quinta-feira, 2 de outubro de 2008

BERLIN WALL & WALL STREET



A CASA CAIU


Os muros são barreiras sólidas palpáveis ou não, podem até ser virtuais, mas eles caem, transformam-se em ruínas, relíquias, permanecem intactos em nosso imaginário.


Senão vejamos: a "Muralha da China", o “Muro das Lamentações”, o “Muro do Estado de Israel contra os Palestinos”, o “Muro dos Estados Unidos da América do Norte contra os Mexicanos” e o MURO DE BERLIM, esse sem dúvida, é o mais visível de todos os muros. Ele caiu em 1989 e com ele a guerra fria e que na verdade significava propostas divergentes para gerir a riqueza produzida pela humanidade: CAPITALISMO OU COMUNISMO? ESTADO OU MERCADO?


E "Wall Street", este outro muro, é uma rua ou um beco sem saída? Qual é mesmo a sua origem? (1)


RELAÇÕES CARNAIS COM O MERCADO PREDADOR

Depois do festejado melancólico fim, as ruínas do MURO DE BERLIM viraram objetos de consumo, seus fragmentos são vendidos como souvenir.

O mundo naquele período histórico entoava loas exaltando a economia neoliberal, o Acordo de Washington alinhava a todos no mesmo princípio da globalização alavancada pela revolução tecnológica que avançava quebrando os paradigmas das fronteiras – a infovia e as suas máquinas de convergir mídias.

O discurso dos líderes (Reagan, Thatcher e o Papa João Paulo II) daquela época substituía implacavelmente o Estado pelo Mercado e o exemplo a seguir era os Estados Unidos da America do Norte. Em nome da propriedade privada transformou-se as conquistas sociais em pó, regrediu-se a cada um por si, danem-se os outros.

O coletivo não existe somente o individualismo. A família, a nação e o emprego transformaram-se em moeda volátil, virtual. Paga-se para se viver, o que interessa são as aparencias (e elas enganam), personalidades midiáticas confundem-se com ações altruísticas em causa própria.


Como resultado temos o Capitalismo predador e no seu rastro o aumento do desemprego, as transformações dos subúrbios das grandes cidades em guetos, a paisagem natural exaurida transformadas em deserto, as classes trabalhadoras em classes marginais e perigosas, a informalidade da economia como um orgânico vírus de corrupção da sociedade. 


HEGEMONIA DO DÓLAR & DEFICIT NORTE - AMERICANO

Países como o Brasil, Argentina e México viram seu patrimônio de conquistas da gestão do seu patrimônio econômico volatizar-se em propriedades virtuais, sem nenhuma cerimônia. Por aqui se vendeu quase tudo, só não conseguiram desfazer-se da Petrobras.
Na Argentina não sobrou nada e a consequencia foi uma paisagem de empobrecimento e humilhação com que os argentinos tiveram que enfrentar. Os executivos do FMI (Fundo Monetário Mundial) desembarcavam como fossem os inquisidores medievais, ditavam as regras e pouco estava ligando para a calamidade social causada por suas ações intervencionistas.



A MÃE MERCADO X O PAI ESTADO


Os ditames de Wall Street entoavam o coro imperial dos índices de riqueza no mercado mundial. Livre do outro muro (Berlin Wall) não havia comunista debaixo da cama, mas agora eram os terroristas islâmicos. E em nome desta “guerra santa” torram-se trilhões de dólares, gastou-se o que tinham e o que não tinham, apostou-se no milagre do mercado, e este não veio. O que aconteceu todos já sabe e começa-se a vivenciar, é o quebra-quebra do sistema financeiro.

Diante deste quadro "entre - muros" do centro nervoso do capitalismo mundial nos leva a fazermos uma relação metafórica com MURO DE BERLIM, este feito de pedra, ferro e medo com este outro aparentemente mais sólido e confiável - WALL STREET, a famosa Rua em Manhattan, NY, onde ficam a Bolsa de Valores (New York Stock Exchange) e o Banco Central dos EUA (Federal Reserve Bank).

YOU CAN'T TAKE IT WITH YOU
DO MUNDO NADA SE LEVA

Passados todos os fatos que compõe a aventura arrivista dos investidores e especuladores do capital financeiros, estes, sempre demonstraram que não estão nem aí para os outros, afinal, “o capital não tem pátria”. O crime não compensa, quando é descoberto. A cultura dos Estados Unidos o personagem do ladrão, dos criminosos, daquele que se locupleta com o trabalho alheio é celebrado como uma recorrente figura épica, basta lembrarmo-nos dos filmes de gângsteres ou alguns outros que perfazem essa trajetória: Do Mundo nada se leva (Frank Capra), Era uma vez na América (Sergio Leone), Gangs de Nova York (M. Scorcese), O Insaciável (Edgar G. Ulmer), O Poderoso Chefão (F. F. Coppola), Wall Street (Oliver Stone), filmes emblemáticos sobre o poder paralelo baseado na corrupção, triunfo, glória e decadência.

ABBIE HOFFMAN and WALL STREET

Diante desta perversa imoralidade do mercado financeiro norte-americano, o qual denominam a traição ao “poupador” como “subprimes”, não se pode deixar de massagear a memória ao lembrarmos-nos daquela ação política em Wall Street, refiro-me a agosto de 1967 quando o líder do movimento underground Abbie Hoffman (2) (3) para demonstrar sua indignação contra o reino do dinheiro acima de tudo, vestido com uma roupa feita com a bandeira norte-americana, num gesto anticapitalista postou-se no balcão dos investidores jogando sobre eles - no “pregão” do New York Times Stock Exchange - notas de um dólar, fala-se em mil dólares, Hoffman declarou apenas 300 dólares que lhe foi doada pelo músico Jimi Hendrix.

NOTAS


(1) Em 1626 o holandês Peter Minuit fez um negócio inimaginável, comprou por uma ninharia (literalmente)
a “ILHA DE

MAN-A-HATT” dos índios Algonquianos, justamente contra quem foi construída, em 1653, uma muralha de madeira. A muralha foi destruída em 1699 e a lembrança ficou só no nome da rua – “Wall Street”.



(2) Abbie Hoffman (1936-1980) foi o fundador do partido Internacional da Juventude (Yippie). Entre as suas ações está a tentativa de fazer levitar o Pentágono através da meditação; a ameaça de jogar LSD nos reservatórios de água de Nova Iorque. Foi preso diversas vezes, procurado pelo FBI viveu na clandestinidade vários anos. As suas espetaculares intervenções políticas misturavam ousadia teatral, provocações irônicas com extrema irreverência política.


(3) "Roube esse filme" (Steal this movie), EUA, 2000. Dir. Robert Greenwald (cinebiografia de A. Hoffman)

PEQUENA FILMOGRAFIA

(1) DO MUNDO NADA SE LEVA (You Can't Take It With You)
EUA, 1938
Dir.: Frank Capra

(2) ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (Once Upon a Time in America)
Itália / EUA, 1984
Dir.: Sergio Leone

(3) GANGS DE NOVA YORK (Gangs of New York).
EUA/Alem. /Itália/Grã-Bretanha/Holanda, 2002.
Dir.: Martin Scorsese

(4) O INSACIÁVEL (Ruthless)
EUA, 1948
Dir. Edgar G. Ulmer

(5) O PODEROSO CHEFÃO (The Godfather)
EUA, 1972
Dir.: F. F. Coppola

(6) WALL STREET
EUA, 1987
Dir.: Oliver Stone 

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"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

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Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.