domingo, 21 de fevereiro de 2016

ARQUITETO SEVERIANO, UM PORTO ENTRE CULTURAS

A minha homenagem ao Arquiteto Severiano Mário Porto, no dia em que completa 86 anos. 
Aurélio Michiles, fevereiro 2016.

As obras do arquiteto Severiano Porto, dialogam com a sabedoria herdada dos ancestrais indígenas, estes que mantém um cotidiano no meio das águas na região florestal mais alagada do planeta. Talvez, esta, tenha sido as primeiras impressões deste visitante mineiro ao navegar pelos rios amazônicos, observar as edificações dos índios e dos caboclos que estrategicamente escolhem o lugar onde fincar as palafitas recuadas na floresta ou no alto das barrancas protegidas da enchente e da erosão. Essas edificações são erguidas com vigas de madeiras entrelaçadas, sustentadas por grossos troncos. O seu sistema de ventilação faz com que sejam muito arejadas, frescas no verão e quentes nas noites de chuva. Utilizam-se primordialmente a palha de “buçu” para fazer paredes, divisórias e coberturas. A escolha desta palmeira deve-se as suas propriedades (ainda mal compreendidas) como antídoto a insetos e fungos, além de sua durabilidade, que chega até vinte anos.

Os projetos do arquiteto Severiano Porto é um dos melhores exemplos da contribuição/interação dessa arquitetura, daí, ele, hoje, inserir-se entre outros extraordinários visitantes da Amazônia, por exemplo, ao arquiteto italiano Giuseppe Antonio Landi (1713-1791) que acompanhou a expedição “Viagem Philosófica”, que teve início em 1783 e durou nove anos, comandada pelo brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira. Entre outros atributos, essa missão deveria construir e edificar a capital do Rio Negro, Mariuá, hoje Barcelos. O arquiteto Landi, à serviço da coroa portuguesa, acabou deixando um dos mais importantes legados arquitetônicos em nosso país ao projetar e construir igrejas e palácios no estilo “paladiano” (neoclássico) em Belém. Muitos anos depois durante o ciclo econômico da borracha, a Amazônia, novamente viu-se ao meio de arrojadas edificações influenciadas pelo estilo eclético e o art-noveau (ex.: “Teatro Amazonas” - Manaus, “Paris n’ América” - Belém); infelizmente, depois da crise da economia da borracha, a região caiu no ostracismo.

Esse marasmo foi quebrado no meados dos anos 60, pelo arquiteto Severiano Porto. Quando colocou em prática todo o seu encantamento daquilo que viu. Logo ele, arquiteto formado ao meio do impacto da arquitetura modernista feita de concreto, aço e vidro...E, agora? O que significava esse “esse morar à beira dos rios”? A exuberante paisagem amazônica diante dos seus olhos exigia desafios, o qual foi prontamente entendida pelo arquiteto recém chegado. E se pôs mãos à obra. Logo, nas primeiras encomendas recebidas, respondeu com projetos de madeira, mas, lhe foi dito que aquilo era uma “construção de pobre”. Mas, aí, toda a cidade já comentava sobre a ousadia e irreverência do mineiro. Não vou aqui fazer uma lista dos seus arrojados projetos, prefiro me deter num único, aquele que embasbacou um menino que sonhava estudar arquitetura e cinema e que tinha como referência o Teatro Amazonas e Brasília. Esse menino, era neto de um mestre-de-obras em Maués – o afamado “Mestre Joaquim”. E, no entanto, logo ali, num dos bairros mais belos e ajardinados da cidade – A Vila Municipal (Adrianópolis), o arquiteto projetou e construiu o restaurante “Chapéu de Palha” (1967), apesar do nome, na verdade, a sua edificação remetia as malocas indígenas. Logo ele, arquiteto formado ao sob o impacto dos projetos modernistas e monumentais de Oscar Niemeyer, feitos de concreto, aço e vidro. Esse projeto foi produzido com baixo custo, ao utilizar material abundante e disponível como madeira (aquaricuara) e palha (buçu), o piso era de cimento puro/queimado, não havia ar-condicionado, mas, espaços-vazados engenhosamente pensados aonde a ventilação natural se encarregava de refrescar o ambiente. Também, em volta do beiral, instalou uma estratégica calha para recolher a água da chuva a qual era conduzida para uma cisterna. O restaurante “Chapéu de Palha”, foi demolido num único dia - 01 de novembro de 1986.



