quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Gal Costa - Divino Maravilhoso

Revisitação ao imaginário revolucionário e irreverente tropicalismo do anos 60 - Divino Maravilhoso, no documentário "Gal - Do Tropicalismo aso Dias de Hoje" de Carlos Ebert e Marcello Bartz, hoje, dia 18 de novembro, Canal Brasil, as 16h30.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Teixeira de Manaus - Vamos cumbiar [ RÁDIO FORRÓ BREGA - www.forrobrega.com.br ]

Teixeira de Manaus é um fenomeno musical do final anos setenta e inicio dos oitenta, no Amazonas. No ultimo Amazonas Filme Festival ele ressurgiu com um show "Beiradão", numa praia do igarapé Ariaú. Foi bonita a festa, pá.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

MATA, FILMA E MOSTRA







foto: Chico Batata/Diario do Amazonas

Wallace Souza acima e o corpo da vítima filmado ainda em chamas






19 de agosto de 2009


Como o apresentador e o bandido eram o mesmo, o programa de TV “Canal Livre”, de Manaus tinha a notícia em primeira mão


Duda Teixeira


http://rogeliocasado.blogspot.com/2009/09/o-caso-wallace-souza.html


O repórter caminha em um matagal enquanto fala ao microfone.


"Cheiro de churrasco queimado", diz ele, cobrindo o nariz com a gola da camisa. "Taí o corpo", afirma alguns passos mais adiante. "É do sexo masculino. Foi desovado aqui. Inclusive tacaram fogo nele."


A cena foi ao ar em Manaus, pouco antes da hora do almoço, no programa Canal Livre, em setembro de 2008. Depoimentos colhidos pela Justiça do Amazonas neste ano indicam que o corpo, que ainda exalava fumaça nas imagens da TV, era de um traficante de drogas assassinado por ordem do filho do apresentador do Canal Livre, Wallace Souza. Os detalhes revelam uma surpreendente associação entre o crime e a busca por audiência.


A história completa, de acordo com o inquérito, é a seguinte: ao saber que um carregamento de 30 quilos de cocaína chegaria ao Porto de Manaus, o filho do apresentador, Raphael Souza, reuniu um grupo de policiais militares para matar o traficante. Eles se apossaram da carga e avisaram o programa de TV.


No mesmo mês, de acordo com depoimentos que estão no inquérito, Wallace e uma equipe de TV esperaram pacientemente na rua até o apresentador ser avisado, por telefone, da ocorrência de um crime. A equipe chegou a tempo de filmar a agonia da vítima, morta com quatro tiros. Para a polícia, o crime foi cometido por seguranças de Wallace.


O Ministério Público denunciou o apresentador e o filho por seis homicídios, número que, dependendo das investigações, pode passar de dez.

Além de apresentador, Wallace é o deputado estadual mais votado do Amazonas. (...)


Seu lema era "bandido bom é bandido morto". (...)


PS. O outro irmão, Carlos Souza, é o vice-prefeito de Manaus, o poder de visibilidade (credibilidade) popular lhes fez ambicionar o poder absoluto no Estado do Amazonas: Secretario de Segurança, deputado, senador, prefeito ou governador, segundo aquela máxima do crime organizado: “Está tudo dominado”.


Felizmente seus desmandos macabros caíram na mídia, e Wallace Souza ficou famoso mundialmente.


Semana passada, depois de um longa jogo de empurra-empurra, acabou perdendo o seu mandato de deputado, em seguida evadiu-se, hoje, dia 9 de outubro, acabou capturado, numa prisão negociada pelo próprio Secretario de Segurança do Amazonas.


Com medo de acertar as contas com seus parceiros de crime, encontra-se numa cela especial junto com o seu filho, Raphael. Êita famíliazinha!


Os amazonenses e nem ninguém merece.


Bandido bom é bandido preso.

domingo, 13 de setembro de 2009

1ª MOSTRA LUSO-AMAZÔNICA DE CINEMA



1ª MOSTRA LUSO-AMAZÔNICA DE CINEMA

MANAUS - AMAZONAS 14 a 17 de setembro

http://www.amazonfilm.com.br/



14 Segunda-Feira

20h – Abertura - Luso/Espaço Cultural Uninorte

Abertura da Exposição "Memória luso-amazônica"

15 Terça-Feira

10h às 12h – O CINEASTA DA SELVA de Aurélio Michiles, Luso/Centro Cultural Uninorte. Debate com a Profa. Selda Valle e Aurélio Michiles.

A Mostra Luso-Amazônica de Cinema é uma iniciativa da produtora Amazon Film, e tem como eixos principais a valorização da língua portuguesa e sua contribuição para a Amazônia.

O evento terá exibições de obras contemporâneas da filmografia portuguesa, como o premiado AQUELE FELIZ MES DE AGOSTO, além de filmes amazonenses históricos que fazem referencia ao pioneiro Silvino Santos e ao movimento cinematográfico amazonense que marcou as décadas de 60 e 70. Destaques paraO Cineasta da Selva” (97) de Aurélio Michiles.

A seleção de filmes portugueses será composta de vários gêneros e durações, onde se poderá ver um panorama do cinema contemporâneo de Portugal. Obras como os curtas “Arena” de João Salaviza (Palma de Ouro em Cannes 2009), “Corrente” de Rodrigo Areias e a estreia de “Passeio de Domingo” de José Miguel Ribeiro. Documentários de Edgar Pêra, Pedro Sena Nunes, Diana Gonçalves (Premiada no Festival Cinesud do RJ) e Manuel Mozos. E longas metragens com o "Second Life" e "Aquele Feliz Mes de Agosto".

