segunda-feira, 5 de novembro de 2012

GONZAGA - DE PAI PRA FILHO





Fui assistir "Gonzaga - de Pai pra Filho" (Breno Silveira), emocionante, história reflexo deste Brasil
testemunha de tantos dos seus filhos, e que apesar de todas adversidades conquistaram a glória, mesmo que custasse a afetividade expressa entre pai e filho.
 

O Nordeste que tanto contribuiu com o Brasil das diversidades, por incrível que pare ça mesmo assim ainda existe gerações de brasileiros que desconhecem esse mexe e remexe do Rei do Baião, e a aspereza desesperada e apaixonante de Gonzaguinha.
 

O cinema é isso, daí a necessidade de um cinema que fale conosco. Ele nos enquadra no imaginário latente (e em algum) dentro de nós:  A mula, o chapéu de cangaceiro, Lampião e Maria Bonita, Padim Cicero, a vingança pela honra, Antonio das Mortes, Antonio Conselheiro, beatas, místicos messiânicos, "Nordestino", "caba-da-peste", "fome", "miséria", "brabo", "paraíba", "baiano", "migrantes nordestinos" rumo ao sul maravilha, eles que fizeram as máquinas da indústria do ABC paulista se mover, repovoaram a Amazônia fugindo da sêca para serem re-escravizados naquela úmida região, daí surgiram muitos personagens na área da música, literatura, cinema, artes plasticas e na politica, nada menos que Luis Inácio LULA da Silva. 

O filme "Gonzaga - de Pai pra Filho" me fez fazer uma revisitação desde os tempos da minha infância ao ouvir meu avô Mestre Joaquim, migrante nordestino, homem tinhoso e de uma sabedoria incomum, e quando costumava afirmar: "-Aqui o caba não morre de fome". Referindo-se a provável fartura da Amazônia. "- Lá no nordeste, o caba come até casca de banana, sim, mas caso tivesse, e como não têm o caba morre de fome". Depois veio as primeiras leituras de "Vidas Secas"(Graciliano Ramos), a tomada de consciência do Brasil profundo através de "Geografia da Fome" (Josué de Castro) e "Deus e o Diabo na Terra do Sol"( Glauber Rocha). Tudo isso era embalado de uma maneira subliminar com as músicas tocadas e cantadas por Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro naquela Manaus sob mormaço, marasmo e lassidão...final anos 50 e início 60.  O nordeste Não é somente um lugar geográfico, mas e sobretudo como gostava de dizer Lina Bo Bardi - "a civilização do nordeste". Tal é a força daquela cultura que contagia o Brasil.

Este filme têm mais, ele tambem reflete um certo olhar para dentro de nós, aquela auto-estima que necessitamos para acreditar em nossa própria capacidade de transformar e sintonizar-se com este Brasil antes e depois da "era Lula".

"Gonzaga - de Pai pra Filho" (Breno Silveira) me fez recordar tambem um saudoso amigo querido - Narciso Lobo - diante do nosso radical maravilhamento com a capa do LP "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", fez um comentário fa-tal:

"- É muito bom, mas ficava melhor se aí tivesse Luiz Gonzaga".

Por tudo isso e muito mais o filme deveria ter censura : LIVRE.

Nenhum comentário:

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.