A Ancine anunciou neste inicio de outubro, a existência de 3 mil salas no Brasil. É uma marca histórica da retomada da rede de exibição no país, ainda carente não somente destas salas formais, mas, sobretudo de espaços alternativos aonde a produção nacional possa ficar ao alcance da curiosidade dos seus potenciais espectadores.
E como o cinema é o retrato da sociedade, as atuais salas, existem na clausura das cidadelas neo-feudais (shopping center). Enquanto que o cinema de rua foi varrido para a memória do século XX.
Em Manaus, guardo na minha memória de infância vários destes cinema, mas o Cine Guarany tem lugar privilegiado na minha (nossa) memória manauara. O
Guarany fez história, cantada em prosa e verso, virou lenda. É verdade que quando me dei conta, ele já se encontrava rumo à decadência, mas nem por isso deixei de ama-lo.
A sua história inicia-se com o nome Theatro-Cinema Alcazar...frequentado somente pela elite, depois se transformou no lendário CINE GUARANY e aí se tornou num lugar preferido do povão. Como sempre e ainda mantendo as características originais influenciada pela arquitetura mourisca - como o próprio nome indica, Al-cazar -, localizava-se ao meio de um bosque, um oásis de frescor que oferecia conforto aos usuários:
"Ventilado Entre Bellos Jardins Arborizados".
Nas sessões noturnas, na calorenta Manaus, as portas da sala se mantinham abertas e se podia do lado de fora dos seus muros, ouvir os diálogos e tudo mais que a imaginação poderia alcançar sobre um filme.
Finalmente, em 1984, mesmo depois de um grupo de amazonenses mostrarem-se contrários ao desmanche daquele importante legado arquitetônico, o Cine Guarany veio abaixo para dar lugar a uma agência bancária, será que não poderiam adapta-la a uma agencia do Banco Itaú? Não seria uma sofisticação de manutenção e preservação histórica? Sofisticação...era justamente isso que faltou e como canta Caetano Veloso:
"Triste Bahia (Manaus), oh, quão dessemelhante/A ti tocou-te a máquina mercante/Quem tua larga barra tem entrado/A mim vem me trocando e tem trocado/Tanto negócio e tanto negociante."
Nenhum comentário:
Postar um comentário