O evento se encerra com a exibição do documentário “Língua: Vidas em Português” de Victor Lopes e uma mesa de debate sobre o tema “Cinema e Língua Portuguesa”, no Teatro Uninorte.

LOCAL:

Luso Sporting Club / Centro Cultural Uninorte, Ferreira Pena 37, Centro, Manaus, Amazonas, Brasil

INFORMAÇÕES À IMPRENSA: (92) 9196-6299 – Israel Conte

Direção: Chicão Fill

Direção Artística: João Paulo Macedo

Coordenação de Produção: Pedro Moura Assessoria de Imprensa: Israel Conte

terça-feira, 28 de julho de 2009

NARCISO LOBO, UIRAPURU ESTÁ CANTANDO


Narciso, mitologicamente simboliza a ambivalência dos sonhos e da morte.
Narciso, o mito refletido no “encontro das águas”, a nossa primal e derradeira morada.

Narciso! A outra margem é o mistério... Cuidado!Creonte - catraieiro aleivoso acena.

Pontes foram inventadas para reunir... Mas existem pontes para invadir e disseminar os desencontros...

Desde antanho, antes das cinzas estou contigo e não abro.

Amigo aqui se cruza como dois irmãos, o rio Negro e o Solimões. “Se estes dois rios fôssemos, Maria,/ Todas as vezes que nos encontramos,/Que Amazonas de amor não sairia/ De mim, de ti, de nós que nos amamos!...”(*)

Narciso Lobo, jornalista e poeta por opção desde sempre, nunca desejou outra coisa senão a caverna clara das palavras impressas... Aluno do Ginásio Pedro II, editou o tablóide "O Elo",">“O Elemento 106”, em parceria com Aurélio Michiles, Enéas Valle, Milton Hatoum, Tomzé... Trabalhou desde os 15 anos nos jornais de Manaus, depois quando aluno de comunicação escreveu para os jornais O Globo, JB, O Dia, sucursal do Estado de São Paulo (RJ),jornais alternativos como Porantim,Bagaço, Movimento... foi ele quem entrevistou Glauber Rocha na volta do exílio ("Nem Lênin, nem Mao, nem Stalin, nem memso Machado de Assis" - Movimento,19/07/1976. Esta entrevista provocou polemica... Depois Narciso decidiu retornar para Manaus, assumiu a academia, virou mestre, doutor e imortal...

Sim, ele foi o líder dos estudantes secundaristas a desafiar a Ditadura na passeata contra o assassinato do estudante Edson Luís, em 1968.


“- Uirapuru está cantando!”


PS. Narciso mantinha um blog denominado Jornal da Selva, no qual podemos compartilhar das suas idéias e opiniões. Experimente.


15/03/2009
Oriente-Ocidente

Lições do I Ching

Ele diz com todas as letras:

É preciso persistência

Na travessia do grande rio


Diz que a luz do sol poente

Sinaliza o transitório

Da existência impermanente
E adverte: Nem euforia desenfreada

Nem tristeza amedrontada

Ambas totalmente erradas

4/01/2009
Devaneio
Cantos Deslizantes

I
Manaus
Meu porto
Meu aeroporto
Meu penúltimo e (in) definitivo pouso.

O "Novo Amazonas"
(daqueles anos...)
Ficou velho.
Manaus
Apenas uma imagem
Cravada no âmago da memória.
II
Todos os livros do mundo
Não estão sendo suficientes
Para explicar tanto sufoco
Tá ruço
Não tá dando pé.
Tem que haver mudança
Na dança do homem
Rotas, retas, curvas
Tangenciando mentiras oficiais
Não tá dando mais.
III
Talvezes, talvezes, talvezes
Tantas vezes, tantas vezes.

27/02/2009

Experimento Atonal
Três Vagalumes
Para P. E.
1
Sob o sol equatorial
Sentimentos e ressentimentos
Chove copiosamente
2
Trovões e pouca chuva
Menino não pode ser menina
Mas arco-íris brilha no céu
3
Forte desce o Negro
Adiante enlaça o Solimões
Rebojo e calmaria: um no outro

(*)"Encontro das Águas" de Quintino Cunha (1875-1943)

sábado, 18 de julho de 2009

AMAZONSAURUS MARANHENSIS


Diante de tantas denuncias, as quais não conseguem atingir o corpo blindado de José Sarney e família, podemos até conjecturar análises políticas sobre a sua permanência como presidente do Senado, por exemplo, ela manteria o equilíbrio geopolítico no jogo do poder nacional, mas basta uma superficial observação da movimentação dos seus pares e adversários, para constatar que eles não fazem diferenças de qualidades, tanto que a cada revelação de fatos escandalosos naquele ambiente, revela-se como todos aqueles senhores (as) são cúmplices do mesmo crime, ou seja, da manutenção do status quo.


- Elementar, meu caro Watson.


Mas o que me chama a atenção é o seguinte, caso José Sarney & família administrassem o erário publico maranhense como administram o patrimônio familiar, com certeza, o estado que lhe abriga a natalidade, o profissionalismo político e empresarial não se encontraria numa situação lastimável - sofríveis índices escolares, saúde, ofertas de trabalhos e qualidade de vida.


Eles que surgiram para acabar com a hereditariedade do seu antecessor Vitorino Freire, apenas mudaram os nomes do oligarca, quer dizer, tudo mudou, para ficar como sempre esteve.

Vergonha na cara e caldo de galinha, não faz mal a ninguém.



