No filme-documentário
"AMIZADE" de Sérgio Muniz
(um dos discípulos de Thomaz
Farkas, ele integrou a famosa
produção de documentários
que ficou conhecida como
"Caravana Farkas" (1), o crítico
Jean Claude Bernadet deu
como exemplo de amizade
intrínseca ao carisma do
Thomaz, ele diz:
"Farkas é o tipo do cara que
você conhece e logo quer ser
amigo".
Em Manaus (anos 60) no Cine Clube atraves do Cosme
Alves Netto (tambm grande amigo do T.F.) tive a
oportunidade e privilegio em assistir algumas das
produções realizadas pela "Caravana Farkas". Saltava-me
aos meus olhos um Brasil que desconhecia, eram
personagens que me davam uma identidade e mostravam
como viviam aqueles brasileiros no limite do arcaico
profundo: feudal, messiânico e épico. Um Brasil da seca em
confronto com meu imaginário de região úmida. Era o Brasil
nordestino da caatinga que havia conhecido lendo
Graciliano Ramos - "Vidas Secas" e Euclides da Cunha - "Os
Sertões".
Sabia alguma coisa daquilo tudo através do meu avô
materno, Mestre Joaquim que veio de Sobral fugindo da
seca e da miséria para tentar uma vida melhor na selva
amazônica, era o tempo da coleta da borracha, mas o meu
avô assustou-se com a dimensão da selva, fugiu do
seringal e veio procurar abrigo numa pequena cidade as
margens do rio Maués (Maués), e aí mostrou que era um
homem de moral e valor, tinha uma profissão. Passou a
construir casas, cadeiras, mesas e foram tantos os pedidos
que ficou afamado com o nome de "Mestre Joaquim". Ele era
um homem vitorioso, havia escapado da miséria da seca e
da armadilha dos seringais, donde em geral não se sai vivo
e nunca se consegue pagar a dívida: escravidão do débito.
Nos anos 80 quando vim para São Paulo para participar da
equipe que criou o programa "Globo Ciencia", num deles
tinha como personagem o cientista e sambista Paulo
Vanzolini, e de quem fiquei amigo. Não foi uma vez e sim
muitas vezes que Vanzolini - um grande contador de
historias - falava sobre a viagem que fez com o Thomaz
Farkas, logo depois do Golpe 1964, ele havia se refugiado
no barco do Vanzolini para se proteger das investidas
obtusas dos golpistas.
No final dos anos 90 aconteceu de conhecer mais de perto
Thomaz Farkas, oportunidade de conviver nos festivais de
cinema, sobretudo na Jornada do Guido Araujo -Salvador
Bahia e depois quando realizei o docBairros "Higienopolis"
ele topou gravar uma participação, e agora quando nos
preparava para ele gravar um depoimento sobre Cosme,
meu próximo documentário, ele não conseguiu.
Mas ainda não contei o principal... nós éramos
companheiros do Café da manhã, aos domingos na Padaria
Aracajú: Thomaz e Marly (algumas vezes eles traziam a
"Chica", uma simpática cadela), eu e o meu filho Antonio.
...Thomaz embarcou no trem das estrelas. Deixou um
legado de criação, invenção, irreverência, audácia e coragem
na vidArte.
- THOMAZ FARKAS, VIVA! (2)
(1) Caravana Farkas é o um conjunto de 20 documentários produzidos por Thomas Farkas entre 1964 e 1969. E que tem como diretores Sergio Muniz, Geraldo Sarno, Paulo Gil Soares entre outros.
(2) Thomaz Farkas: Uma Antologia Pessoal
Onde: Instituto Moreira Salles-SP (rua Piauí, 844, 1°andar – São Paulo/SP)
Quando: Abril/maio. De terça a sexta-feira, das 13h às 19h; sáb. e dom., das 13h às 18h.
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