quinta-feira, 8 de novembro de 2007

CRASH E FALCÃO - no limite do Fantástico


UAU! CRASH! TRASH! PLASH! BUUUMMMM!

Fui assistir Crash - No Limite, de Paul Haggis. Ganhador de melhor filme OSCAR 2006.
Quando lançado por aqui ficou apenas uma semana em cartaz. Creio que a temática intensa deste filme não caiu nas graças do publico brasileiro, nós estamos até ao gargalo com essa e outras problemáticas, de qualquer maneira interpreto esta ausência, mas como uma indiferença irresponsável. Felizmente depois do Oscar, os exibidores do circuito "mais alternativo" resolveram dá mais uma oportunidade, pelo menos aqui em SP.

Ao voltar para casa, assistir no "Fantástico" (TV Globo) "FALCÃO" um documentário chocante, realizado pelos próprios moradores das comunidades aonde o Fernando Meirelles filmou o Cidade de Deus. Com certeza deixou pasmo os 70 milhões de espectadores que vêem este programa "global" todos os domingos. Histórias verdadeiras de crianças que tem idade limite de vida até 18 anos - todas envolvidas no tráfico das drogas, pasmem, desde os dois anos de idade. Apenas uma das várias crianças entrevistadas neste documentário, encontra-se viva cumprindo pena numa penitenciária.

Quanto ao Crash, gostei e recomendo. Sobre o seu diretor, apenas conhecia o seu trabalho de roteirista no filme “Menina de Ouro”, de Clint Eastwood. Ao assistir Crash, logo me veio na memória os filmes “Short Cuts”, de Robert Altman e “Grand Canyon”, de Lawrence Kasdan, são obras que percorrem as mesmas referencias.

Porem mais que um filme sobre Los Angeles ou sobre EUA, Crash é um filme sobre o preconceito em diversos níveis, dos mais primários ao mais sofisticados e dissimulados. É um complexo e intrigante painel deste mundo, nuestro mundo. Aqui, ali e em alhures. A questão é os humanos contra a humanidade. É a mesma coisa, um se fundamenta nas diferenças das hipocrisias sociais, fomentadoras dos desejos espúrios do não-acesso ao consumo. Esta questão fica explicita no documentário “FALCÃO”, na seqüência em que a mãe orgulhosa mostra as roupas do filho-adolescente morto, "ele só gostava de roupa de marca".
O crime não compensa da mesma forma que o fim justifica os meios... Então, é o quê me refiro como circulo demoníaco do PODER.

ROUBA, MAS FAZ

Todos sabem que determinados políticos são corruptos, recorrem a meios não-ortodoxos para se manter e manipular "os meios justificam os fins". O famoso “rouba, mas faz”, aceito como piada, mesmo que aí esteja a caixa de pandora da nossa história nas relações promiscuas entre o dinheiro publico e os homens públicos. A tênue fronteira entre o público e o privado.

A questão está posta. Encontramo-nos diante de um determinado tempo histórico que faz apologia ao arrivismo, ao desdém contra o diferente, ao outro. Demoniza-se a igualdade e se faz negócios com a solidariedade, transformando-se em "S.A.".

Pensemos na solidariedade, no altruísmo em relação à miséria social e chegaremos a questão das crianças nas favelas, como um assunto que pertence a sociedade como um todo. Mesmo sem esquecer (jamais) que é uma responsabilidade de governo, mas caso os cidadãos atuantes e participantes não interagirem, estaremos fritos. E não adianta chorar diante das imagens "derramadas" no horário nobre da maior TV privada do país.

Parece não ser suficiente. A carne grossa e dura da sociedade está viciada com a paisagem. A elite recorre ao jogo de esgrima, com luvas de proteção anti-sépticas contra os pobres e miseráveis. Nós temos a cruel capacidade de acostumarmos com indiferença diante das barbaridades. Foi assim na Alemanha nazista, foi assim no Brasil da ditadura e é assim, com certeza, diante da tragédia cotidiana dos iraquianos. A “banalidade do mal”.

MV BILL VERSUS FERNANDO MEIRELLES

Quando Fernando Meirelles filmou Cidade de Deus, causou furor. Determinados críticos e teóricos de cinema chamaram-no de "cosmética da fome" fazendo uma relação irônica com o hoje assimilado e rebelde "estética da fome" de Glauber Rocha. Até mesmo o rapper MV Bill, ameaçou chamar a imprensa nacional e internacional para denunciar o "oportunismo" do Fernando, inclusive dizendo que entraria com queixa crime na justiça, por perdas e danos morais, porque o filme Cidade de Deus estava fortalecendo a imagem preconceituosa que a sociedade tem contra "os moradores das comunidades periféricas", eufemismo de favelados.

Eu mesmo escrevi e troquei mensagens com o MV Bill, fazendo uma analise do filme e da situação histórica. Ele agindo desta forma (dizia-lhe) estaria apenas fortalecendo aqueles que se mostram solidários, briguem entre si. Contei-lhe a historia do Fernando Ramos, "o pixote" e a demonização que determinadas pessoas fizeram contra o diretor do filme (Pixote - a lei do mais fraco) Hector Babenco, imputando-lhe a responsabilidade do Fernando Ramos ter seu destino traçado pelas mãos do crime e das balas dos policiais. Aqueles pretensos "críticos de uma ética, moral, etc", queriam que o Babenco dividisse os lucros advindos do filme, como se a salvação do Fernando estivesse relacionada ao dinheiro. Ele era uma conseqüência, encontrava-se à margem da sociedade, não compreendia seus meandros. Não sabia, nem ele e ninguém da sua família, o Babenco deu-lhe um caminhão (ele vendeu), deu-lhe casa (ele vendeu), arranjou-lhe trabalho, como ator de telenovela (Globo) e ele não conseguia decoirar os textos. A manutenção da sua realidade estigmatizada e conflituosa (droga e a falta de perspectiva no futuro), era corroída.

