sexta-feira, 10 de outubro de 2008

AQUI TUDO BÓIA, FLUTUA, MAS NÃO EXISTE ESCOLA NAVAL




Sexta 10 de outubro de 2008.

Outra vez, deu nos jornais e nos noticiários de televisão e internet... Naufrágio na Amazônia.

“A Capitania dos Portos de Parintins (AM), o Corpo de Bombeiros e voluntários levaram toda a madrugada para resgatar os cerca de 80 passageiros do barco “Cidade de Urucará”, que naufragou ontem à noite no rio Amazonas, próximo à cidade de Parintins, a 369 km de Manaus.”

“Segundo informações de passageiros, a embarcação estava carregada com muito cimento e tijolos dentro do porão, o que teria contribuído para o naufrágio, mesmo com a tentativa de amarrar o barco nas árvores situadas na margem do rio.”

“A Marinha informou que será aberto inquérito para investigar o acidente...” Etceteras.

RECORRÊNCIA... ANUNCIADA

A canoa virou e para o fundo levou seus passageiros. De quem é a culpa? No imaginário da Amazônia arcaica existe um lugar remoto e aquático, “o povo do fundo do rio” (1) (2). Todo mundo sabe, ao menos os mais antigos, aqueles que não têm medo de assombração... senhores (a) de cabelos brancos, com a pele encardida, enrugada, feito a hidrografia amazônica.

1. Não faz muito tempo, um barco foi ao fundo. A balsa bateu e ele adernou, tombou de lado, a água entrou e como as portas das cabines só abrem pra dentro, não teve jeito de empurrá-las, a força da água afogou todo mundo que se encontrava descansando na cabine.

Um barco totalmente irregular, já havia sido multado pela Capitania dos Portos do Amazonas, e mesmo assim foi deixado sob custódia por nada menos o próprio proprietário, este se comprometeu a corrigir as irregularidades antes de colocá-lo disponível a navegação, simplesmente o barco não havia sequer bóias salva-vidas.

CREONTES IRRESPONSÁVEIS

Os donos destas embarcações, como se eles tivessem o poder sobre o destino, irresponsavelmente resolvem navegar, carregando dezenas de incautos passageiros.Resultado: cenas horríveis dos corpos sob o abraço dos afogados. Muitos deles são encontrados semanas depois, a 80 quilômetros ou mais distancias do local aonde aconteceu à tragédia fluvial...

ESTATISTICAS DOS MORTOS

Todos os anos o numero de mortos em naufrágios na Amazônia sequer viram estatísticas. Não se sabe e nem se conta o número de embarcações que vão ao fundo, como estivessem numa batalha naval sem confrontos ou adversários, quer dizer, sem levar em conta a ganância, o descaso e a irresponsabilidade de uma política administrativa dos transportes que navegam pela hidrografia amazônica.

ESCOLAS NAVAIS ?

O pouco caso que se faz com a potencialidade desta via natural - utilização e instrumentalização - sem incentivo para um conhecimento técnico e cientifico, por exemplo, uma amazônica Escola Naval. Ainda hoje esse negócio vital para a circulação de riquezas na região é um conhecimento de “pai-pra-filho” ou do "mestre ao aprendiz". Os modelos que circulam pelos rios são os mesmos que já navegam há mais de setenta anos e são popularmente conhecidos como "motôr-de-linha".Os seus “comandantes”, denominados de “práticos” não utilizam mapas (mesmo porque os mapas oficiais são incorretos) e nem bússolas, mas através de mapas configurados em suas cabeças, a partir da relação de vida, do homem com os lugares ou do homem com os outros, numa espécie de cartografia mental.

(1) Santos e Visagens, Eduardo Galvão, Companhia Ed. Nacional, 1976.

(2) Órfãos do Eldorado, Milton Hatoum, Companhia das Letras, 2008.

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.