sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

VIVA 2011!


2011
a Vida e a Arte
Life and Art
como um curso
as a flow
para nossos sonhos
for our dreams

Yeda Aurélio Antonio Isabel e André

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

MAURO ALICE E O SORRISO DO GATO NO PAÍS DAS MARAVILHAS


MAURO ALICE (1925*2010). Um homem, sobretudo gentil. A sensibilidade do seu olhar transpassava a tela do cinema para gravitar na órbita do movimento.

Já o conhecia através de alguns filmes que me marcaram, mas desconhecia o quanto ele havia contribuído para a existência daqueles clássicos.

Foi Carlos Nascimbeni que nos apresentou, mas a nossa aproximação aconteceu quando realizei o meu filme “O Cineasta da Selva” (97).

Fiz questão de convidá-lo para assessorar o ator José de Abreu no manuseio de películas em moviolas vertical e de mesa. A vertical, justamente mais antiga nos foi emprestada por uma escola de cinema, sob recomendação que não se podia fazer funcionar por que se encontrava quebrada.

Logo no primeiro dia das filmagens Mauro rondava o estúdio feito um gato, quase não se ouvia a sua voz e o seu caminhar. Enquanto preparávamos a filmagem das cenas, respeitosamente mexia aqui, ali e maravilhava-se diante das centenas de objetos antigos que por si mesmos contavam a história do cinema desde a sua gênese. Vez e outra ele contava algumas dos causos da Vera Cruz, Mazzaropi, Khoury, Babenco e tantos outros mestres do nosso cinema... De repente... Zás, escuta-se um ruído, ali estava Mauro Alice, com um sorriso: “gente, funciona!”.

Esse fato deu um toque mágico por que criou um clima que tudo poderia ser possível acontecer desde que Mauro Alice estivesse por perto. O ator José de Abreu que interpreta Silvino Santos pôde exibir performances de um autêntico montador numa moviola vertical, não era encenação, era tudo verdade.

Por coincidência éramos vizinhos, quase sempre estivemos em encontros de rua, esquina, hortifruti, padaria ou no seu apartamento em Higienópolis. A última vez foi quando lhe entreguei uma cópia DVD do meu filme “O Cineasta da Selva”. Ele me havia contado que não havia tido a oportunidade em adquiri-lo. Quando apareci com o DVD nas mãos ficou tão emocionado, parecia que havia ganhado um troféu, relembrou de causos acontecidos nos bastidores da filmagem e logo enveredou nos segredos da montagem no cinema e da rapidez que atualmente as cenas surgem feitos tiroteios como nos filmes de bang-bang. Com a cabeça raspada, passou a usar elegantes chapéus, encontrava-se doente, mas nunca reclamou, alimentava planos secretos em realizar um filme.

Recebo a notícia da sua morte ao acessar o “facebook”, encontro-me em Cancún-México como curador das imagens exibidas na exposição “Espaço Brasil/Amazônia”, durante a realização da COP 16. Daqui de longe, neste país de tantas histórias e ambíguidades geográficas, é America do Norte e também América Central, cenário privilegiado do imaginário cinematográfico (Que Viva México!), logo penso na ambigüidade Mauro Alice, masculino, feminino e o sorriso de gato da Alice no País das Maravilhas.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

EXPO AMAZÔNIA/ COP 16 CANCUN



A partir do dia 21 de dezembro estarei em Cancun (durante as discussões associadas a Mudanças Climáticas) na condição de curador das imagens para a Espaço Brasil/Expo Amazônia / COP 16 (29 nov a 10 dez), são 12 fotógrafos de vários estados brasileiros que dedicam a vida registrando aspectos poéticos e paradoxais desta região:

Aloisio Cabalzar, Alberto C. de S. Araújo, André Michiles, Andreas Valentin, Araquém Alcântara, Beto Ricardo, Claudio Marigo, Fábio Colombini, Lula Sampaio, Maurício de Paiva, Paulo Santos, Vincent Carelli.


