domingo, 13 de setembro de 2015

QUE HORAS ELA VOLTA? OU A VOLTA QUE O BRASIL DEU


Finalmente chegou a vez de assistir ao filme "Que Horas Ela Volta?"

... Fui na sexta-feira, dia 11,  às16h20, no Cine Belas Artes e para inicio de conversa, a sala estava quase lotada. Que coisa boa! E isto me encheu de alegria. 


Este filme da Anna Muylaert é carregado de significados, um assunto cabeludo, ainda tabu entre nós, quase sempre tratado como caricatura. A diretora não se intimidou diante do assunto, tanto que elabora uma dramaturgia que não turva as emoções do espectador; afinal, deveria ser diferente? 

Aqui neste filme da Anna temos a oportunidade rara de nos ver no espelho do perverso "pathos social" brasileiro: "a empregada doméstica", "o quarto-de-empregada". Isto que é a própria permanência das precárias e arcaicas relações na construção de um país justo. Cinicamente, muitos brasileiros ainda insistem nesta permanência. E, conseguiram, o mercado imobiliário de Miami (EUA), incorporou nas edificações (exclusivo aos brasileiros) justamente o (in) cômodo "quarto-de- empregada". A "casa grande" insiste manter para si este hediondo espaço para suas transgressões morais e assédios sexuais.  


A identificação do público brasileiro com o filme vem muito da catarse que todos nós estamos submetidos para compreender o nosso país diante das fortes mudanças que aconteceram nos últimos 10 anos, uma ascensão de classe, com o no caso da Val (empregada doméstica), imigrante nordestina que chegou em São Paulo em busca de uma "vida melhor". A dissolução da sua família em sua cidade de origem é apenas aparente. Tudo fica muito claro quando ela recebe a filha Jessica (Camila Márdia) em sua casa e que é o "quartinho" na casa aonde trabalha. A principio a idéia de receber a filha é bem recebida pela família, somente depois quando se revela os desejos da "filha da empregada":  veio prestar vestibular...e não somente isso...para "arquitetura" e não somente isso...na "FAU-USP"!

Diante desta realidade a hospitalidade da família se coloca em confronto com as conquistas e fracassos do filho dos patrões, Fabinho (Michel Joelse) que também vai prestar o vestibular. Jessica, a filha de Val, a empregada, "uma pessoa como se fosse quase da família" coloca a nu as verdadeiras relações sociais daquele "pathos" de uma família burguesa a partir da chegada desta nada misteriosa, mas desafiadora hóspede. O drama familiar se estabelece entre os patrões e a própria relação entre Val (empregada doméstica) e Jessica ( a filha deixada para ser criada no nordeste). O conflito se expõe e o filme cresce.


O carisma da atriz Regina Casé e o seu talento sempre pouco explorado mais uma vez neste filme "QUE HORAS ELA VOLTA?", ela brilha e nos faz lembrar da sua magnífica interpretação naquele outro filme "Eu, Tu, Eles"( Andrucha Waddington). 

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"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.