Quando somos nós o Poder, a voz daqueles que exercem sua influencia para impedir, censurar, mascarar - é o que tem sido feito faz tempo, esta realidade não é do governo Lula. Os escândalos se sucedem como consequencia da própria democracia brasileira que exercita seus músculos de um adolescente. Um dia desses, ainda, a corrupção era vista como uma pratica necessária, uma oportunidade, daquele "rouba, mas faz", conforme citei acima.

DEMOCRACIA E A DATA DE VALIDADE

A nossa democracia ainda não completou dezoito anos, quem sabe, ela sobreviva mais que esses garotos que nascem com a data de validade vencida.

E aí, meu irmão, não adianta jogar pedras entre nós, não adianta Max Weber, Adorno, Lucaks, Bobbio e o caralho, todos estamos no mesmo barco e podemos a qualquer momento estar diante do revolver nas mãos de uma criança, e ele querendo levar apenas uns trocados, na troca da nossa vida ou dos nossos filhos.

E aí está toda a arquitetura do circulo do PODER. Da construção do imaginário da ciência política e social + as teologias que autorgam aqueles senhores donos dos espíritos, intermediários do "ópio popular". Os meios tecnológicos são os mesmos, o "primitivismo" da consciência, terreno fértil para as "não-razões". Os soldados "norte-americanos" que matam e morrem no Iraque, encontram-se diante da vida e da morte, por causa de um único desejo: a ascensão social, o acesso a universidade e um salário garantido no meio do cenário de desempregados nos EUA - a maioria é de origem latino, negros, asiáticos, quer dizer todos que lá estão, buscam o sonho por uma vida melhor. E se aqui estivessem, com certeza eles seriam "Falcões".

O ÓPIO DO POVO

Por aqui esse aspecto demoníaco do poder, não tem nenhuma diferença. Eles jogam a poeira da cegueira para encobrir a barbaridade da nossa realidade - PT, PFL, PTB, PSDB, PMDB, PDT, etc...LULA, Zé Dirceu, Palloci, Jeressaiti, Sarney, Quércia, Bornhausen, ACM (avô, filho e neto), Cristóvão, FHC, Serra, Alckmin, Garotinho, César Maia (pai e filho), Roriz, Rigotto, Pauderney, Amazonino, Athur Neto (avô, pai, neto e bisneto) à esquerda ou à direita de deus pai todo poderoso.

OS DEMÔNIOS DO PODER

Nesse círculo do poder não existe santo e nem anjos. Todos são tocados pela luz terrível que os cega e os transforma em demônios. Por acaso você já leu "Os demônios" de Fiodor Dostoievski?
Leia esse trecho:
Chigalióv, um dos líderes, apresentando a sua teoria revolucionaria:

“Como solução final do problema, dividir os homens em duas partes desiguais. Um décimo ganha liberdade de indivíduo e o direito ilimitado sobre os outros nove décimos. Estes devem perder a personalidade e transformar-se numa espécie de manada e, numa submissão ilimitada, atingir uma série de transformações da inocência primitiva”.

Piotr, um outro personagem propõe que a solução é o assassinato para se chegar ao nível da igualdade.

"O projeto dele é notável, tornou Verkovenski. Estabelece como regra a espionagem. Segundo ele, todos os membros sociedade se espionam mutuamente, e são obrigados a relatar tudo o que descobrem. Cada um pertence a todos e todos pertencem a cada um. Todos os homens são escravos e iguais na escravidão; e nos casos graves, pode-se recorrer à calúnia e ao homicídio; mas o principal é que todos são iguais. Antes de tudo, rebaixa-se o nível da instrução, das ciências e dos talentos. ... portanto nada de inteligências superiores. (...) É mister bani-los ou matá-los. Cícero terá a língua cortada, Copérnico os olhos furados, Shakespeare será morto a pedradas. Isso é que é o chigaliovismo. Ah,ah,ah! Está admirado? Eu sou partidário". (...) "O tédio é uma sensação aristocrática; no chigaliovismo não haverá desejos. Desejo e sofrimento para nós, para os escravos, o chigaliovismo”.

“Os demônios” de Dostoievski
não foi compreendido pelos intelectuais do século XX. Por que será?

Lendo-o hoje, nós ficamos com a sensação que perdemos alguma parte do baile, quer dizer da festa revolucionária.

Aurélio Michiles, março 2006.

2 comentários:

Anônimo disse...

Comentar... mas o que !? Dizer que esse demonio está queimando no inferno !? Comentar que milhares de vidas esse filho de satã exterminou !? Comentar que esse demonio nunca mais terá paz !? Jente, se DEUS realmente existe, esse monstro maldito deverá sofrer mais milhões de anos nas trevas, e milhões de anos ainda é pouco. Paul Tibbets, durma com o DIABO, SEU LAZARENTO !

Anônimo disse...
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"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

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Minha foto
Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.