Tambem haverá quatro instalações de minha autoria, são espaços conceituais aonde as pessoas poderão interagir com o imaginário amazônico:


1. "Guaraná - Do Cipó ao Chip" (vídeo instalação); 2. "O Horizonte Infinito das Árvores" / áudio-book sobre "Relato de um certo Oriente" de Milton Hatoum; 3. "Ancient Amazon " - foto enterrada; 4. "Amazonia Opera Omni" (vídeo instalação) - em parceria com Tadeu Jungle.

CARTA PÚBLICA - CANCUN COP 16


COP-16

"Compartilhamos a seguinte carta pública, endereçada aos/às representantes de governos perante a Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança Climática, a ser realizada em Cancún, México, entre os dias 29 de novembro e 10 de dezembro."

(...)

"Conferência das Partes – Convenção sobre Mudança Climática"

"Senhoras e Senhores representantes de governos:"

"Como vocês bem sabem, a mudança climática está ocorrendo e suas conseqüências já estão sendo sofridas por milhões de pessoas –particularmente as mais vulneráveis- e todo indica que o problema está agravando-se a passos largos. As causas do aquecimento global são perfeitamente conhecidas, bem como as medidas necessárias para evitar que se aprofunde e acabe afetando a humanidade toda. No entanto, tanto vocês quanto nós sabemos que os governos que representam continuam negando-se a fazer o que é sua obrigação para enfrentar seriamente o problema."

"É bom lembrar que em 1992, todos os governos do mundo se comprometeram, em uma convenção internacional, a adotar medidas para evitar o desastre climático. Surgiu assim a Convenção sobre Mudança Climática, que quase todos os governos assinaram e ratificaram. Desde a época transcorreram 18 anos, durante os quais os governos têm feito pouco e nada para enfrentar o problema. Isto é, durante quase duas décadas o espírito da Convenção, que visava a evitar que a mudança climática ocorresse, tem estado sendo violado. Considerando suas possíveis conseqüências para a sobrevivência da humanidade, essa violação pode ser tachada de crime de lesa humanidade." (...)

sábado, 13 de novembro de 2010

La Strada - Nino Rota - Federico Fellini

Dino de Laurentiis, Fellini,Giulietta Masina - Nights of Cabiria - Final - Federico Fellini

AMAZONAS FILM FESTIVAL 2010


A sensação deste festival foi o filme "Elvis & Madona" (Marcelo Lafitte), o público vibrava a cada cena, tranformando a sessão num verdadeiro espetáculo com sinergia filme e platéia.

Esses foram os ganhadores do 7o. Amazonas Film Festival

Roteiro curta-metragem 35 milímetros Amazonas
Vencedor:
“Ser ou Não Ser”, Leonardo Costa

Curta-metragem Digital Amazonas
Vencedor:
“Perdido”, Zeudi Souza

Júri popular: “Rock que o Brasil Não viu”, Bosco Leão, Caio de Biasi

Prêmio especial do júri: “Contra-fluxo”, Valdemir de Oliveira

Curta-metragem digital Brasil
Vencedor:
“Recife Frio”, Kleber Mendonça Filho

Júri popular: “Uayná – Lágrimas de veneno”, Júnior Rodrigues

Longa metragem

Vencedor:
“Winter’s Bone”, Debra Granik

Júri popular:
“Habana Eva”, Fina Torres

Prêmio especial de melhor filme:
“Lixo Extraordinário”, Lucy Walker

Menção Honrosa:
“Luz nas Trevas, a volta Bandida da Luz Vermelha”, Ícaro C. Martins e Helena Ignez

Melhor Roteiro:
“Las Buenas Hierbas”, Maria Novaro

Melhor Atriz:
Úrsula Prumeda, em “Las Buenas Hierbas”

Melhor ator:
Igor Cotrim, em “Elvis e Madonna

Melhor diretor:
Feng Xiaogang, em “Aftershoc

terça-feira, 9 de novembro de 2010

CINEMA: ARNALDO JABOR & JOSÉ PADILHA



O que vale mais o cinema de Arnaldo Jabor ou de José Padilha?