(*) “Amazonsaurus maranhensis”, uma nova espécie de dinossauro cujos fragmentos foram encontrados à beira de um rio do Maranhão (Ismar de Souza Carvalho e Leonardo dos Santos Ávilla, Instituto de Geociências - UFRJ na Ilha do Fundão).

quinta-feira, 16 de julho de 2009

TRILLER - A QUADRILHA







                                            



            ...Lula odiava a Ditadura que amava Sarney que fingia gostar da Democracia e Collor que não amava Lula, fingia não gostar da Ditadura, fazia de conta que combatia Sarney, mas Sarney verdade-verdadeira não amava Nin-guém, somente Sarney Jr, Fernando Sarney e Roseana Sarney e ele próprio que se julga I-mor-tal...e "DO-NO DO MAR-ANHÃO".

          LULA virou Presidente, percorre o mundo e julga-se acima do mal, para o bem de todos (eles?), Sarney virou Ex, criou uma fundação para si mesmo (com a grana pública), Collor foi pêgo recolhendo grana de todo mundo, traindo o esquema tradicional de corrupção, sofreu impeachment... Voltou ao Senado da República, Sarney atualmente preside o Senado e Lula presidente da República com 80% de popularidade, defende um e o outro, como Jesus, deixa-se cruxificar-se entre os dois. 

    E o FHC? Bem, o nosso sofisticado galanteador, foi presidente duas vezes, aliou-se do mesmo jeito com aqueles que compartilhavam a alcova da ditadura, como professor (formado numa Universidade pública-USP) incentivou a privatização branca do ensino gratuito. Ah, sim, FHC é um importante sociólogo e intelectual latino americano, mas tambem declinou disso tudo ao declarar: 

"- Esqueçam o que escrevi."

Resultado: O povo brasileiro vai para um convento, morre num desastre, suicida-se ou casa com o Acaso, aquele que nada tem haver com essa história. Quanta desilusão!

(*) Inspirado no poema "Quadrilha" de Carlos Drummond de Andrade.


quinta-feira, 9 de julho de 2009

MARANHÃO 66...2009



Em 1966 o cineasta Glauber Rocha (1939-1981) depois de sair da cadeia, ironicamente é convidado para realizar dois filmes documentarios sob encomenda, um resultou no "Amazonas, Amazonas" e "Maranhão 66", este ultimo ele registra os bastidores da posse do jovem-governador do Maranhão, o hoje matusalem senador da republica, ex-presidente da republica e imortal da academia brasileira de letras, José Sarney.

Esta foi uma oportunidade única, e que fez o jovem cineasta alterar o roteiro do seu filme "Terra em Transe"(1967), no qual, inclusive, utiliza cenas reais da posse para ilustrar a campanha politica do "ficticio" lider populista interpretado por José Lewgoy.

Glauber, como sempre, mas VIVO do que morto.

Acesse o link abaixo e assista o documentário "Maranhão 66".

http://www.youtube.com/watch?v=t0JJPFruhAA

quarta-feira, 24 de junho de 2009

SARNEY, GLAUBER ROCHA, FRANK CAPRA


A guerra dos bastidores no senado federal não está para neófitos, às cartas estão mais que embaralhadas, muitas delas encontram-se escondidas nas mangas dos adversários (?). O cenário desta luta renhida é para iniciados, temos que procurar os significados nas entrelinhas, na movimentação dos personagens.

Coisas de filme de suspense (policial?), o país assiste indignado e perplexo, mas por que, se os personagens são mais do quê conhecidos, figurinhas carimbadas.
Os tentáculos destes senhores, mas, sobretudo do eterno militante político José Sarney, ele fez carreira desde a vereança até a presidência da republica, tem seus filhos como personagens políticos, inclusive a sua filha Roseana Sarney chegou a ter excelentes índices para disputar a presidência da republica.

O pai quando presidente da republica deixou o cargo sob vaias e desdém da população brasileira, mesmo assim permaneceu na cena principal da política nacional. Homem de letras, acadêmico imortal, autor de vários romances inclusive aquele com que se costuma fazer piadas,
“O dono do mar”... anhão. Haja visto pelos tentáculos da sua influencia na vida política nacional, ele é mesmo um senhor feudal, um proprietário duma sesmaria, duma capitania hereditária chamada Bra-sil.

E ele não é único, está intimamente acompanhado por outros personagens igualmente praticantes de delitos contra a administração publica e ao voto de confiança do povo brasileiro.


Esses escândalos políticos, econômicos e administrativos (muitas vezes pessoais) não podemos restringi-los à Brasília, eles se iniciam em seus redutos aonde acumulam influencia dos votos e por eles alcançam o cenário federal, ali, estes fatos descarados não chegam ameaçar o domínio do seu poder.


MARANHÃO 66


Em 1966, Glauber Rocha foi a Manaus, onde realizou um documentário institucional o qual denominou “Amazonas,Amazonas” e, em seguida à convite do governador recém-eleito do Maranhão, filmou a sua posse, esse promissor político, já tinha deixado a sua marca de neófito articulador do grupo udenista que militou para desqualificar e derrubar o presidente João Goulart sob um golpe de estado (1964), aquele governador era José Sarney e o documentário da sua posse chama-se “Maranhão 66”, no qual enquanto o eleito discursa, Glauber monta com cenas chocantes da realidade social daquele estado.


O conhecimento da existência daquele político, o seu discurso populista, fez o cineasta mexer no roteiro do seu filme que até aquele momento chamava-se “O primeiro dia do novo século”, diante das novas revelações veio a se denominar “Terra em Transe” (1967), por incrível que pareça aquele jovem político pouco mudou, senão o aspecto físico, evidentemente mais velho, seus fartos e negros bigodes embranqueceram. Enquanto que o filme “Terra em Transe” permanece atual...


