terça-feira, 4 de junho de 2019

BANDIDOS NA TV


       "POLÍCIA É POLÍCIA, BANDIDO É BANDIDO.”


Finalmente resolvi encarar a série de nove episódios "BANDIDOS NA TV". É uma interpretação que mais esconde do que revela. Talvez porque o formato de série transformou-a numa modorrenta narrativa. 

De cara, o personagem principal Wallace de Souza, um ex-policial que virou "apresentador" de um sensacionalista programa de televisão-CANAL LIVRE. Um fenômeno de audiência em Manaus. Histórias escabrosas de assaltos, assassinatos e acertos de contas. 
O auditório composto por pessoas pobres. Todos os personagens, exceção do apresentador trazem características da herança indígena. E como se trata de Manaus-AM, não poderia ser diferente. 
O espaço da narrativa do programa é explícito, exaltar o perigo do assalto, das drogas e do traficante num espaço de terror. O explícito é banalizado e não tem fim...É tóxico, o espectador sempre quer mais, ele se transformou prisioneiro desta paranóia, sente-se fascinado. Está viciado.
O "apresentador" precisa cada vez mais de conteúdos para mante-los de olhos grudados na telinha. Todos os dias é preciso injetar-lhes uma dose de paranóia...o medo. 
O "apresentador" vira ídolo, espécie dum profeta das boas novas através de péssimas notícias. 
A série embaralha fatos e opta por uma narrativa aonde a família é porta-voz das "injustiças" contra o "apresentador". Sim, ele foi flagrado fazendo negócios com aqueles que denunciava e perseguia, pior...ele era o chefe da gangue. 
Uma sequência de fotos na piscina revelam a promiscuidade entre o bandido e o "apresentador". 
No contraponto e para criar um clima de expectativas, surge o inimigo - "o sistema", o receio da ascenção política do "apresentador", o transforma num alvo de "perseguição política". Entre lágrimas e doenças, a família defende o "apresentador"... 
Surgem as conversas telefônicas entre o "apresentador" e o "bandido", mas isso é mostrado de passagem, sem aprofundar para novamente cairmos na narrativa de lágrimas em profusões e com imagens do "apresentador" agonizando na cama do hospital. O acusado se transforma em vítima. 
O que podemos observar é que esta historia faz parte da trajetória trágica da impunidade, aquela que tem marcado a perniciosa relação entre polícia e o bandido aqui no Brasil. Nada diferente do que foi o "Esquadrão da Morte" anos 70. 
A justiça com as próprias mãos, geralmente pobres, negros e índios... todos pobres.
Ainda hoje, os programas sensacionalistas desta mesma natureza continuam com altos índices de ibope. Continuam manipulando emoções da população: sem educação, sem saúde, sem saneamento básico. 
Curiosidade: O jovem e atual governador do Amazonas aparece várias vezes na série quando apresentador de um programa populista na TV. Ele teve mais sorte que Wallace Souza, ele que almejava o poder politico amazonense.


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"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.