Aliás o que cada um deles tem haver com o outro?

Na perspectiva do cinema de sucesso podemos afirmar que os dois (Jabor e Padilha) sempre tiveram empatia com o público. Quando Jabor fazia cinema de sucesso com uma dramaturgia psíquica, verborrágica e teatral sobre o brasileiro daqueles anos 70 e 80, vivia-se no Brasil um sentimento de grito parado no ar (parafraseando um a peça de sucesso da época). Estávamos superando determinados paradigmas de esquerda e direita. Anistia lenta e gradual. Masculino e Feminino. Traições conjugais. Caretice x Muito doido. Público x privado. Pai estado ou mãe mercado? Jabor viu no reacionário romântico Nelson Rodrigues a sua imagem e semelhança que ele perseguiria como nos filmes do expressionismo alemão, personagem em transe agindo sob o efeito da hipnose. Resultado: Jabor depois de fazer cinema de sucesso, alcançar cifras que somente o cinema de José Padilha alcança...cansou, segundo Jabor o cinema não lhe pagava as contas e "leva muito tempo pra se fazer um filme atrás do outro, coisa de quase dez anos e o cineasta tem que aprender a filmar novamente" (cito de memória).

Leve-se em conta que o Cinema daquele final dos anos 80/início 90 havia sido atingido quase mortalmente pelo trator Collor. Desiludido Jabor vem para São Paulo (perseguindo a persona Nelson Rodrigues) e se torna um dos mais respeitados jornalistas/cronistas do Brasil. O cinema como atividade começou a sumir da sua vida.

Na medida que os conflitos do final do século XX e o início do século XXI tomam forma de indagações não respondidas, Jabor como muita gente deste tempo mira sua metralhadora contra o tempo em que sonhava, ele faz opção pelo absoluto, suas aparições na TV Globo se tornam verdades do medo. Ele é ator de um personagem escrito por ele mesmo. Numa desenvoltura constrangedora chama o pensamento da esquerda de "comuna", o mesmo jargão utilizado no tempo sombrio por Nelson Rodrigues, Gustavo Corção entre outros personagens identificados como antiesquerdistas.

Ao voltar a filmar 20 anos depois da sua transformação e fortuna, o jornalista Arnaldo Jabor revisita a sua memória, mas quando o filme estréia, ele não atinge o grande público e o sucesso. O filme ''Suprema Felicidade" não tem a virulência das suas crônicas, não traz as análises em que costuma misturar psicanálise, arte, política e leviandades. O filme é singelo, um acertar de contas comportado com a sua memória de adolescente iniciante, nele o rito de passagem não tem riscos e nem transgressões, talvez Jabor tenha realmente re-escrito a sua memória real e abandonado aquela que pertence a sua geração. "Suprema Felicidade" custou mais de R$ 12 milhões de reais, lançados com mais de 170 cópias, atingiu na primeira semana de lançamento a média de 195 espectadores /cópia e o publico começou a minguar. (Boletim FilmB).

Paralelamente o filme "Tropa de Elite 2" é o sucesso da vez. Em sua quinta semana em cartaz, segue com média de 644 espectadores/cópia e caminha para os 9 milhões de espectadores. Isto sem levar em consideração que o personagem "Capitão Nascimento" se transformou em personagem POP e o filme no objeto de desejo no mercado paralelo dos piratas. Tudo isso nos faz concluir que agora não é mais retomada do cinema, mas a ocupação do cinema brasileiro.

E as diferenças e semelhanças de Jabor com Padilha?

