quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A BORBOLETA NO FILME




"Enviado por Carlos Alberto Mattos -
"(...) A Programadora Brasil está lançando novo pacote de DVDs com 53 títulos disponíveis para aquisição pelos associados. Entre eles, há 12 docs: de clássicos como Aruanda e Arraial do Cabo a títulos relativamente recentes como A Negação do Brasil. Alguns são autênticas raridades, como Ô Xente Pois Não, de Joaquim Assis, e Príncipe do Fogo, de Silvio Da-Rin.

A Programadora já conta com mais de 360 pontos de exibição associados (cineclubes, pontos de cultura, escolas, universidades e centros culturais), espalhados em 224 municípios de todos os 27 estados do país. Pena que o projeto, tocado pelo CTAV e a Cinemateca Brasileira, ainda não conseguiu se fazer conhecido como merece. Tente, por exemplo, conhecer os novos lançamentos no site oficial. Não vai conseguir. Assim como não logrei obter uma lista completa dos docs agora lançados.

Mas os cuidados editoriais são impecáveis. Cada DVD é acompanhado de um texto crítico sobre o(s) filme(s). Coube a esse docblogueiro fazer a apresentação de O Cineasta da Selva (1997), que recontou a história do pioneiro documentarista Silvino Santos. O filme de Aurélio Michiles foi editado junto com o curta Sangue e Suor: A Saga de Manaus. Reproduzo abaixo o meu texto:

A borboleta no filme

Ainda hoje os filmes de Silvino Santos (1886-1970) parecem bem mais que peças de um museu cinematográfico. Suas tomadas enchem os olhos pelos sentidos de movimento, ação, composição e detalhe. Cineasta do capitalismo caboclo nascente, cronista de índios, seringueiros, pescadores e grandes empresários, Silvino praticamente inaugurou, junto com o Major Tomaz Reis, o documentarismo etnográfico brasileiro. E também uma série de dilemas que o nosso cinema historicamente enfrentou junto aos poderes político e econômico.

Aurélio Michiles adotou uma perspectiva romântica para enfocar esse pioneiro em O Cineasta da Selva. José de Abreu encarna um Silvino meio fora do tempo, que fala trechos das memórias de seu personagem diretamente "para nós". O efeito ressalta a opção de Michiles por uma espécie de memorialismo lúdico, combinando rigor histórico e liberdade poética.
Uma cobra avança entre cachos de película, uma borboleta pousa num pedaço de filme. São imagens sintéticas que pretendem substituir grandes esforços de produção do filme de época. Da mesma forma, o uso gracioso de fotografias, mapas, transições de cor e incrustações digitais, além de um trabalho musical delicadíssimo e primoroso, tudo solicita do espectador uma atenção pelo menos tão lírica quanto histórica. A síntese acaba sendo a maior virtude desse filme que se lança ao desafio de retratar uma epopéia.

Por isso navegamos sem peso através de toda a carreira de Silvino Santos, no Brasil como em Portugal, com uma criteriosa seleção de trechos de seus filmes. E conhecemos do homem não apenas seu trabalho de desbravador, mas também um pouco de sua intimidade pessoal: a mitomania, a vocação para servir aos patrões, a aceitação tranqüila dos supostos desígnios do destino.

O Cineasta da Selva desenha uma pequena genealogia do cinema amazonense. A vida de seu maior pioneiro é revisitada pelo amazonense Michiles, um "herdeiro" de Silvino. Nele comparecem os conterrâneos Djalma Limongi Batista e Márcio Souza. A dedicatória, por sua vez, vai para o manauara Cosme Alves Netto, que tanto fez pela memória e a cinefilia no Brasil. (...)"

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"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.