Em pé: Manoel Rangel,André Klotzel,Raquel Gerber,Ricardo Dias, Aurélio Michiles,Jorge Bodanzki, Marcia Bodanzki,Claudio Khans, Roberto Gervtiz... Sentados: Maria do Rosario Caetano,Hamilton Pereira, Lygia F. Telles,Carlos Augusto Calil e Olga Futemma.
- A minha contribuição -
PAULO EMILIO SALLES GOMES, Profissão: Cinema Brasileiro" de Aurélio Michiles
Não, infelizmente não conheci Paulo Emilio Salles Gomes (1916-1977), mas a impressão pessoal que tenho é a certeza que nos conhecemos de alguma forma, tal foi, e é os fios invisíveis que nos une. Senão vejamos.
Manaus final dos anos 60, havia um ativo cineclube, localizado alguns metros da minha casa e lá comecei a freqüentar, mas por não ter o que fazer, além de perambular pelas ruas com amigos refletindo sobre tudo e o nada. O GEC – Grupo de Estudos Cinematográficos funcionava na Biblioteca Pública, e era aí que se revelava um outro mundo do conhecimento, sessões de filmes com posteriores calorosos debates. E foi justamente num destes debates que ouvir pela primeira vez alguém dizer, “Segundo Paulo Emilio...”. Esse nome colou na minha memória, esse tal de “Paulo Emílio deve o ser o cara”, pensei. Esse outro alguém que o havia citado, era um paulista que se encontrava visitando Manaus e escrevia críticas de cinema no jornal “O Estado de São Paulo”; nem passou muito tempo, logo estreou o filme “O Bandido da Luz Vermelha”, espiando a foto do diretor numa revista, lembrei do “cara” que havia falado “segundo Paulo Emílio...”, era Rogério Sganzerla.
Já no início anos 70, estudante da Universidade de Brasília, freqüentei como parte do Instituto de Artes e Arquitetura um curso de cinema, e este era composto por um grupo de cineastas, entre eles estava Vladimir Carvalho, Fernando Duarte, Cecil Thiré, Heinz Forthman...Tanto nas aulas conferências de Jean Claude Bernardet, assim como nas conversas informais surgia o nome “Paulo Emílio”. Tudo isso não era somente uma referência de memória, e nem poderia ser diferente porque Paulo Emilio Salles Gomes (agora tinha nome e sobrenome), havia sido, junto com outros cineastas, por exemplo Nelson Pereira dos Santos um dos pioneiros do Curso de Cinema da UnB - Universidade de Brasília (antes do golpe 64). Neste curto período eles haviam fomentado a realização de documentários cuja temática era Brasília (“Fala Brasília”). Também lançaram as sementes do Festival de Cinema de Brasília. Em conversa com amigos que estudavam arquitetura ou artes na Universidade de São Paulo, o nome de Paulo Emílio era também uma forte referência como aquele professor cuja aula valia por uma vida universitária. Aqui, revelo que não me contentava mais em apenas ouvir o nome “Paulo Emílio”, mas um desejo em ter a experiência física como aluno, e ouvir este mestre e compartilhar da sensibilidade do seu conhecimento numa sala de aula. Já havia lido o seu clássico e ainda atual texto sobre “A Personagem Cinematográfica” e o livro “Humberto Mauro, Cataguazes, Cinearte”. Já tinha assimilado a sua enorme contribuição como professor, intelectual, pensador, ator, roteirista, ficcionista, critico e ativista. Outro dia, por conta do filme-documentário que estou realizando, tive a oportunidade de constatar a sua forte presença como ator no filme “Gimba” (1963), onde interpreta um delegado de policia; Paulo Emilio refletindo sobre a importância da Cinemateca no filme “Nitrato” (1975), e o seu carisma como professor numa sala de aula no filme “Tem Coca Cola no Vatapá” (1975).
Numa conversa (lamentavelmente não gravada-2007) com Rudá de Andrade, ele me contou como eram aqueles anos da ditadura Vargas, quando Paulo Emilio carregava de esconderijo em esconderijo, as latas dos filmes que exibiam em sessões clandestinas. Um desses lugares era a própria casa de Paulo Emilio, na rua Dr. Veiga Filho (Bairro Higienópolis - São Paulo), hoje coincidentemente moro nas cercanias, mas as vezes (todos os dias) que passo em frente, espio a ex-casa, hoje um estacionamento, e fico memorizando a narrativa do Rudá, e a emoção daqueles ousados jovens desafiando a ditadura Vargas ao assistir um filme “proibido”, mas sobretudo no que resultou aquela energia, simplesmente na criação de uma instituição que hoje é a Fundação Cinemateca Brasileira.
Já faz bastante tempo que Paulo Emilio Salles Gomes ocupa um lugar mítico, mas por incrível que pareça é que na visada deste seu legado podemos apenas estabelecer o que ele foi realmente: um homem de ação/opinião. Basta citarmos esta frase de Paulo Emilio para termos a dimensão do seu pensamento que sem polemizar provocava as pessoas a pensar num outro enquadramento, aqui neste caso, ele nos leva a refletir sobre o significado do que seja a importância da produção da imagem na imagem de um povo:
"Prefiro os subdesenvolvidos filmes do nosso cinema aos melhores filmes do cinema estrangeiro".
A grande dívida dos grandes eventos que saúdam o cinema brasileiro é a recorrência em não homenagear aqueles, que por exemplo, como Paulo Emilio Salles Gomes, Rudá de Andrade, Jurandir Noronha, Alex Vianny, Cosme Alves Netto lutaram pela conservação e preservação da História do Cinema brasileiro e internacional.
