domingo, 20 de janeiro de 2008

TUPI, OR NOT TUPI THAT IS THE QUESTION (1)



                       "O GÊNIO É UMA BESTEIRA" , Oswald de Andrade.

        O filósofo Roberto Mangabeira Unger tem sido uma figurinha carimbada no cenário político nacional faz um tempão. Personagem quase caricata, porque quando tenta se comunicar entre os seus iguais, se expressa num forte sotaque típico do norte-americano folclórico que habita entre nós. Viveu desde criança nos EUA. É descendente de políticos tradicionais do poder brasileiro.

Segundo sua biografia foi um dos mais jovens professores na história da impoluta Universidade de Harvard-Boston
.
Atualmente encontra-se ministro de estado do governo Lula aonde é responsável a criar projetos para o futuro do Brasil.

       Na sua militância por novas alternativa políticas no Brasil, Mangabeira Unger assessorou políticos e partidos de diversos matizes, candidatou-se a candidato a presidência do Brasil, e é autor do comentário mais implacável sobre o governo Lula, propondo inclusive o seu impeachment.

    Neste mês de janeiro resolveu viajar pela Amazônia, levando consigo propostas originais para resolver as questões que desafiam a cobiçada região, uma delas , a exemplo daquele personagem de Werner Herzog, no filme "Fitzcarraldo" - delirante e obsessivamente tenta transportar o seu barco através da floresta até um outro rio- da mesma maneira agiu o doutor Mangabeira ao propor como solução a escassez de água no Nordeste, transportar as águas da Amazônia para a região das "Vidas Secas".

- Uáu, esse doutor Mangabeira é genial!

       Realmente a Amazônia não tem tido muita sorte com seus futurólogos, esta "idéia genial" alem de não ter base realista, ela é também filha de outras tantas "idéias geniais" ao longo dos séculos.

    Em 1877 durante a grande seca do nordeste brasileiro, D. Pedro II chegou a afirmar que "empenharia até as jóias da Coroa, mas não permitiria que os sertanejos passassem fome". E não arriscou perder as jóias da coroa, mandou milhares de nordestinos para a Amazônia, desta maneira haveria mão-de-obra para sustentar o "boom" da borracha. Fala-se em quase 300.000 mil nordestinos que foram tirados da seca e jogados no molhado amazônico.

       Em 1942 o Brasil como esforço de guerra, envia milhares de nordestinos para os seringais da Amazonia.- "os soldados da borracha".

   Em 1967 a "genial dupla" de futurólogos Hermann Khan e Robert Panero, do Hudson Institute, de Nova York, a serviço do Departamento de Estado dos Estados Unidos, surgiram com a “idéia genial” para se construir o Projeto dos Grandes Lagos Amazônicos. Este "Mar Mediterrâneo Amazônico" ou “Os Grandes Lagos" como ficou conhecido, tinha como estratégia viabilizar a navegação do Brasil com os seus vizinhos amazônicos, ligando esses "Grandes Lagos" por meio de uma hidrovia interior com saída para o Pacífico, à semelhança do Canal do Panamá.

   Imensas extensões da Amazônia brasileira (inclusive parte da cidade Manaus) e colombiana seriam cobertas pelas águas destes sete lagos. Esse era o mirabolante plano dos "geniais cientistas e futurólogos" Hermann Khan e Robert Panero.

       Os seus projetos foram arquivados, mas não nos esqueçamos, seus livros na época foram Best Sellers.
Infelizmente estas mirabolantes "idéias geniais" não haviam se esgotados.

Entre os anos de 1969 a 1974, no rodízio de generais, assumiu a ditadura brasileira Emílio Garrastazu Médici ("os anos de chumbo"), segundo se conta em 1970, ao visitar o semi-árido nordestino, a exemplo de D. Pedro II emocionou-se com o drama da seca, diante da qual teve uma "idéia genial e original” para resolver o drama daqueles nordestinos:

"Os homens sem terra do Brasil para as terras sem homens da Amazônia".

Como preparação do terreno, logo foi criada uma justificativa:

"O índio não pode impedir a passagem do progresso".

O resultado se encontra até hoje, conflitos sociais e agrários se acentuaram, manteve-se a arcaica estrutura fundiária para se construir a megalômana e mirabolante rodovia Transamazônica, que nunca foi acabada, o custo desta colonização e o impacto ecológico é uma espécie de herança maldita.

O doutor Roberto Mangabeira Unger, como filosofo e historiador tem por obrigação conhecer a história do começo ao fim, principalmente aquelas “estórias” que tem assinatura dos “geniais futurólogos”, os quais, tem sido uma recorrência nesta insistente reinvenção da Amazônia.

    Atualmente os habitantes da Amazônia somam mais de vinte milhões, fazendo movimento contrario a sua demografia tradicional (espalhada) concentram-se, formando núcleos urbanos, aonde a produção de dejetos é um flagrante do desleixo da urbanização brasileira. Quem sabe esteja aí um desafio a ser sanado pelo doutor Mangabeira, fazer o translado das cuias às caixas d'água. Com certeza, esse precioso liquido tratado e jorrando nas torneiras, vasos sanitarios, chuveiros e bebedouros sadios irão salvar milhares de vidas.

A questão da Amazônia não é uma questão exclusiva dos amazônidas, ela não é a origem e nem o seu fim. Mas poderá através da sua espetacular paisagem ameaçada e degradada abrir os olhos daqueles que apenas a vêem como um sonho mirabolante.
Um dia o meu avô materno, o Mestre Joaquim, que veio para o Amazonas fugindo da seca nordestina, diante da exuberância que ali encontrou, não se conteve:

“- Meu neto, nunca se esqueça: quem planta uma planta, poderá vir a passear numa floresta”.

(1) "Manifesto Antropófago", de Oswald de Andrade (Revista de Antropofagia, Ano I, No.1, maio de 1928).

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"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.