Sim, o primeiro tem um sem números de referências sobre quem o influenciou, sobretudo Nelson Rodrigues e o imaginário do pensamento udenista que marcou a infância e adolescência do carioca Arnaldo Jabor. Enquanto que esse outro tambem carioca José Padilha, declarou recentemente que não tem nenhum cineasta como referência, acadêmico de formação (Formado em Administração de Empresas), diretor, roteirista e produtor com filmografia modesta, mas de suprema felicidade, todos os seus filmes chamaram a atenção, ao menos três deles foi e é sucesso de público. O Brasil de Padilha não é o mesmo do Jabor, "Tropa de Elite" vai ao encontro dos anseios e paranóias do grande público, fala de polícia, bandidos, drogas, políticos e policiais corruptos, conflitos pessoais e profissionais, tiroteios, assasinatos, traição e a Cidade Maravilhosa como cenário perigoso - um retrato daquilo que a população brasileira se defronta, por isso comparece em massa e o transforma em música de catarse coletiva.

A sequencia final a tomada aérea da Esplanada dos Ministérios/Congresso Nacional desperta sentimentos e pensamentos paradoxais, aqui Padilha dialoga com a visão glauberiana em "Idade da Terra", neste filme Glauber Rocha celebra a superação de um país submetido numa ditadura por outro país senhor diante dos desafios épicos, colossais. Uma lástima que a multidão de brasileiros que vibram com "Tropa de Elite2" não tenham tido a oportunidade de conhecer essa versão glauberiana de Brasília/Brasil.

ENCONTRO DAS ÁGUAS É TOMBADO


VIVA!

O IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional decidiu pelo tombamento definitivo do Encontro das Águas dos rios Solimões e Negro (Manaus).

Esta não é apenas uma notícia qualquer, ela expressa um avanço da cidadania amazonense.

Existe ainda muito interesse econômico em se manter a construção do novo porto de Manaus aí onde ocorre um dos mais expressivos fenômenos naturais da região, justamente aquele que nos dá identidade como povo de um determinado lugar, nós amazonenses-manauaras somos filhos deste encontro do Rio Negro com o Solimões e não podemos deixar que nos desconstruam.

Faz bem os movimentos sociais, faz bem o poeta Thiago de Mello em vestir a camisa em defesa deste encontro.

Sim, sabemos que esta não é a vitória definitiva, ainda existem outros percalços, mas este fato do IPHAN é sem duvida muitas braçadas a favor do objetivo final.

Manaus que foi uma das cidades mais belas (urbanismo e arquitetura)do século XX, mas ao longo dos ultimos quarenta anos ela foi sistemáticamente destruída. Por motivos heterodoxos a sua população consentiu aos desmanches, mas eis que os tempos mudaram e não mais vamos deixar que destruam o que restou. Não podemos admitir que o "centro histórico de Manaus" seja apenas o Teatro Amazonas e os casarios que o contornam.

O círculo que se formou neste movimento em defesa do Encontro das Águas é energizante: uma realidade maravilhosa, porque poesia pura e realidade concreta de um mundo frágil que ainda se defende dos abusos do Capital. Mas que, afinal, não é tão frágil ou utópica como parece: porque todos nós queremos lutar e preservar a "Grande Mãe d'Agua" de aquilo que seria o verdadeiro Apocaplipse que o "visionário" Glauber Rocha profetizava desde "Amazonas Amazonas" em 1966... Vamos pra frente, com o passado do Glauber, o presente da Dilma, o futuro da Amazônia, nossa grande mãe de História, Civilização, Elegância e Beleza.

Um sinal dos tempos...diante da tragédia cíclica da baixada das águas do rio Solimões ele revelou antigas armadilhas utilizadas faz quase dois séculos pelo movimento nativista "Cabanagem" (1830-1840), a natureza é sábia: guarda e revela segredos.

