sexta-feira, 2 de novembro de 2007

BOMBAS ATÔMICAS EM HIROSHIMA E NAGAZAKI


A SUA ALMA QUEIMARÁ NUMA EXPLOSÃO ATÔMICA

- Ao som de "Napalm in the Morning", trilha sonora original do Filme "Apocalypse Now" (1979)- 

Desde a invenção do avião, este "pássaro-de-ferro" que desafia a lei da gravidade, tem sido um engenho que nos causa fascínio e horror, em relação à primeira dá-se quando ele nos locomove estonteantemente, numa altura somente alcançada pelos pássaros ou no sonho megalomano-mitológico de Ícaro. E horror todas as vezes que ele explode numa visão espetacular e apocalíptica.

A guerra aérea inoculou-nos numa desavergonhada ação de extermínio, aonde populações, cidades, monumentos arquitetônicos, paisagem natural, fauna e flora, criações artísticas e culturais são aniquiladas sob a responsabilidade do anonimato. Tudo se transforma num alvo.

Uma das sequencias mais eloqüentes do filme "Apocalipse Now" é aquela quando um oficial do exército norte americano (interpretado por Robert Duvall), debaixo dos bombardeios incessantes com napalm, ele retira a camisa, ajeita seu chapéu de cowboy de infantaria, como fosse uma estátua aos conquistadores, diz:

"- Adoro o cheiro de napalm pela manhã...tem o sabor da vitória".

Não é por leviandade que esta frase é considerada como uma das mais importantes da história do cinema. Ela expressa sinteticamente o imaginário daquilo que o romancista norte americano Gore Vidal escreveu, segundo ele, os norte-americanos depois da vitória contra o nazi-fascismo: "Nos envolvemos numa guerra perpétua contra o que parecia ser o clube do inimigo do mês".

Morreu ontem aos 92 anos, um dos mais representativos representantes deste "lado negro da força", personagem de um dos episódios que mancha de horror a humanidade. Refiro-me ao general-brigadeiro Paul Tibbets Jr., sim, foi ele que pilotou o avião que jogou bomba atômica sobre a cidade Hiroshima, no dia 6 de agosto de 1945, matando centenas de milhares de pessoas, deixando a cidade totalmente arrasada. Até hoje, os sobreviventes e seus descendentes vivem sob "choque e pavor" desta tragédia. Mas ao contrario daquilo que possamos imaginar aquele militar, ao longo da sua vida, jamais manifestou uma palavra de arrependimento, mas ao contrário se orgulhava com o mesmo sentimento do oficial no filme de Francis Ford Coppola. Em suas memórias, Paul Tibbets Jr, assim descreveu a sua visão diante da hecatocombe nuclear:

"O gigantesco cogumelo púrpura já havia subido numa altitude de 13.500 metros de altura e continuava a disparar para o alvo, fervilhante, como se terrivelmente vivo".

E numa outra declaração:

"Eu estava ansioso para executá-la. Queria fazer tudo que pudesse para derrotar o Japão. Queria matar os bastardos."

Essas declarações expressam as bravatas tipo machista-heróico dos filmes hollywoodianos, aquele "mocinho" capaz de dar a sua vida pela pátria, mesmo pisoteando os princípios de qualquer moralidade, aqui como em todos os episódios que envolvem as guerras, é a imoralidade que vale e por ela se é condecorado. Seja nos filmes de bang-bang, aonde os povos indígenas eram mortos feitos seres vivos insignificantes, enquanto o mocinho permanecia, apesar das escaramuças, com o chapéu na cabeça ou nos filmes de guerra quando eles sequer se sujavam de sangue, continuavam com suas roupas com vincos impecáveis e o corpo sem nenhum arranhão.

Os índios, os alemães ou os japoneses feitos uns cruéis covardes, "eles haviam nascidos para serem mortos". Como, e da mesma maneira, hoje são transformados como "alvos da vez": os "narcotraficantes mexicanos, colombianos" ou aqueles identificados como "árabes terroristas".

A implacável supremacia do poder da máquina de guerra norte-americana, não deixa margem para questionamentos.

