sábado, 24 de março de 2018

AS CARICATURAS DE JOSÉ PADILHA


A série "O Mecanismo" - José Padilha/Netflix deixa a desejar. Modorrenta quase parando. No "Tropa de Elite" 1 e 2 era o "Sistema" agora é o "Mecanismo". É o mais do mesmo. O personagem do Selton Mello (ator/ diretor) não tem carisma, é aborrecido, sem empatia. Diálogos para lá de clichê - uma cartilha de como acender um fósforo. 

Os amigos de infância (Selton Mello -agente Polícia Federal) e Enrique Diáz - doleiro) seguem rumos diferentes, o vilão namorou a esposa do mocinho, o casal tem uma filha com algum transtorno (autista?), clichês jogados ao léu, caricaturas perigosas por que se inspira em fatos. Padilha, escorregou na casca de banana dele mesmo.


Para quem diz que se "baseou em fatos reais", no mínimo, aqui nesta série é desonesto. Por exemplo, atribuir a Lula uma frase que o país sabe que foi dita por Romero Jucá, exatamente quando tramava o golpe contra Dilma Rousseff? O doleiro (Alberto Youssef/Enrique Díaz) fazendo negociatas com o Ministro da Justiça, numa referência explícita ao jurista Márcio Thomaz Bastos, ele que foi uma reserva moral da cidadania brasileira? Sim, Padilha, inicia a sua estória recuando aos tempos da operação "Banestado" (1996-2003), mas não inclui num real tempo histórico, tudo fica no contexto do governo Lula, ora, todos nós sabemos que este escândalo (foi arquivado e que teve Juiz Sergio Moro como a autoridade que investigava) faz parte da biografia do governo FHC, portanto do PSDB. Sem falar na arrogante versão caricata da presidenta Dilma Roussef (Janete/Sura Berditchevsky) e por aí vai...


Imaginem caso o diretor Alan J. Pakula tivesse tomado "licenças poéticas" para contar a sua versão "baseado em fatos reais" no filme sobre o Caso Watergate - "Todos os Homens do Presidente" (1976), aliás, filme também baseado no livro "All the President's Men" de Bob Woodwoard e Carl Bernstein?


A série "O Mecanismo" parece uma narrativa espichada daquele filme que teve produção secreta e clandestina, até hoje nunca revelada publicamente, ele carrega no seu DNA a caricatura do filme “Polícia Federal – A Lei É para Todos”, outra “obra” de exaltação chapa branca. 

Enfim...o cinema brasileiro ainda deve um excelente filme/série sobre a nossa contemporaneidade. Um triller que nos emocione e nos revele aquilo que nos foi sonegado.


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"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.