Conto essa história em homenagem ao artista Athos Bulcão (1918-2008). Um dos projetos em que deixou a marca da sua criatividade foi na “Igrejinha da cento e oito sul”, o lugar de "encontro" e “desencontros” estudantis.
Em 1968 encontrava-me recém chegado em Brasília, perdia-me observando maravilhado àquelas edificações monumentais manchadas com o vermelho da poeira. Por todo lado havia referências da refundação da nossa brasilidade, e foi justamente naquele ano que a ditatura reagiu implacavelmente contra essa perspectiva histórica. Aliás, como todas as outras coisas no dia-a-dia da nação submetida à censura, mas neste caso, não havia como escondê-las.
ATHOS, VOLPI, IGREJINHA
Em 1957, a “Igrejinha da 108” foi a primeira igreja no Plano Piloto a ser construída, e foi também o primeiro trabalho do artista Athos Bulcão em Brasília, para nunca mais sair desta cidade que ajudou a construir. Este projeto surgiu como paga à N.S. de Fátima de uma graça alcançada pelo Presidente Juscelino e dona Sara Kubitschek. Oscar Niemeyer projetou-a inspirado no chapéu usado pelas Irmãs Vicentinas.
Athos Bulcão é o autor dos azulejos no exterior da “Igrejinha”, ele criou figuras estilizadas da pomba do Divino e da estrela da Natividade.
O afresco assinado pelo artista Alfredo Volpi (1896-1988) e que decorava a parte interna foi censurado. Conta-se que a esposa de um dos "bruxos do poder" daquela época não se emocionava com anjos misturados a singeleza das bandeirolas populares das festas de São João. Um dia o afresco do Volpi sumiu (continua censurado) por debaixo de uma passada de tinta. Quanto sacrilégio!
ATHOS – TEATRO NACIONAL CLAUDIO SANTORO
As obras de Athos Bulcão são onipresentes em Brasília, nos palácios (Alvorada, Planalto, Itamaraty), prédios públicos (Congresso Nacional), hospital (Sara Kubitschek) e em muitos outros lugares, mas a sua intervenção no projeto do Teatro Nacional, sem dúvida, se não é o mais importante, é uma das suas obras recorrentes no inconsciente coletivo dos brasilienses.
Aqueles blocos em relevos do Teatro Nacional criam uma simbiose entre a edificação e os adornos que lhe dão uma expressividade arquitetônica singular, remetendo-o às monumentais construções imperiais - as pirâmides maias e astecas. Como a construção de Brasília é uma refundação da nossa nacionalidade, neste caso, a criatividade da dupla Niemeyer e Bulcão assume uma dimensão excepcional, por homenagear numa única obra todo o continente latino americano.
No filme "A Idade da Terra"(1980) o cineasta Glauber Rocha (1939-1981) deu-lhe significados metafóricos.
Em 1968 encontrava-me recém chegado em Brasília, perdia-me observando maravilhado àquelas edificações monumentais manchadas com o vermelho da poeira. Por todo lado havia referências da refundação da nossa brasilidade, e foi justamente naquele ano que a ditatura reagiu implacavelmente contra essa perspectiva histórica. Aliás, como todas as outras coisas no dia-a-dia da nação submetida à censura, mas neste caso, não havia como escondê-las.
ATHOS, VOLPI, IGREJINHA
Em 1957, a “Igrejinha da 108” foi a primeira igreja no Plano Piloto a ser construída, e foi também o primeiro trabalho do artista Athos Bulcão em Brasília, para nunca mais sair desta cidade que ajudou a construir. Este projeto surgiu como paga à N.S. de Fátima de uma graça alcançada pelo Presidente Juscelino e dona Sara Kubitschek. Oscar Niemeyer projetou-a inspirado no chapéu usado pelas Irmãs Vicentinas.
Athos Bulcão é o autor dos azulejos no exterior da “Igrejinha”, ele criou figuras estilizadas da pomba do Divino e da estrela da Natividade.
O afresco assinado pelo artista Alfredo Volpi (1896-1988) e que decorava a parte interna foi censurado. Conta-se que a esposa de um dos "bruxos do poder" daquela época não se emocionava com anjos misturados a singeleza das bandeirolas populares das festas de São João. Um dia o afresco do Volpi sumiu (continua censurado) por debaixo de uma passada de tinta. Quanto sacrilégio!
ATHOS – TEATRO NACIONAL CLAUDIO SANTORO
As obras de Athos Bulcão são onipresentes em Brasília, nos palácios (Alvorada, Planalto, Itamaraty), prédios públicos (Congresso Nacional), hospital (Sara Kubitschek) e em muitos outros lugares, mas a sua intervenção no projeto do Teatro Nacional, sem dúvida, se não é o mais importante, é uma das suas obras recorrentes no inconsciente coletivo dos brasilienses.
Aqueles blocos em relevos do Teatro Nacional criam uma simbiose entre a edificação e os adornos que lhe dão uma expressividade arquitetônica singular, remetendo-o às monumentais construções imperiais - as pirâmides maias e astecas. Como a construção de Brasília é uma refundação da nossa nacionalidade, neste caso, a criatividade da dupla Niemeyer e Bulcão assume uma dimensão excepcional, por homenagear numa única obra todo o continente latino americano.
No filme "A Idade da Terra"(1980) o cineasta Glauber Rocha (1939-1981) deu-lhe significados metafóricos.