Numa sinopse:
A vida pessoal e política do maranhense José Sarney é o retrato da realidade política e social brasileira que deve mudar, uma erva daninha a ser arrancada pela raiz.
Atenção ele não é um fenômeno isolado, outros “sarneys” pululam país afora e fazem do Brasil uma esquizofrênica fronteira entre o atraso e a dinâmica das transformações que necessitamos.


FRANK CAPRA

E por falar em cinema, não deixem de assistir “A mulher faz o homem” (Mr. Smith Goes to Washington - 1939), um filme de Frank Capra, aqui com certeza ele cutuca os meandros e os arranjos de um sistema sob o poder de personagens como os “sarneys”, para a nossa indignação.



NOTA


A Mulher Faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington), 1939, EUA. Dir.: Frank Capra/ Elenco: James Stewart, Jean Arthur, Claude Rains, Edward Arnold.

terça-feira, 2 de junho de 2009

MILTON HATOUM E O IMAGINÁRIO DO OUTRO





Entrevista publicada na revista virtual Instituto de Cultura Árabe, 22/5/2009 http://www.icarabe.org/CN02/entrevistas

Milton Hatoum


O escritor da Manaus não-exótica, da literatura universal

“O exotismo é sempre uma construção do imaginário do Outro. (...) Se o Outro é exótico, ele pode ser meu escravo”. Político, sensível e um grande leitor, Milton Hatoum concedeu longa entrevista ao Icarabe. Sentado no café de uma famosa livraria paulistana, o escritor amazonense de origem libanesa discorreu sobre sua trajetória profissional, seus encontros e desencontros pela vida, sua identidade e, claro, sobre sua imensa e insaciável paixão pelos livros. Ele, que mora em São Paulo há mais de uma década, declarou seu carinho pela cidade, mas não escondeu a saudades dos tempos da infância em Manaus. Porém, sem meias palavras, atestou que não é um escritor manauense ou que produz literatura árabe. Suas reflexões não são biográficas – sua arte são a ficção e o longo e árduo domínio do instrumento da linguagem. Três vezes vencedor do prêmio Jabuti (para o qual foi novamente indicado este ano) e agraciado com o prêmio Portugal Telecom de Literatura, Hatoum, que também é professor e tradutor, escreveu os romances Relato de um Certo Oriente, Dois Irmãos, Cinzas do Norte e Órfãos do Eldorado e, recentemente, a coletânea de contos intitulada A cidade ilhada. Em poesia, ele publicou Amazonas: Palavras e Imagens De Um Rio Entre Ruínas, esgotado na editora, mas que, com sorte, pode ser encontrado em sebos.
a Julia Nader Dietrich*

ICArabe: No conto “Um estrangeiro em nossa rua”, publicado em A cidade Ilhada, há uma afirmação do narrador que diz: “Eu só depois entendi que a língua e não a nacionalidade nos define”. É possível traçar um paralelo com a premissa do poeta Fernando Pessoa, que declarou que sua pátria era a língua portuguesa? 

Hatoum: O conto narra uma história de amor adiada para sempre - do desencontro, que, assim como o encontro e o acaso, é um tema muito literário. Ele é também um relato sobre a impossibilidade do encontro afetivo e efetivo. Além do jogo sensual, da paixão adolescente e do desencontro amoroso, há ainda o que eu chamaria de deslocamento. Pelo fato de os vizinhos serem estrangeiros - como uma alusão a todos os estrangeiros da nossa vida -, o narrador chega à conclusão de que o que a personagem fala não é o português, ou ao menos não é o que ele espera da língua portuguesa que ele fala, sua língua materna. Esse deslocamento tem a ver com esse estranhamento, que por sua vez tem a ver com outro estranhamento, outro desencontro, que é a história deles.
ICArabe: Sobre a questão da identidade, pensando sobre outro conto da coletânea, “Natureza XXX”, e fazendo paralelo com o autor Edward Said, podemos dizer que há uma série de Orientalismos na sua obra. Dessa forma, como escritor, como você lida com a questão da alteridade e seus exotismos – o exotismo do árabe, o exotismo do amazonense, o exotismo do árabe que vive no Amazonas? 

Hatoum: O exotismo é sempre uma construção do imaginário do Outro, é sempre uma visão de quem chega de fora e lança um olhar que faz o julgamento do exótico sobre o Outro. Desse ponto de vista, a questão do exotismo está muito ligada a uma hierarquia, a um tipo de olhar. Existe o exotismo desinteressado, o exotismo dos viajantes e escritores, do olhar antropológico, que é um exotismo que não passa por um julgamento a priori. Mas isso é muito diferente do exotismo como forma de manipulação do Outro. Se o Outro é exótico, ele pode ser meu escravo. 

ICArabe: E como se dá essa relação da Amazônia em relação a São Paulo? Essa visão Globo Repórter dos animais, dessa terra de ninguém, da imensidão. E também a ideia de uma sensualidade, de um erotismo mítico, que também está presente no olhar sobre o mundo árabe. É um diálogo em extremos: a mulher sensual ou a mulher de véu, vítima de opressão e na Amazônia, essa ideia da imensidão da floresta ou a extrema miséria das palafitas.

