quarta-feira, 28 de abril de 2010

BRAS-ÍLHA, ESTÓRIAS, COSTUMES & LENDAS


                                                                                                                                                                        - antonio e aurelio michiles, UnB 2009 -



Hoje, 21 de abril, é um dia muito especial.


Brasília cincoentona, meio século, mas tambem não é só por isso, e sim o que ela significa para cada um de nós que foi tocado por essa paisagem paradoxal e verdadeira: o cerrado bruto e a delicadeza do imaginário modernista-futurista.

Eu, com meus 16 anos desembarcando na Capital Federal, 1968...todos os seus significados. Politizado, mas sexualmente virgem. Conheço a primeira mulher e me apaixono, vibro de felicidade, sofro.  

- Ai, o Amor! 

...As organizações políticas clandestinas, a legalidade, a luta armada... fui em direção aos sons da guitarra de Jimi Herndrix. Sexo, drogas e o rock (tambem muito jazz, baião, bossa nova, MPB e que tudo mais que vá para o inferno!). A luta pela permanência plena das liberdades.

Fiz muitas amizades em Brasilia, mesmo assim sentia-me sozinho, solitário...tempos depois descobrir não tinha haver com Brasília, nem com Manaus... Vamos em frente.


Brasília significa tantas coisas, a beleza, a ousadia e a trangressão. Uma sensibilidade numa correnteza contra a província, mesmo assim permanecendo assim mesmo, meio caipira e meio besta-fera cosmopolita. 

Brasilia é o desejo de pôr os pés na estrada, em se jogar no mundo de sete léguas, como fizeram milhares de brasileiros e que aqui foram denominados de "candango". Tudo isso olhando no álbum da memória me toca tão bem, numa sintonia em performance de violino e piano. 

Em Brasília realizei meu primeiro filme (Super8) "Bras-ilha, estórias, costumes e lendas"(1972), estudei artes e arquitetura, fui professor artes cênicas no SESI-Taguatinga, depois de 5 meses viajando pela América do Sul, numa aventura seguida por outros amigos brasilienses (Armandinho Rollemberg, Luiz Claudio (Fai-Fai), João Bosco, Alex e Nestor + Xico Chaves), estávamos presentes em momentos históricos significativos da Argentina (Peron), Chile (Allende) e Peru (Alvarado)... 


No Peru depois de um encontro inusitado em plena Plaza del Sol-Miraflores com Glauber Rocha, eu e Armandinho compartilhamos segredos, reflexões, angústia artística e existencial deste brasileiro genial, depois, ele nos levou a casa (jantar) de Darcy Ribeiro, aonde o mestre pediu que falássemos sobre Brasília e a sua UnB. Dois meses depois de volta ao Brasil vindo de Manaus a Brasília fui sequestrado, a luz do dia no aeroporto de Brasília, encapuzado e jogado as bestas feras dos orgãos de repressão - junho de 1973. 


Mas tudo isso, assim, visto hoje, Brasília permanece como a barbárie/utópica daquele desafio recorrente: 

"o sertão vai virar mar /o mar vai virar sertão".

Brasília não é o reflexo, é o espelho do Brasil.

A imagem que os brasileiros vêem não lhes agrada.


Aí amo tudo que vivi, e aproveito pra agradecer-lhe ter te conhecido e mantido por tantos tempos essa amizade, Brasília.

Morador adolescente e ex-aluno do Elefante Branco e da UnB.

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"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.