Pronto...se encontram no céu do cinema três dos mais importantes personagens desta constelação, aqueles que deram substância aos nossos filmes: Carlos Manga, Nelson Pereira dos Santos e Roberto Farias. Os três de alguma forma beberam na fonte das chanchadas brasileiras e eles foram seus melhores herdeiros. Evidentemente que cada um de uma maneira. O cinema brasileiro foi e é marcado pela produção diversificada destes três expoentes, eles que aprenderam fazer fazendo, aprenderam naquela perspectiva de Humberto Mauro: "A escola de cinema do brasileiro é vê-ver, assistir".
No caso da perda mais recente se refere ao grande diretor de obras importantes da nossa filmografia, um exemplo de diversidade de gêneros e referência para todas as gerações: "Rico Ri à toa"(1957), "No Mundo da Lua"(1959), "Um Candango na Belacap"(1961),"Roberto Carlos em Ritmo de Aventura" (1968),"Roberto Carlos a 300 km por hora"(1971), "Roberto Carlos e o diamante cor de rosa" (1970), "Fabuloso Fittipaldi" (1973)-doc em parceria com Hector Babenco, "Toda Donzela Tem Um Pai Que É Uma Fera"(1966), "Selva Trágica"(1963), "Cidade Ameaçada"(1960), "O Assalto ao Trem Pagador"(1962), "Pra frente Brasil"(1981). Dirigiu importantes séries na TV, como "Memorial de Maria Moura"(1994), adaptação do livro de Raquel de Queiroz; "A Máfia no Brasil" (1984); "As Noivas de Copacabana" (1992); "Contos de Verão" (1993); "Menino do Engenho" (1993) e "Decadência" (1995).
Quando esteve à frente da Embrafilme e do Concine produziu, em parceria com Gustavo Dahl, filmes de várias correntes , desde as produções comerciais aos mais autorais de Glauber Rocha e de Nelson Pereira dos Santos, transformando a distribuidora Embrafilme em líder do mercado por três décadas - um período em que o público pagante dos filmes brasileiros superou as produções estrangeiras, incluindo as hollywoodianas.
Em 2013, encontrei pela primeira com Roberto Farias, foi durante o 10º Amazonas Film Festival e numa conversa amistosa ele me disse ter assistido dois dos meus documentários: "O Cineasta da Selva"(1997) e "Que Viva Glauber!" (1991). Senti-me lisongeado, sequer lhe perguntei se gostou ou não, estava agradecido por ele ter conhecimento daqueles dois documentários. Não era pouco, estava diante de Roberto Farias, o diretor do clássico "O Assalto Ao Trem Pagador" (1962) e "Pra Frente Brasil" (1982) aonde a violência brasileira é tratada por viés diferentes. O primeiro filme se trata da violência social e o segundo sobre a violência da ditadura exposta desde o cartaz do filme - a foto do protagonista (Reginaldo Farias) um homem comum sem envolvimento politico ideológico-partidário é exibido de cabeça pra baixo como estivesse no "pau-de-arara", um notório instrumento de tortura. Caso, Roberto Farias tivesse feito somente estes dois filmes já seria o suficiente para eleva-lo ao céu do cinema, mas felizmente ele produziu muito mais.
A generosidade e amor pelo cinema de Roberto Farias está expresso nas palavras que disse ao receber a homenagem no 10º Amazonas Film Festival, simplesmente dedicou aos profissionais do cinema:
“Sinto que não é apenas para minha pessoa, mas ao cinema brasileiro e tudo que eu contribuí para ele”.
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