"A beleza, o sublime não se cancelam. A bosta cotidiana, sim"


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O QUE TEM POR TRÁS DO PRECONCEITO CONTRA O VOTO POPULAR


(Almanakito / Maria do Rosário Caetano): Jornal Valor Econômico (5 a 7 de novembro) de Maria Cristina Fernandes (Editora de Política):

"O Mal-Estar com o Voto Universal" (Direito de apenas 22 anos explica estranheza).

Neste artigo sereno, ela aborda/analisa a frase da jovem advogada Mayara Petruso contra o voto nordestino, lembra que Collor, FHC (2 vezes), Lula (2 vezes) e agora Dilma foram, sim, eleitos com votos do povo.

Só ganha eleição no Brasil quem consegue atingir, "além da banda remediada, os eleitores mais pobres e de baixa escolaridade".

Ela analisa o caso da cidade de Marcelândia (MT), onde Serra obteve 75,7% dos votos no segundo turno. Lá, no primeiro, Marina tivera 1,3%. E por que? Porque era o município que mais desmatava no país. Foco da operação "Arco de Fogo", Marcelância zerou o desmatamento. Mas se vingou do Ibama, do Governo, de Marina...

No Acre, Serra teve 69,9% dos votos. Uma das explicações é a revolta do Estado com o Ibama...Em Roraima, Serra teve 66,5% dos votos. Arrozeiros e grande parte da população do Estado estão revoltados contra o Governo, por causa da demarcação da Reserva Raposa do Sol....

Some-se o CINTURÃO AGRÍCOLA DO SUL E CENTRO-OESTE.......

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

DILMA13!


PORQUÊ VOTAR EM DILMA 13?

PARA QUE A ESPERANÇA CONTINUE VENCENDO O MEDO E A VERDADE VENÇA A MENTIRA.

ORA, É ELEMENTAR, MEU CARO (A), EM TIME QUE ESTÁ GANHANDO NÃO SE MEXE.


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

HISTÓRIA DO CINEMA BRASILEIRO

silvino santos, rio putumayo, 1913

a fonte do artigo é o link logo abaixo. Abraço, Marcos.

http://www.dc.mre.gov.br/cinema-e-tv/historia-do-cinema-brasileiro

História do Cinema Brasileiro Breve histórico do cinema brasileiro

VIVA O CINEMA BRASILEIRO!


O COMEÇO...

Caso alguém pergunte, num futuro distante, qual terá sido o meio de expressão de maior impacto da era moderna, a resposta será quase unânime: o cinematógrafo. Inventado em 1895 pelos irmãos Lumière para fins científicos, o cinema revelou-se peça fundamental do imaginário coletivo do século XX, seja como fonte de entretenimento ou de divulgação cultural de todos os povos do globo.

