terça-feira, 30 de outubro de 2007

GODARD+GLAUBER=KYNEMA


Jean-Luc Godard um dos maiores expoentes da arte do século XX, declarou em 1964 que “aguardava com traquilidade o fim do cinema”. Enquanto que num outro continente outro jovem inquieto, Glauber Rocha (1939-1981) proclamava que fazer cinema contemporâneo bastava “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”.

Essas frases de efeito de algum modo sintetizam a modernidade do século XX, o cinema como referencia do que viria a refletir o “amanhã”, quer dizer, o “hoje” no planeta. O cinema não morreu, mas sim, uma forma de se fazer e comercializar o cinema.

O cinéfilo e refinado franco-suíço de origem social milionária já se entediava com o aborrecido comércio das imagens, enquanto que aquele outro jovem, mais otimista, nascido na classe média do sertão nordestino, num continente convulsionado por arcaicos problemas sociais, interpretava as mudanças do consumo das imagens através de uma tecnologia libertadora. A sofisticada tecnologia inventada e dominada pelos países ricos pudessem se tornar acessível às mãos e mentes dos países pobres. Resultado: 0X0.

Godard ainda aguarda com nervosismo o “fim do cinema”, enquanto que Glauber não conseguiu alcançar o século XXI, justamente quando as câmeras e todos seus apetrechos periféricos estão conectados ao sinal digital e de certa maneira realizando aquele sonho profetizado por ele – “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”. Cada um a sua maneira revolucionaram não apenas o cinema, mas um certo enquadramento do olhar sobre o século XX. Os dois, adeptos da imagem como suporte do discurso simbólico e reflexivo na dimensão da propaganda política.

Só a reprodução das imagens da realidade permite a confrontação do absolutamente diverso e longínquo, como fosse um museu do imaginário. O Hoje se impõe sobre um Ontem tardio e um Amanhã sombrio. Tudo isso transformado em imagens, guardadas em qualquer câmera-megapixels que se encontra nas mãos de um alguém ou na idéia de um outro. Tu mesmo. O Cinema não morreu e os seus melhores realizadores se transformaram em habitantes eternos destas imagens.

Resta-nos celebrarmos juntos o “teorema perdido” de Jean-Luc Godard e Glauber Rocha ao imaginário de Baudelaire:

“O culto das imagens. Minha grande, minha única paixão, minha primitiva paixão”.

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"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.