sábado, 17 de agosto de 2013
THE BLING RING... A GANGUE DE HOLLYWOOD
Não perdi tempo para ir assistir o último filme de Sofia Coppola que é também co-roteirista de “BLING RING: A GANGUE DE HOLLYWOOD”.
Sofia Coppola é uma cineasta de sutilezas, mete o dedo na ferida alienante e alienada da sociedade contemporânea como se ela tivesse dedos precisos de um cirurgião, desde o pertubador ”As Virgens Suicidas” ou no enigmático salto na solidão de “Encontros e Desencontros” (2004). Agora, neste filme “Bling Ring: A Gangue de Hollywood” ela nos leva a conhecer com intimidade de privilegiado observador da trajetória criminosa de uma das quadrilhas mais alienadas de nossos tempos, ou como se auto define o personagem masculino “Marc” (Israel Broussard):
“- A América sempre teve uma profunda atração por personagens como Bonnie and Clyde”.
Estrelado por Emma Watson (“Hermione -Harry Potter”) e participações especiais de Paris Hilton e Kirsten Dunst (a protagonista de “As Virgens Suicidas”). O filme é baseado no artigo da premiada repórter Nancy Jo Sales, publicado na revista Vanity Fair,“The Suspects Wore Louboutins“.
Os integrantes da gangue de adolescentes faz parte dos bem nascidos e endinheirados de Los Angeles, mas e talvez por isso mesmo obcecados por seus vizinhos celebridades. Numa fantasia em que se mistura hipocrisia religiosa e familiar, esses promissores estudantes dizem frases do tipo:
“- Hoje estou com vontade de roubar” ou “- Vamos as compras!”.
Frases como estas serviam de senha para assaltarem as casas de celebridades e roubar-lhes os ícones de consumo: Prada, Chanel, Marc Jacobs, Tiffany, Rolex, Cartier...
Tudo isso acontecia sem que os pais se dessem conta, mesmo que eles ostentassem as roupas e os outros itens de alto luxo. Nesta arriscada e fútil brincadeira, a gangue entre 2008 e 2009, roubaram o equivalente a 3 milhões de dólares em roupas, jóias e peças de arte de personalidades como Paris Hilton, Lindsay Lohan, Orlando Bloom entre outros.
Ao final da sessão não tinha como deixar de fazer um paralelo deste filme de Sofia Coppola com perturbador “Laranja Mecânica” de Stanley Kubrick, onde o adolescente Alex lidera uma gangue que assalta e espanca as suas vítimas. A diferença que Kubrick (ou Antonhy Burgesse, autor do romance original) localizava como uma história de uma sociedade futurista.
Ao contrário deste filme de Sofia Coppola que dialoga com os tempos das redes sociais, da busca on line, google maps, essas são as ferramentas e, não mais os "pé-de-cabra" que facilita alcançar mais rápido o sonho em conquistar objetivos pretendidos, nem que seja por meios ilícitos.
A própria opção narrativa da Sofia Coppola é "voyeuer", observa e deixa rolar, meu deus, quanta futilidade... A violência não tem classe social, pátria, raça ou religião, mas o pior delas pode ser a banalidade consumista... O auto massagear do ego, do narcisismo, do auto-amar...eu me amo, a mania de fotografar tudo e a si mesmo a todo instante e postar publicamente.
Como previu o poeta e cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, neste artigo escrito em 1969: “Para o novo capitalismo, é indiferente que se creia em Deus, na Pátria ou na Família. Com efeito, ele criou seu novo mito autônomo: o Bem-estar. E seu tipo humano não é o homem religioso ou cavalheiro galante, mas o consumidor feliz por ser tal”.(*)
Ou seja, a ideologia que tem mobilizado o imaginário das gerações desde o fim do século XX e início século XXI é: Consumismo.
Como escrevi acima, mas agora concluindo, os filmes “Laranja Mecânica” (A Clockwork Orange de Stanley Kubrick) e “Bling Ring – A Gangue de Hollywood” (Bling Ring, de Sofia Coppola), o primeiro realizado em 1971 e o segundo em 2013 prefiguram essa banalidade alienante em que os tempos atuais se vê/ver confrontado.
(*) "Festividade e consumismo", nº.1, ano XXXI, 4.01.1969. Caos - Crônicas Políticas, P P Pasolini, Ed. Brasiliense, 1982. Trad. Carlos Nelson Coutinho.
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- AURÉLIO MICHILES
- Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.
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