Desde cedo, o cinematógrafo aporta no Brasil com Affonso Segretto. Segretto, imigrante italiano que filmou cenas do porto do Rio de Janeiro, torna-se nosso primeiro cineasta em 1898. Um imenso mercado de entretenimento é montado em torno da capital federal no início do século XX, quando centenas de pequenos filmes são produzidos e exibidos para platéias urbanas que, em franco crescimento, demandam lazer e diversão. Nos anos 30, inicia-se a era do cinema falado. Já então, o pioneiro cinema nacional concorre com o forte esquema de distribuição norte-americano, numa disputa que se estende até os nossos dias. Dessa época, destacam-se o mineiro Humberto Mauro, autor de "Ganga Bruta" (1933) - filme que mostra uma crescente sofisticação da linguagem cinematográfica - e as "chanchadas" (comédias musicais com populares cantores do rádio e atrizes do teatro de revista) do estúdio Cinédia. Filmes como "Alô, Alô Brasil" (1935) e "Alô, Alô Carnaval" (1936) caem no gosto popular e revelam mitos do cinema brasileiro, como a cantora Carmen Miranda (símbolo da brejeirice brasileira que, curiosamente, nasceu em Portugal). A criação do estúdio Vera Cruz, no final da década de 40, representa o desejo de diretores que, influenciados pelo requinte das produções estrangeiras, procuravam realizar um tipo de cinema mais sofisticado. Mesmo que o estúdio tenha falido já em 1954, conhece momentos de glória, quando o filme "O Cangaceiro" (1953), de Lima Barreto, ganha o prêmio de "melhor filme de aventura" no Festival de Cannes. A reação ao cinema da Vera Cruz representa o movimento que divulga o cinema nacional conhecido para o mundo inteiro: o Cinema Novo. No início da década de 60, um grupo de jovens cineastas começa a realizar uma série de filmes imbuídos de forte temática social. Entre eles está Gláuber Rocha, cineasta baiano e símbolo do Cinema Novo. Diretor de filmes como "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) e "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" (1968), Rocha torna-se uma figura conhecida no meio cultural brasileiro, redigindo manifestos e artigos na imprensa, rejeitando o cinema popular das chanchadas e defendendo uma arte revolucionária que promovesse verdadeira transformação social e política. Inspirados por Nelson Pereira dos Santos (que, já em 1955, dirigira "Rio, 40 Graus" sob influência do movimento neo-realista, e que realizaria o clássico "Vidas Secas" em 1964) e pela Nouvelle Vague francesa, diretores como Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Ruy Guerra participam dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo, ganhando notoriedade e admiração. As décadas seguintes revelam-se a época de ouro do cinema brasileiro. Mesmo após o golpe militar de 1964, que instala o regime autoritário no Brasil, os realizadores do Cinema Novo e uma nova geração de cineastas - conhecida como o "údigrudi", termo irônico derivado do "underground" norte-americano - continuam a fazer obras críticas da realidade, ainda que usando metáforas para burlar a censura dos governos militares. Dessa época, destacam-se o próprio Gláuber Rocha, com "Terra em Transe" (1968), Rogério Sganzerla, diretor de "O Bandido da Luz Vermelha" (1968) e Júlio Bressane, este dono de um estilo personalíssimo. Ao mesmo tempo, o público reencontra-se com o cinema, com o sucesso das comédias leves conhecidas como "pornochanchadas". A fim de organizar o mercado cinematográfico e angariar simpatia para o regime, o governo Geisel cria, em 1974, a estatal Embrafilme, que teria papel preponderante no cinema brasileiro até sua extinção em 1990. Dessa época datam alguns dos maiores sucessos de público e crítica da produção nacional, como "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), de Bruno Barreto e "Pixote, a Lei do Mais Fraco" (1980), de Hector Babenco, levando milhões de brasileiros ao cinema com comédias leves ou filmes de temática política. O fim do regime militar e da censura, em 1985, aumenta a liberdade de expressão e indica novos caminhos para o cinema brasileiro. Essa perspectiva, no entanto, é interrompida com o fim da Embrafilme, em 1990. O governo Collor segue políticas neoliberais de extinção de empresas estatais e abre o mercado de forma descontrolada aos filmes estrangeiros, norte-americanos em quase sua totalidade. A produção nacional, dependente da Embrafilme, entra em colapso, e pouquíssimos longas-metragens nacionais são realizados e exibidos nos anos seguintes. Após o cataclisma do início dos anos 90, o sistema se reergue gradualmente. A criação de novos mecanismos financiamento da produção por meio de renúncia fiscal (Leis de Incentivo), juntamente com o surgimento de novas instâncias governamentais de apoio ao cinema, auxilia a reorganizar a produção e proporciona instrumentos para que realizadores possam competir, mesmo de modo desigual, com as produções milionárias das majors norte-americanas. Esse período é conhecida como a "Retomada" do cinema brasileiro. Em pouco tempo, três filmes são indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro: "O Quatrilho" (1995), "O Que é Isso, Companheiro" (1997) e "Central do Brasil" (1998), também vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim. Nomes como Walter Salles, diretor de "Terra Estrangeira" (1993) e "Central do Brasil" e Carla Camuratti, diretora de "Carlota Joaquina, Princesa do Brazil" (1995) tornam-se nomes conhecidos do grande público, atraindo milhões de espectadores para as salas de exibição. Cem anos após os irmãos Lumière, o cinema brasileiro reivindica seu papel na história da maior arte do século XX para apresentar, neste catálogo, sua contribuição para o futuro do medium.
CINEMABRASIL-Lista debatendo Tecnica,Linguagem, Mercado do Cinema Brasileiro

