação naquele outro filme "Eu, Tu, Eles"( Andrucha Waddington).
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