- antonio e aurelio michiles, UnB 2009 -
Hoje, 21 de abril, é um dia muito especial.
Brasília cincoentona, meio século, mas tambem não é só por isso, e sim o que ela significa para cada um de nós que foi tocado por essa paisagem paradoxal e verdadeira: o cerrado bruto e a delicadeza do imaginário modernista-futurista.
Eu, com meus 16 anos desembarcando na Capital Federal, 1968...todos os seus significados. Politizado, mas sexualmente virgem. Conheço a primeira mulher e me apaixono, vibro de felicidade, sofro.
- Ai, o Amor!
...As organizações políticas clandestinas, a legalidade, a luta armada... fui em direção aos sons da guitarra de Jimi Herndrix. Sexo, drogas e o rock (tambem muito jazz, baião, bossa nova, MPB e que tudo mais que vá para o inferno!). A luta pela permanência plena das liberdades.
Fiz muitas amizades em Brasilia, mesmo assim sentia-me sozinho, solitário...tempos depois descobrir não tinha haver com Brasília, nem com Manaus... Vamos em frente.
Brasília significa tantas coisas, a beleza, a ousadia e a trangressão. Uma sensibilidade numa correnteza contra a província, mesmo assim permanecendo assim mesmo, meio caipira e meio besta-fera cosmopolita.
Brasilia é o desejo de pôr os pés na estrada, em se jogar no mundo de sete léguas, como fizeram milhares de brasileiros e que aqui foram denominados de "candango". Tudo isso olhando no álbum da memória me toca tão bem, numa sintonia em performance de violino e piano.
Em Brasília realizei meu primeiro filme (Super8) "Bras-ilha, estórias, costumes e lendas"(1972), estudei artes e arquitetura, fui professor artes cênicas no SESI-Taguatinga, depois de 5 meses viajando pela América do Sul, numa aventura seguida por outros amigos brasilienses (Armandinho Rollemberg, Luiz Claudio (Fai-Fai), João Bosco, Alex e Nestor + Xico Chaves), estávamos presentes em momentos históricos significativos da Argentina (Peron), Chile (Allende) e Peru (Alvarado)...
No Peru depois de um encontro inusitado em plena Plaza del Sol-Miraflores com Glauber Rocha, eu e Armandinho compartilhamos segredos, reflexões, angústia artística e existencial deste brasileiro genial, depois, ele nos levou a casa (jantar) de Darcy Ribeiro, aonde o mestre pediu que falássemos sobre Brasília e a sua UnB. Dois meses depois de volta ao Brasil vindo de Manaus a Brasília fui sequestrado, a luz do dia no aeroporto de Brasília, encapuzado e jogado as bestas feras dos orgãos de repressão - junho de 1973.
Mas tudo isso, assim, visto hoje, Brasília permanece como a barbárie/utópica daquele desafio recorrente:
"o sertão vai virar mar /o mar vai virar sertão".
Brasília não é o reflexo, é o espelho do Brasil.
A imagem que os brasileiros vêem não lhes agrada.
Aí amo tudo que vivi, e aproveito pra agradecer-lhe ter te conhecido e mantido por tantos tempos essa amizade, Brasília.
Morador adolescente e ex-aluno do Elefante Branco e da UnB.
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