Projeto Cultural CINEMA BRASIL NA INTERNET http://www.cinemabrasil.org.br.

terça-feira, 22 de junho de 2010

A FOTOGRAFIA EM VIDAS SECAS
















Acho muito importante a existência dos trabalhos finais de conclusão de curso, uma pequena monografia. Há os inspirados e há os apurados, nada impedindo que se mesclem aqui e ali como melhor lhes convenha.

Na área em que atuo, o cinema, tenho visto, assim como na pós-graduação, muitos bons destes trabalhos. No momento refiro-me a este ? Luzes, Cores e Sombras de Graciliano Ramos: a transposição fotográfica em Vidas Secas, de Flávia S. Neves.

O romance de Graciliano Ramos, filmado por Nelson Pereira dos Santos, o clássico de nossas letras torna-se um clássico de nossas telas,
luzes e sombras criadas por Luiz Carlos Barreto, um clássico da luz brasileira. Inventores são os que inventam, vem neste trabalho, desde
o início, e do romance e do filme, narrada mais uma invenção de Brasil, que é o que acontece sempre que os nossos filmes aparecem para
as telas.

Narra de como a luz brasileira inconforme à fotogenia do negativo
importado do hemisfério norte precisa ser inventada no nosso
hemisfério sul e, como sabemos, esta é uma longa história desde que
Afonso Segreto à bordo da nau Brésil ao entrar na baía da Guanabara
no Rio de Janeiro, o Pão de Açucar ao fundo, inventou o cinema em
nossa terra. Muitos e tantos foram os talentos que vem construindo a
nossa imagem à nossa semelhança.

E na pesquisa da Flávia também se somam os comentários e os labores
dos muitos fotógrafos estrangeiros que visitando-nos também nos
gravaram, somando-se a nós, de Chick Fowle, a Ricardo Aranovich, a
Guido Cosulich, e tantos outros operadores, como os dos filmes
naturais, os documentários.

Seu método de análise é primoroso. Compõe a escaleta das cenas e cores
no romance e no filme, expondo a montagem por Graciliano no texto e a
remontagem por Nelson no filme que segundo é sabido foi feito com o
livro nas mãos. Comenta como o fragmentário no original é recriado nas
imagens que o recriam na película. E aí o mistério da aridez de gentes
e cenários é esculpido em luz para que todos a vejam lá na tela e em
nossa condição humana universal. São as estações da vida.

O sucesso de seu trabalho permite-me, e já eu com tanto tempo nesta
estrada, nem propriamente analisá-lo mas divagar. E no interior da
casa, é só a luz do fogo? O que haveria ali de luz artificial, o que
de rebatedores? É de se ver a possível flutuação da luz natural ao
longo do plano. E o tempo? A duração de planos, cenas e sequências.
Não é o cinema uma equação de espaço sobre tempo?

Referindo-se ao difícil diálogo entre os membros desta família primal
brasileira no romance e no filme é que emerge o tema das relações
sociais na palavra, a incomunicabilidade como um escuro entre as
pessoas. Sem luz não vemos as pessoas em diálogo, como não as vemos no telefone e no computador. Mas sempre é possível na vida real ver no
escuro, já no cinema?

E sabemos que a dificuldade da comunicação nas pessoas é um dos
grandes temas universais do século xx. Ao não viver o progresso na
história e sim seus retrocessos os pensamentos e as palavras se
atrasam, se atropelam, se atrapalham, se incomunicam. E o cinema tem
um mundo de filmes retratando isso.