Mas, isso não foi nenhuma novidade, paradoxalmente, no mesmo momento em que o arquiteto Severiano Porto realizava os seus arrojados projetos ressaltando a influência das tradições regionais, foi justamente o período em que o “ciclo econômico” da Zona Franca, a riqueza arquitetônica e urbanista do “ciclo da borracha”, em Manaus, foi deitada abaixo.  Foi uma ação sem nenhum escrúpulo, mas não somente isso, o próprio acervo florestal viu-se ameaçada pela trágica extinção....Passado meio século, agora, é o próprio legado de Severiano Porto que se encontra ameaçado. Algumas das suas obras foram demolidas e outras encontram-se sob o abandono. Diante disso, a melhor homenagem que podemos fazer ao arquiteto Severiano Porto é fechar esse ciclo perverso de desrespeito em que demolir é passar a borracha na história de uma cultura, de um povo.


* Foto de Severiano Mario Porto

sábado, 20 de fevereiro de 2016

O ECO QUE SE FAZ...UMBERTO ECO



O ECO que se faz...

A necessária permanência de ECO...

"Obra Aberta"..."Apocalípticos e Integrados", minhas descobertas início anos 70, nas primeiras aulas-UnB, intrincada vereda do conhecimento...

Homem no espaço sideral...teorias da relatividade e quânticas...o fim do eurocentrismo e o inicio das sociedades paralelas...cultura de massas. 

Um dia, numa aldeia indígena no meio da floresta amazônica, um índio me conta: 

"Todo princípio, o princípio de tudo surgiu daqui, de dentro desta fruta-tucumã..."(enquanto descascava a polpa e comíamos com farinha). 

"TODOS OS DIAS TONELADAS DE CONHECIMENTOS SÃO JOGADOS NO LIXO." 

Umberto Eco (1932-2016)

O SOL É PARA TODOS / TO KILL A MOCKINGBIRD




O SOL É PARA TODOS... 
Harper Lee (1926-2016)...
foi morar no cosmos...
pertinho do sol.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

BERNIE SANDERS FOR PRESIDENT


"O fim da História..." ou "Não existe mais esquerda ou direita"...

Quantas vezes temos lido e escutado alguns abestados proclamarem esta falácia... Somente para manter o "status quo" do oportunismo. 

Mas, eis...que surge BERNIE SANDERS, candidato a candidato do Partido Democrata para presidência dos EUA &...declara-se de "esquerda" e ainda mais "socialista democrático"... 



Existe algo borbulhando no meio das baboseiras que foram inoculados pelos parvos neo-liberais como a "solução final". 

A História é oposição.

SindiTelebrasil É CONTRA O CINEMA BRASILEIRO


Desde o dia 29 de janeiro, o SindiTelebrasil - sindicato que reúne as maiores empresas-operadoras de telefonia móvel, é responsável pela ação que resultou na suspensão do recolhimento da Condecine. Esta liminar concedida pela 4ª Vara de Brasília, exime suas associadas de recolher a Condecine, contribuição que abastece o Fundo Setorial do Audiovisual.  

Esse achaque contra o Cinema Brasileiro não é novidade. 


A novidade é a tática de recorrer à Justiça, mas, antes...entre os anos 60 ao governo Collor ( que numa "canetada" destruiu todas as conquistas do nosso cinema ao longo da sua existência); todas as vezes que as atividades cinematográficas no Brasil mostrava alguma dinamização, logo desembarcava em nossas terra a figurinha carimbada de Jack Valenti, o presidente da MPAA - Motion Pictures Association of America, para fazer valer os interesses do seu monopólio audio-visual, agora sob outro nome..."SindiTelebrasil".