Hatoum: Sobre as mulheres oprimidas, elas estão em todas as sociedades. As judias ortodoxas não podem mostrar os cabelos, as mulheres católicas são também subjugadas e um dos países mais violentos no trato com as mulheres é o Brasil – basta visitar uma delegacia da mulher. As opressões não estão condicionadas a uma sociedade islâmica. Já a Amazônia ainda é desconhecida dos brasileiros. Eu acho que a maneira de se evitar o olhar exótico é conhecer a outra cultura, mas conhecer sem interesse, sem parti pris, sem um julgamento prévio. O conhecimento implica também uma espécie de entrega. A compreensão é uma via de mão dupla, ela tem que ser mútua. Euclides da Cunha escreveu uma série de ensaios reunidos em um livro chamado À margem da história, que é um título equivocado para a Amazônia. Era o que ele chamava de Grande Deserto, uma terra ignota, inculta em vários sentidos. Existem várias visões da Amazônia, é uma cultura muito plural. Lá existem grandes centros urbanos que estão conectados entre eles e com o Brasil. A própria formação da população e da história amazonense está implicada em outras populações brasileiras. Não se pode pensar na Amazônia sem a presença maciça dos imigrantes nordestinos desde a segunda metade do século XIX. Há aí uma espécie de mistura entre várias culturas brasileiras, estrangeiras e nativas, que estão entrelaçadas – como sempre acontecem com as culturas, lembrando de outra tese de Said. Não há choque de civilizações. 

ICArabe: É nessa classificação, como Said dizia, que se interrompe o diálogo. É o Outro que é diferente de mim, do Mesmo, e, portanto, nós não nos entendemos, não conversamos?

Hatoum: Claro. Porque o exotismo é mais fácil e por isso que o exotismo está muito próximo do clichê e do estereótipo. É uma forma de ideias fixas, rígidas e superficiais sobre algo ou alguém que não aprofundam nada. É fácil construir clichês sobre o Outro, sobre outra cultura.

ICArabe: E isso permanece no cenário político atual?

Hatoum: Sim. É um pouco o discurso sionista sobre a Palestina – que diz que é uma terra deserta, desabitada, que esperava um povo para ajudá-la. É um discurso que exclui a população histórica palestina que está lá há mais de dois mil anos. O exotismo é perigoso porque ele é excludente, porque ele passa uma imagem totalmente superficial do Outro.

ICArabe: E ele é um instrumento de dominação?

Hatoum: Acaba sendo um instrumento de dominação. E é por isso que eu acho que uma outra forma de exotismo, que causa surpresa, que causa admiração, e até mesmo perplexidade, faz parte de um olhar mais sensível, mais compassivo e até mesmo interativo em relação ao que se vê. Henry Michaux, poeta belgo-francês, fez uma viagem incrível pela Amazônia em 1927 e escreveu o livro Equador sobre esse percurso que se estendeu de Iquitos, no Peru, até Belém. Nesse livro, ele diz: “eu naveguei milhares de milhas e confesso que não vi a Amazônia”. A perplexidade dele é de fato a de alguém que não conseguiu entender aquela grandiosidade. Então, a Amazônia é uma cultura como outra qualquer, com suas particularidades. Um lugar onde se falam dezenas de línguas indígenas, onde sempre houve um processo econômico contínuo apesar dos momentos de estagnação, uma perspectiva de exploração enorme em detrimento de poucos, com a maior parte da população marginalizada. Mas, ao contrário do que diz Euclides da Cunha, não é uma terra inculta. É que ele não soube ver o que lá existe. Ele percebeu muita coisa nas cidades, mas não percebeu e não estudou a enorme complexidade das culturas indígenas.

Icarabe: No romance “Cinzas do Norte”, o tema do desencontro permanece. É o desencontro familiar, o desencontro entre amantes e o desencontro dessa Amazônia que o Brasil não está disposto a ver.

Hatoum: E não quer ver até hoje. É incrível como o Brasil que edita tantos poetas medíocres no eixo Rio-São Paulo não editou um poeta como o Max Martins, de Belém - que morreu há pouco tempo e foi ocultado. Quando cheguei da França e comecei a dar aulas no francês da Universidade Federal do Amazonas, os alunos não queriam acreditar que eu tinha nascido em Manaus, que eu era amazonense. Foi chocante porque assinava esse complexo de inferioridade como se seus conterrâneos, seus pares, não fossem capazes de dar uma aula. É assim que vemos que a colonização, esse massacre mental, tem repercussões sérias nas vidas das pessoas. Elas se sentem de fato subjugadas, inferiorizadas. Isso é terrível porque é aceitar essa condição que foi imposta pelo colonizador e também por uma colonização interna. Na Zona Franca, a presença paulista em Manaus é considerável e eu diria até que hoje quem dá as cartas da economia do estado são as empresas da Zona Franca. Não são mais as grandes empresas ou grandes fazendeiros – não existe mais uma burguesia local capaz de sustentar o estado. 

Icarabe: No conto do “encontro com o Euclides”, o narrador fala: “para onde eu vou, Manaus me persegue, uma realidade de outra América, mesmo quando não é solicitada”. Não sei quanto disso podemos tratar como autobiográfico, ou quanto é personagem. Mas essa Amazônia está com você? Ela lhe persegue? 

Hatoum: Não. Posso viver muito bem longe dela. Aí é que está o trabalho da linguagem. É a ideia de passar a sensação de verossimilhança, é o velho efeito da ilusão realista no romance. A literatura paga um dízimo ao real – é a ideia de confundir o leitor para ele confundir o narrador com o escritor. Nesse caso, quem está falando é o narrador porque eu não sou nem um pouco bairrista, nem trago a Amazônia como questão central da minha vida e, talvez por isso, eu não compartilhe uma visão gregária ou regionalista da literatura. E isso incomoda algumas pessoas de lá e daqui também.

ICArabe: Pessoas que querem um escritor exótico ... 