Não, infelizmente não conheci Paulo Emilio Salles Gomes (1916-1977), mas a impressão pessoal que tenho é a certeza que nos conhecemos de alguma forma, tal foi, e é os fios invisíveis que nos une. Senão vejamos.
Manaus final dos anos 60, havia um ativo cineclube, localizado alguns metros da minha casa e lá comecei a freqüentar, mas por não ter o que fazer, além de perambular pelas ruas com amigos refletindo sobre tudo e o nada. O GEC – Grupo de Estudos Cinematográficos funcionava na Biblioteca Pública, e era aí que se revelava um outro mundo do conhecimento, sessões de filmes com posteriores calorosos debates. E foi justamente num destes debates que ouvir pela primeira vez alguém dizer, “Segundo Paulo Emilio...”. Esse nome colou na minha memória, esse tal de “Paulo Emílio deve o ser o cara”, pensei. Esse outro alguém que o havia citado, era um paulista que se encontrava visitando Manaus e escrevia críticas de cinema no jornal “O Estado de São Paulo”; nem passou muito tempo, logo estreou o filme “O Bandido da Luz Vermelha”, espiando a foto do diretor numa revista, lembrei do “cara” que havia falado “segundo Paulo Emílio...”, era Rogério Sganzerla.
Já no início anos 70, estudante da Universidade de Brasília, freqüentei como parte do Instituto de Artes e Arquitetura um curso de cinema, e este era composto por um grupo de cineastas, entre eles estava Vladimir Carvalho, Fernando Duarte, Cecil Thiré, Heinz Forthman...Tanto nas aulas conferências de Jean Claude Bernardet, assim como nas conversas informais surgia o nome “Paulo Emílio”. Tudo isso não era somente uma referência de memória, e nem poderia ser diferente porque Paulo Emilio Salles Gomes (agora tinha nome e sobrenome), havia sido, junto com outros cineastas, por exemplo Nelson Pereira dos Santos um dos pioneiros do Curso de Cinema da UnB - Universidade de Brasília (antes do golpe 64). Neste curto período eles haviam fomentado a realização de documentários cuja temática era Brasília (“Fala Brasília”). Também lançaram as sementes do Festival de Cinema de Brasília. Em conversa com amigos que estudavam arquitetura ou artes na Universidade de São Paulo, o nome de Paulo Emílio era também uma forte referência como aquele professor cuja aula valia por uma vida universitária. Aqui, revelo que não me contentava mais em apenas ouvir o nome “Paulo Emílio”, mas um desejo em ter a experiência física como aluno, e ouvir este mestre e compartilhar da sensibilidade do seu conhecimento numa sala de aula. Já havia lido o seu clássico e ainda atual texto sobre “A Personagem Cinematográfica” e o livro “Humberto Mauro, Cataguazes, Cinearte”. Já tinha assimilado a sua enorme contribuição como professor, intelectual, pensador, ator, roteirista, ficcionista, critico e ativista. Outro dia, por conta do filme-documentário que estou realizando, tive a oportunidade de constatar a sua forte presença como ator no filme “Gimba” (1963), onde interpreta um delegado de policia; Paulo Emilio refletindo sobre a importância da Cinemateca no filme “Nitrato” (1975), e o seu carisma como professor numa sala de aula no filme “Tem Coca Cola no Vatapá” (1975).
Numa conversa (lamentavelmente não gravada-2007) com Rudá de Andrade, ele me contou como eram aqueles anos da ditadura Vargas, quando Paulo Emilio carregava de esconderijo em esconderijo, as latas dos filmes que exibiam em sessões clandestinas. Um desses lugares era a própria casa de Paulo Emilio, na rua Dr. Veiga Filho (Bairro Higienópolis - São Paulo), hoje coincidentemente moro nas cercanias, mas as vezes (todos os dias) que passo em frente, espio a ex-casa, hoje um estacionamento, e fico memorizando a narrativa do Rudá, e a emoção daqueles ousados jovens desafiando a ditadura Vargas ao assistir um filme “proibido”, mas sobretudo no que resultou aquela energia, simplesmente na criação de uma instituição que hoje é a Fundação Cinemateca Brasileira.
Já faz bastante tempo que Paulo Emilio Salles Gomes ocupa um lugar mítico, mas por incrível que pareça é que na visada deste seu legado podemos apenas estabelecer o que ele foi realmente: um homem de ação/opinião. Basta citarmos esta frase de Paulo Emilio para termos a dimensão do seu pensamento que sem polemizar provocava as pessoas a pensar num outro enquadramento, aqui neste caso, ele nos leva a refletir sobre o significado do que seja a importância da produção da imagem na imagem de um povo:
"Prefiro os subdesenvolvidos filmes do nosso cinema aos melhores filmes do cinema estrangeiro".
A grande dívida dos grandes eventos que saúdam o cinema brasileiro é a recorrência em não homenagear aqueles, que por exemplo, como Paulo Emilio Salles Gomes, Rudá de Andrade, Jurandir Noronha, Alex Vianny, Cosme Alves Netto lutaram pela conservação e preservação da História do Cinema brasileiro e internacional.
O Livro: "Paulo Emilio Salles Gomes ; O Homem Que Amava o Cinema e Nós Que o Amávamos Tanto" - Uma publicação do 45.o Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro/ Secretaria de Cult Distrito Federal -
Organizado por Maria do Rosário Caetano, Brasília-DF, 2012.
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