Depois da Coréia, nos anos sessenta os norte-americanos se chafurdaram no Vietnã, e aí diante de uma estratégia que fugia dos confrontos clássicos, viram-se diante de uma guerra de guerrilhas. E como solução final inventou-se a guerra eletrônica computadorizada, sensores infravermelhos, televisão, rastreadores, bombas químicas (napalm), mesmo provocando estragos indiscriminados nos vietnamitas, acabaram derrotados e deixando pra trás uma paisagem desoladora e um sabor de derrota inesquecível, mesmo assim uma lição, até hoje, ainda não assimilada totalmente. Daí insistir que a existência do personagem do Apocalipse Now, protagonizado pelo ator Robert Duvall e o general-brigadeiro Paul Tibbets Jr são figuras emblemáticos desta cultura da guerra de conquista a qualquer custo.

Ao longo dos séculos, tenta-se escamotear a sua estratégia de extermínio, mudam-se os nomes, mas a origem é a mesma, a ignomínia criminosa de guerra.

Em1991 quando os Estados Unidos da América do Norte era governado pelo Bush-pai, ele declarou guerra no golfo, e sem nenhuma cerimônia os mísseis norte-americanos sob o bombardeio implacáveis dos aviões transformaram num inferno as principais cidades do Iraque e sobre o Kuwait ocupado pelas tropas comandadas por Saddam Hussein(antigo aliado dos EUA). Toda essa ação espetacular foi transmitida em tempo real pela rede de televisão CNN, esta tornou popular as expressões "bombas inteligentes", "bombardeios cirúrgicos". Uma guerra que se queria fazer respeitar por uma ação asséptica, (como nos filmes hollywoodianos) tanto que a imagem transmitida, não se tinha closes da tragédia - sangue, suor e horror. Tudo parecia como os efeitos especiais, tipo "Guerra nas Estrelas" ou dos jogos de computador, enquanto que as vítimas, as destruições e o extermínio em massa de pessoas era banalizada como parte integrante de um mundo virtual. Mais uma vez foram os engenhos aéreos que se fazia utilizar como os braços e olhos do horror espetacular.

Em 2003, foi a vez do Bush-filho invadir o Iraque, sob o slogan "Choque e Pavor", mas aquilo que deveria apenas encontrar laboratórios que supostamente produziriam guerra química, resultou num fracasso moral. Mesmo tendo enviado uma máquina de guerra jamais vista contra um inimigo do porte do Iraque.Num objetivo eles acertaram, sob os desígnios e significados do "Choque e Pavor", os bombardeios B-2 e B-52, os mísseis e os submarinos continuam fazendo milhares de vítimas.

Segundo testemunhas oculares, estes bombardeios foram dez vezes maiores que aquele praticado pelo Bush-pai. Resultado: sob "choque e pavor" continuam as populações iraquianas.

A matança, até aqui, tem passado como herança de pai para filho. E sob o espectro do general-brigadeiro Paul Tibbets Jr., paira a consciência daqueles que desenham a geoestratégia mundial, aquela que foi identificada pelo filósofo francês Paul Virillio:

"A primeira vítima da guerra é o conceito de realidade".

E isto ficou explicito quando a suposta moral civilizatória dos Estados Unidos da América do Norte foi abalada justamente pelo "pássaro-de-ferro", refiro-me aqueles dois aviões, em Nova Iorque, com inocentes passageiros e pilotados por ensandecidos "inimigos do dia", chocou-se contra as torres gêmeas, causando "choque e pavor". Aí se encontra a origem do nome da ação que batiza ação bélica contra o Iraque. Uma ironia com sabor freudiano.

Diante do uso bélico dos aviões como uma espetacular máquina assassina, contrariando as ambições da sua origem como um sonho lúdico, tipo homens-pássaros, foi traído pelo "lado negro da força" levando um dos seus inventores, o brasileiro Santos Dumont, a suicidar-se, ao saber do uso dos aviões como uma arma de guerra. Por esta, e por muitas outras, desejo de coração que o general-brigadeiro Paul Tibbets Jr., piloto do avião que jogou bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima, no dia 6 de agosto de 1945, que a sua alma queime eternamente numa Explosão Atômica.

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"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.