Hatoum: Exatamente. Um escritor exótico, mas não sou isso. Porque um escritor exótico, um escritor regionalista, não é traduzido. Não tem interesse. Manaus é importante na minha vida pela minha infância.

Icarabe: Infância esta que é um tema muito presente na sua obra, assim como o arquétipo da família. É o elemento central dos romances, na novela ela está presente e muitas vezes aparece nos contos. Quem são esses homens e mulheres da sua obra? 

Hatoum: São em grande parte invenções. Tanto que isso irritava alguns parentes meus por não se reconhecerem nos personagens – eu falo de parentes vaidosos que queriam ser nomeados. Um só parente, uma só pessoa não basta para se criar um bom personagem. O personagem deveria ser uma figura mais complexa do que alguém que você conhece, com a qual você conviveu. É uma soma, um acréscimo e uma construção que dá muito trabalho. Os personagens não são figuras aleatórias que surgem ao acaso, ao bel prazer da escrita. O autor pensa neles, o que quer deles, o que quer para eles e que relação que eles terão com os outros porque eles só existem em conjunto com os outros, com a trama. Um deles, porém, só um deles, o Halim, tem alguns traços do meu pai. Isso porque meu pai tinha morrido havia pouco tempo, quando eu estava começando a escrever Dois Irmãos. O Halim tem alguma coisa do silêncio do meu pai, da sua reclusão e da sua paixão por uma mulher. Agora, o resto é tudo invenção.

ICArabe: Em A Cidade Ilhada, os contos parecem traçar um percurso.

Hatoum: Há, vamos dizer, um jogo com a realidade, com aquilo que poderia ser uma anedota. Eles estão relacionados com uma viagem, com a literatura, com o amor, com a desilusão, com a frustração, com os desencontros - os grandes tópicos da literatura. Há um arco temporal nesse livro, do primeiro ao último conto. O primeiro se passa em uma Manaus da minha infância, da minha juventude, dos anos 60. O último é uma Manaus de hoje.
ICArabe: É curioso você ter aderido ao conto depois de três romances e uma novela. Há a sensação de que foi diminuindo o tamanho do texto: o romance, a novela, e depois a síntese com o conto. Isso foi intencional ou os romances simplesmente surgiram, organizaram-se primeiro? 

Hatoum: Eu comecei por poeta, ao publicar em São Paulo um livro de poesia. Eram doze poemas com fotos de fotógrafos daqui que viajaram pela Amazônia. Às vezes até esqueço, “Amazonas, Um Rio Entre Ruínas”... “Palavras e Imagens de um Rio entre Ruínas”. Na época, lia muito mais poesia do que prosa. Ainda na década de 70, escrevi alguns outros poemas e escrevi muitos contos, mas foram todos pro lixo, todos, não se salvou nenhum. E quando eu comecei a escrever o conto Natureza Ri da Cultura, eu me empolguei e percebi que tinha assunto para escrever um texto maior. Eu gostei, me identifiquei com esse gênero. Nesse meio tempo, comecei a escrever Dois Irmãos, me empolguei e fui até o fim. Os outros contos foram acontecendo na década de 90 e os dois últimos contos, o par que constitui a homenagem a Machado, foram escritos no semestre passado.

ICArabe: Retomando o processo de criação, que imagino ser único para cada autor, lembro de uma declaração da escritora carioca Lígia Bojunga Nunes, que contava ver fisicamente suas personagens, elas surgiam e com ela conversavam. Você vê seus personagens, eles interagem com você nesse processo de criação? 

Hatoum: Você não é muito racional quando escreve, eu tento mas não consigo ser. Eu tento ser racional até o limite da construção, pensando nas partes narrativas, mas isso nem sempre acontece. É um momento movido pelo inesperado, inspirado da escrita, pelas ondas do inconsciente da imaginação, mas, que ao mesmo tempo, não tira o espaço da racionalização. Por exemplo, no caso da Dinaura, eu pensei em uma personagem misteriosa e calada, mas que não era submissa. Uma personagem cujo olhar era poderoso. Eu imaginei uma mulher com uma beleza incomparável que transformasse essa figura louca. Em contrapartida, nos meus outros escritos, há muitas mulheres que têm outro tipo de força, uma força mais presente, que é mais pelas palavras e pelos gestos do que pela dominação. A Dinaura não é uma Emilie, uma Zana, ela pertence a outra tribo e espaço. Ela surgiu de forma consciente como variação, pela vontade que eu tinha de trabalhar com outro registro de personagem. 
ICArabe: Você costuma dizer que não é um escritor árabe, tampouco um escritor amazonense, mas tem uma presença muito grande da cultura árabe nos seus personagens, nos nomes, nos costumes, enfim, na origem da maioria deles. Como você se relaciona com esse mundo árabe? 

Hatoum: Eu tenho medo das generalizações, sejam elas históricas, das grandes teses hegelianas, dos destinos econômicos dos países. Essas grandes análises marxistas que passam por uma geração hegeliana me dão um pouco de aflição de que a história não é bem assim. Sou brasileiro, nascido em Manaus. Cada escritor tem suas particularidades, que estão na sua vida, na sua linguagem, no modo de ser, do seu registro cultural. Se eu fosse um escritor paulistano, é provável que eu já tivesse escrito muita coisa sobre São Paulo. O que mais interessa é como eu transfiro, usando um termo freudiano, a minha experiência de vida para a linguagem, de vida e de literatura. Porque a leitura, a realidade lida, é tão importante quanto a realidade vivida para quem escreve. 

ICArabe: E a presença da realidade árabe? 

