"POLÍCIA É POLÍCIA, BANDIDO É BANDIDO.”
Finalmente resolvi encarar a série de nove episódios "BANDIDOS NA TV". É uma interpretação que mais esconde do que revela. Talvez porque o formato de série transformou-a numa modorrenta narrativa.
De cara, o personagem principal Wallace de Souza, um ex-policial que virou "apresentador" de um sensacionalista programa de televisão-CANAL LIVRE. Um fenômeno de audiência em Manaus. Histórias escabrosas de assaltos, assassinatos e acertos de contas.
O auditório composto por pessoas pobres. Todos os personagens, exceção do apresentador trazem características da herança indígena. E como se trata de Manaus-AM, não poderia ser diferente.
O espaço da narrativa do programa é explícito, exaltar o perigo do assalto, das drogas e do traficante num espaço de terror. O explícito é banalizado e não tem fim...É tóxico, o espectador sempre quer mais, ele se transformou prisioneiro desta paranóia, sente-se fascinado. Está viciado.
O "apresentador" precisa cada vez mais de conteúdos para mante-los de olhos grudados na telinha. Todos os dias é preciso injetar-lhes uma dose de paranóia...o medo.
O "apresentador" vira ídolo, espécie dum profeta das boas novas através de péssimas notícias.
A série embaralha fatos e opta por uma narrativa aonde a família é porta-voz das "injustiças" contra o "apresentador". Sim, ele foi flagrado fazendo negócios com aqueles que denunciava e perseguia, pior...ele era o chefe da gangue.
Uma sequência de fotos na piscina revelam a promiscuidade entre o bandido e o "apresentador".
No contraponto e para criar um clima de expectativas, surge o inimigo - "o sistema", o receio da ascenção política do "apresentador", o transforma num alvo de "perseguição política". Entre lágrimas e doenças, a família defende o "apresentador"...
Surgem as conversas telefônicas entre o "apresentador" e o "bandido", mas isso é mostrado de passagem, sem aprofundar para novamente cairmos na narrativa de lágrimas em profusões e com imagens do "apresentador" agonizando na cama do hospital. O acusado se transforma em vítima.
O que podemos observar é que esta historia faz parte da trajetória trágica da impunidade, aquela que tem marcado a perniciosa relação entre polícia e o bandido aqui no Brasil. Nada diferente do que foi o "Esquadrão da Morte" anos 70.
A justiça com as próprias mãos, geralmente pobres, negros e índios... todos pobres.
Ainda hoje, os programas sensacionalistas desta mesma natureza continuam com altos índices de ibope. Continuam manipulando emoções da população: sem educação, sem saúde, sem saneamento básico.
Curiosidade: O jovem e atual governador do Amazonas aparece várias vezes na série quando apresentador de um programa populista na TV. Ele teve mais sorte que Wallace Souza, ele que almejava o poder politico amazonense.