No entanto, pra bem ou mal, o trato social sempre se comunica, nem
sempre por palavras, ou não só, mas por gestos, por sentimentos e
sobretudo por ações. O humano mal realizado socialmente torna-se um
reprimido, e daí perigando tornar-se um repressor. A mais maldita das
palavras, a repressão, invocada instala-se em todos os sentidos: ?mas
acorrentado ninguém pode amar?. Ao fazer do filho o objeto de sua
impaciência como que se vinga da violência que irá sofrer, mas a
vingança é fundamentalmente um ato de retórica porque visa anular o já
ocorrido, o que não se tem como negar ou extirpar.

Falar de fotografia é ousadia minha que não tenho a necessária
formação mas já me aventurei nessa seara a propósito de Humberto
Mauro, Edgar Brasil e Hélio Silva. Pessoalmente não me apraz imaginar
a cultura brasileira senão por seus próprios passados e
desenvolvimentos históricos.

Refuto alegadas influências como as que tanto se diz do neo realismo e
do expressionismo, afinal temos uma farta e antiga vivência de
construção e desconstrução de nossos realismos caboclos. Não carece. E
ao que eu saiba, cá não tivemos as guerras como lá, tivemos as nossas.
O gravurismo de Goeldi e seu quê de expressionismo é na verdade uma
forma de mais-realismo, e olha aí a presença da xilogravura na cultura
popular nordestina. No filme, como em tantos dos nossos, o que mais
vejo é um realismo poético que é como exercita Nelson a questão do
realismo, do mais ou do menos, no cinema.

Uma inegável influência da tradição estrangeira ocidental é mais na
formação que na criação estética. Temos que regurgitá-la como se faz
com o negativo importado. A estética, que é um nível de representação
autônoma da realidade, brota de suas próprias raízes, enterradas no
chão, e evolui no sentido de escola de samba e não do que se imagina
como um progresso universal, raízes do Brasil.

Vai crescendo e vai crescendo sua percepção à medida que evolui em
meio à realidade em expansão e o que registra é sua relação participada nessa expansão e que afinal só vemos e só reconhecemos a que nos está próxima.

No mais tudo é movimento: Galileu, recém homenageado pelo Vaticano que o condenara e do qual esquivou-se o gênio. No cinema, como se sabe, o movimento é uma ilusão que gira recriando um mundo de ilusão paralelo ao real mas que quer narrá-lo. A fotografia em movimento ganha toda essa riqueza aqui neste trabalho da Flávia, também autora de um Sangue Carioca, brilhantemente narrada, detalhada e demonstrada, exemplificada na reprodução dos fotogramas em que se pode ver tudo que aqui se fala, até sem nem estar vendo todo o filme.

Desde antes, com outros estudos sobre a fotografia do cinema brasileiro e seus exemplos, como o belo ensaio do Miguel Freire sobre Mário Carneiro, parecem-me base bastante para uma autosuficiência da cultura, do cinema e sua fotografia brasileiros. Ainda mais naquelas lonjuras sem socorro, faz-se a telha com o barro que tiver.

Como se sabe antes de Vidas Secas, Nelson inventa o Mandacaru Vermelho, um cotejo entre os dois, inclusive fotográfico, é uma delícia. Mandacaru foi o Vidas Secas que não pode ser naquele então, as chuvas abundantes enverdeceram o sertão. A experiência da fotografia de Hélio Silva ( sem esquecer o Major Reis e os tantos casos de fotógrafos eles mesmos na inospidão revelando seus filmes) igualmente laboriosa e fecunda, consagra como a vida do vaqueiro a lida por uma luz brasileira. (Sergio Santeiro. Charitas. 17/06/2010).

[ em http://www.viapolitica.com.br ]

Enviada por: "Sergio Santeiro"

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.