Hatoum: A presença da cultura árabe é muito importante na minha obra. Ela existe e seria absurdo negar isso, mas isso não me faz um escritor árabe, porque o escritor árabe escreve em árabe. Escritores são aquilo o que eles escrevem, e a língua na qual eles escrevem. 
ICArabe: Outro paralelo possível é entre sua obra e o romance Tempo de migrar para o norte, do escritor sudanês Tayeb Salih. Com alguma variação, o escritor e protagonista do livro passam pelo mesmo processo de nascer de uma aldeia africana arabizada e partir para a conquista da Europa. E de alguma forma você fez esse percurso também, de sair e de se expor ao mundo. Como foi essa saída? Você saiu do Amazonas e inicialmente foi para Brasília e então para a Europa?

Hatoum: Em 1996, eu dei aula na Berkeley (Califórnia, EUA). Manaus, naquela época, era uma cidade ilhada, isolada. Eu sempre quis sair de lá porque eu não queria ter a vida provinciana que a cidade me oferecia. Eu adorava Manaus, naquela época eu tinha uma banda, fui crooner, tinha uma vida boêmia - era uma coisa de louco, e tudo isso aos 13 anos. Mas então veio o momento em que quis sair para estudar arquitetura. Saí aos 15 anos, sozinho e, com exceção de temporadas de férias, só voltei em 84 para morar. Morei em Brasília na época do AI-5, época terrível, e passei dez anos em São Paulo. Finalmente ‘encasquetei’ que eu tinha que morar na Europa. Eu sonhava com Barcelona, a cidade que eu via nos livros de arte e arquitetura ainda em Manaus, com as obras de Gaudí, - eu achava que Barcelona era uma cidade ideal para se morar, como ainda acho até hoje. Eu não sinto saudades de Manaus, mas sinto saudades de Barcelona. Ao ganhar uma bolsa de estudos, fui passar quatro meses em Madri e acabei vivendo quatro anos na Europa. Foi uma experiência fundamental para ver o Brasil de longe, para tentar me compreender. Aproveitei a distância para escrever também, distância esta que às vezes é importante. É importante se deparar com tudo isso, saber que está mais ou menos sozinho no mundo, ou totalmente sozinho, e saber também que escrever em português não é fácil - não saber quantos leitores você vai ter, se vai ter leitores. É sempre uma questão.

ICArabe: Nessa perspectiva, quando você passou a se reconhecer como escritor? 

Hatoum: Quando percebi que meu primeiro romance, o Relato de um Certo Oriente, teve uma repercussão muito maior do que eu esperava. A orelha foi assinada por um grande crítico brasileiro, o Davi Arrigucci Jr. O livro ganhou então o prêmio de melhor romance e foi imediatamente traduzido para diversos idiomas e por ótimas editoras. De repente eu via Manaus no NY Times. O Le Monde colocou duas fotos minhas e achei aquilo o máximo. Na Alemanha saiu tanta coisa, fiquei de fato surpreso. Fiquei um pouco deslumbrado, um surto passageiro, que depois passou. O segundo romance foi mais difícil; eu tentei muitas coisas, mas tive então a certeza de que eu queria me dedicar à literatura, mas ainda não podia viver dela. Foi um tempo de muita angústia, passei oito anos tentando publicar o segundo livro. Finalmente consegui e vim para São Paulo. Eu devo muito à São Paulo, aos meus amigos daquela época, à própria universidade, ao que aprendi, ao meu editor, ao que construí nessa cidade. Como diz o Euclides, eu estava meio exilado na minha própria pátria. Mas, com Dois Irmãos, um livro que para os padrões brasileiros alcançou um público muito grande, comecei a viver de direitos autorais – fato este que ainda é assustador para mim.

ICArabe: Você foi convidado a participar da feira do livro de Beirute. Você aceitou? 

Hatoum: Pretendo ir em setembro, para viajar e falar sobre literatura brasileira e visitar meus parentes. Quero escrever um relato de memória sobre a visita que fiz com meu pai em 92 ao Líbano. Foi muito emocionante, já que ele não visitava os parentes havia 33 anos. Eu gostaria de reconstruir isso. Memória esta que equivale à lembrança do dia em que meu pai leu, emocionado, a crítica de meu romance em um jornal libanês, enviado para a Amazônia pelos meus parentes. 

ICArabe: Você diz não atender ao título de ser um escritor árabe, mas ao mesmo tempo o reconhece. Como você vê a sua identidade?

Hatoum: Eu acho incrível que o ser humano seja capaz de ter várias identidades e que ele possa escolher uma ou várias delas. Ele não está destinado a ser, em ter uma alma conformada, uma única cultura ou até mesmo uma única língua. A língua te define na tua essência, mas tu não és obrigado a se identificar apenas com teu país. Por isso a crítica que eu faço aos patriotismos, aos nacionalismos, é que, muitas vezes, são perigosos. Eles cegam, não permitem ver a cultura do Outro, - o nacionalismo exacerbado é uma forma de se situar no topo de uma hierarquia. E na literatura não existe isso. Quando se fala da grande literatura inglesa, é obrigatório falar da russa, e da chinesa, e da árabe, e assim sucessivamente, pois não existe uma só grande literatura. 

ICArabe: Você tem vontade de morar no mundo árabe?

Hatoum: Eu poderia morar numa cidade árabe, tenho muita vontade de conhecer o Cairo, no Egito, que é uma espécie de pai das culturas como um todo do mundo árabe. Mas não gosto de governos religiosos, de Estados religiosos. Por isso um Estado que se autoproclama muçulmano ou judeu, ou extremamente católico, não me atrai nem um pouco. Acredito que todo Estado religioso será catastrófico, e cedo ou tarde terá problemas.