DON'T SHOOT THE MESSENGER ... NÃO MATEM O MENSAGEIRO



"Don't Shoot The Messenger" (Não matem o mensageiro) Julian Assange, fundador do WikiLeads que revelou milhares de documentos mantidos longe do olhar público, deixou com "calça-curta" alguns notáveis formadores de opinião do mundo, inclusive do Brasil. Por causa disso, Assange, vive confinado desde 2012 na embaixada do Equador, em Londres. 


Esta situação mostra o quanto a questão da liberdade é relativa aos interesses do Estado. O quanto as mídias fazem a seleção daquilo que desejam demonizar ou não. O quanto podem embaralhar informações esclarecedoras. É um jogo de cartas marcadas. 

O público consome o ódio, a raiva e os ressentimentos em relação à tudo sob um único fato tornado sensacionalista. 

O resto é silêncio... domesticado. 

TRAGÉDIA APAGA MEMÓRIA DO CINEMA - Ricardo Cota


04/02/2016 00:00:00

Ricardo Cota: Tragédia apaga memória do cinema
Como bem disse o cineasta Aurelio Michiles, a memória não é estática

O DIA

Rio - O incêndio ocorrido esta semana na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, é mais uma triste página de uma das maiores tragédias da cultura brasileira: o descaso com a memória. Ainda vai levar um tempo para conhecermos a dimensão das perdas, mas infelizmente já se sabe que há obras destruídas pelo fogo que estão perdidas para sempre.

O grande jornalista Ivan Lessa dizia que o Brasil é um país que esquece da sua história a cada 15 anos. Infelizmente, a frase está desatualizada. Estamos esquecendo da nossa memória a cada 15 segundos. Vivemos a cultura Alzheimer, em que o que é feito hoje amanhã está condenado ao lixo. Perdemos a memória recente num átimo e descuidamos completamente da memória mais remota. Onde vamos parar? No vazio?

Como bem disse o cineasta Aurelio Michiles, diretor de ‘Tudo por Amor ao Cinema’, documentário dedicado a Cosme Alves Netto, mais importante curador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna e um símbolo da preservação cinematográfica, a memória não é estática.

Ontem, em conversa pelo celular, Aurelio, indignado com o trágico acidente desabafou: “O lugar em que se guarda a memória não é uma caixa fechada de nostalgias, a memória é dinâmica, ela precisa ser bagunçada, agitada, questionada, vivida. A memória não é um museu do futuro, do passado, mas a nossa vida vivida agora e sempre.”


A perda da memória de nossas obras de arte é um reflexo maior de uma grande crise nacional. Um país que não valoriza sua memória é um país que joga diariamente a sua própria história no lixo. Um país que não acredita que o vivido hoje é consequência de uma série de ações no passado está condenado a repetir erros, o que por sinal é o que vemos hoje aí, não só na cultura, mas no esporte, na política e no dia a dia. Quando um filme desaparece, some com ele um pedaço do país. Somem hábitos, costumes, arquiteturas, registros, pessoas. No fundo, a morte de um filme é também a nossa própria morte.

S.O.S. A CINEMATECA BRASILEIRA PEGA FOGO!


Ainda vai acontecer o DIA em que alguém deverá esclarecedor à todos nós, aquilo que se encontra preso em nossas gargantas, feito uma espinha de peixe. Refiro-me ao episódio sombrio da intervenção (que se revelou desastrosa!) na Cinemateca Brasileira pela então Ministra da Cultura Marta Suplicy. 


Tudo bem...identificou-se algo estranho na administração dos recursos? Então puna-se todos os responsáveis, mas não o trabalho que aí se desenvolveu durante décadas na formação de técnicos especializados. "JOGOU-SE FORA A ÁGUA SUJA JUNTO COM A SAUDÁVEL CRIANÇA"

Resultado um estrago monumental... instaurou-se naquela instituição um prejuízo enorme para produção da cultura audio-visual seja na guarda, preservação restauração como na dinamização deste meio. 

Diante do sinistro acontecido, queremos mais que palavras, não somente nós, mas, em respeito aos profissionais que ficaram carregando o piano por puro amor ao cinema, por exemplo: Olga Futema."

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.