* Colaborou Fernanda Picchetto

quinta-feira, 16 de abril de 2009

OBAMA LULA: HE IS MY MAN


Obama, apontando para Lula, comenta com o primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd:

"Esse é o cara! Eu adoro esse cara!".

Enquanto Lula cumprimenta o primeiro-ministro da Austrália, Obama diz:

"Esse é o político mais popular da Terra".

Foi a vez do australiano fazer o seu comentário:

"O mais popular político de longo mandato".

Mas aí Obama acrescenta:

"É porque ele é boa pinta".


Muito já se escreveu sobre esse encontro e muitos têm minimizado esse episódio, talvez por ressentimentos políticos e pessoais contra o mandatário brasileiro.


Lula, o ex-metalúrgico desde “pau-de-arara” a líder sindicalista no sul maravilha, a sua trajetória vitoriosa não tem sido bolinho, teve que engolir muito sapo, ao contrario daqueles que tentam impingir-lhe o apelido de “sapão”.


É verdade desde que os Estados Unidos se colocaram como capital imperial do planeta, nós latinos americanos fomos obrigados a engoli-los com todas as letras. Desde a doutrina Monroe (1823), “a America para os americanos” ou... “América para os estadunidenses”, depois em 1901 Theodore Roosevelt institui a “Política do Big Stick" (Grande Porrete), aquela que tinha como objetivo o intervencionismo imperialista sob a justificativa de "impor a ordem e devolver a democracia aos países latino-americanos". Em 1913 ele veio nos visitar, encontrava-se motivado pela ambição de caçador: matar onças, antas e batizar um rio com o seu nome, antes conhecido como “rio das duvidas”.


No inicio dos anos setenta o presidente Nixon declarou: “para onde o Brasil se inclinar, irá toda a America Latina”. E não deu outra, logo todos os países viveriam sob ditaduras, geralmente comandadas por militares treinados na Escola das Américas- Panamá, conhecida também como “escolas de assassinos e torturadores”. Sem esquecer-se do ex-ator roliudiano Ronald Reagan, quando eleito presidente desembarcou no Brasil saudando-nos como “o querido povo boliviano”.


Quer dizer, a percepção do mandatário norte-americano estava restrita a republica das bananas, e nós uns alegres "macacaquitos" com a capital Buenos Aires. Ainda nos anos oitenta Bush-pai identificou nos efeitos midiáticos do ex-presidente Fernando Collor de Melo uma semelhança aos efeitos especiais do personagem cinematográfico - “Indiana Jones”.


Recentemente quando Bush-filho desembarcou em nosso país, o fez sob uma forte segurança, numa operação de guerra, bem ao seu estilo de presidente-bélico, sem nenhum contato com os mortais. Quanto a memória da sua visita ninguém recorda, passou em branco.


Diante deste quadro de horrores, podemos afirmar, melhor, agora, com o presidente Barak Obama tendo no presidente Lula um confiável aliado na sua espinhosa tarefa em costurar essa colcha de retalhos com os países amigos, mucho amigos dos norte-americanos, porem, abarrotados de desconfianças.


Lula popular e boa-pinta, na verdade é um alfaiate, desta maneira é o escolhido pelo presidente-imperial para vestir com bons modos os Estados Unidos da America do Norte nesta nova trajetória histórica.


Em síntese: carisma não se compra e nem se inventa.


quinta-feira, 9 de abril de 2009

ARROZEIROS, ÍNDIOS E A DITABRANDA

Os arrozeiros invasores da Raposa Serra do Sol, em Roraima, ainda não se deram por vencidos ou melhor, aguardam com ansiedade o desfecho real deste confronto, refiro-me com perplexidade a possivel indenização, como reconhecimento ao capital investido em terras indígenas.

E por falar em indenização, causou-me espanto o aloprado artigo "Ditadura e Ditabranda" (Ilustrada, 20 março) do imortal Carlos Heitor Cony, ele capricha com artimanhas de quem conhece como poucos o bordado dos escribas no estilo "bate e alisa".

Ora, justamente quem todo mês recebe uma "bolada" como indenização, reparação e compensação pelos males da "ditabranda" (pra ele, é claro).



Ai, ai, ai...AI-5!




quinta-feira, 26 de março de 2009

O CINEASTA DA SELVA


O CINEASTA DA SELVA agora em DVD.

Lançamento na 14a. edição do Festival Internacional de Documentarios - É TUDO VERDADE.


SÃO PAULO: dia 31 de março, as 16h00, Livraria Cultura - avenida Paulista;

RIO DE JANEIRO : dia 03 de abril, as 13h00, no OI FUTURA;

BRASILIA: dia 22 e 16 de abril, as 14h30 e16h30, respectivamente, no CCBB- Centro Cultural Banco do Brasil;

BELEM: dia 25 de abril.


Em São Paulo o escritor Milton Hatoum, o diretor e roteirista Roberto Moreira, montador do filme e Eduardo Morettin, professor da ECA-USP estarão conversando sobre “cinema, história e memória” com o público.


O DVD é composto dos extras:


  1. O filme documentário com 03 opções de legendas;
  2. Cartaz de O Cineasta da Selva;
  3. Entrevista do diretor Aurélio Michiles;
  4. Entrevista com o ator José de Abreu;
  5. Entrevista com o diretor de finalização José Augusto Blasiis;
  6. O filme comentado simultaneamente pelo diretor Aurélio Michiles;
  7. Filmografia de Silvino Santos;
  8. Trailer
  9. Ficha técnica de produção de O Cineasta da Selva;
  10. Opção de legendas: inglês, francês e espanhol.


"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.