terça-feira, 20 de maio de 2008

MARINA SILVA SELVA





O desfecho da rota-destino do Urbano Lula da Silva e Marina Silva Selva, os faz sobreviventes da diáspora causada pela miséria; um e outro são metáforas dos desafios que o Brasil enfrenta nestes cinco séculos de existência.

OS SILVA E A SELVA
O Presidente Urbano Lula da Silva é um ex-pau-de-arara, ex-metalúrgico, ex-líder sindical da região do ABCD. A cabocla acreana e ex-ministra Marina Silva Selva nasceu na Amazônia, no seringal Bagaço, é ex-seringueira, ex-quase freira, ex-empregada doméstica. Foi alfabetizada somente aos 16 anos, dez anos depois havia se formado em História pela Universidade do Acre.
Quer dizer, tanto o Urbano como a Selva são pessoas extraordinárias.

O Urbano Lula da Silva e a Marina Silva Selva trazem no corpo as marcas desta trajetória. A primeira teve malária, hepatite, leshmaniose e convive com uma saúde sob cuidados. Como cosequencia da contaminação do sangue pelos produtos químicos que poluem os rios pela ação predatória dos garimpos na Amazônia. Enquanto que o Presidente Lula traz na ausência de um dos dedos nas mãos, a lembrança permanente do acidente de trabalho num torno metalúrgico, assim como na sua prosódia, apesar da rapidez de raciocínio, os atropelos no vernáculo expõe a realidade de milhões de brasileiros.

A CALIGRAFIA NO ABC DOS SERINGAIS

A trajetória de Marina deste o analfabetismo na selva amazônica até ao gabinete de Ministra do Meio Ambiente surpreendentemente faz paralelo com a ascensão do presidente Lula. Metaforicamente essa coincidência entre a caligrafia que traça o destino de Marina Silva Selva é a mesma que escreveu o surgimento do ABCD metalúrgico, origem do novo poder político brasileiro e a nova consciência sobre os valores da preservação dos recursos naturais e da floresta amazônica.

LÁTEX, BORRACHA E PNEUS

A rota-destino parece se fundir até aqui, de agora em diante cada um seguirá o seu próprio caminho. Marina Silva Selva coletou látex para fazer borracha e esta se transformar entre outras coisas, em pneus. E estes fazem a razão da existencia do Presidente Lula marcado pela cultura urbana dos automóveis, ele busca compreender aonde colocará tantos veículos? Senão amontoando-os pelo território nacional a fora, produzindo mais combustíveis, desde aqueles que se encontram debaixo da terra aos biocombustiveis que tambem precisam de mais terras, portanto mais devastações de florestas, mais poluições dos rios e das cidades. Daí fazermos a oportuna pergunta diante do procejo para“acelerar o desenvolvimento”. Quem estará com os pés no breque, nos freios?...

A LEI DA SELVA E DA CIDADE

No final dos anos 70 o Presidente Urbano Lula da Silva ao desafiar a ditadura deu visibilidade a luta dos trabalhadores no eixo industrial do país - as montadores de veículos automotores. Enquanto Marina da Silva Selva contemporânea e parceira de Chico Mendes, juntos ousavam desafiar a “lei da selva”nos seringais extrativistas da Amazônia (ACRE), resultado: Chico Mendes foi assassinado em dezembro de 19886, mas seus herdeiros como Marina Silva Selva arrebataram admiração.

CABEÇAS CORTADAS

Marina, a ministra do Meio Ambiente do governo Urbano Lula da Silva, resolveu pedir o chapéu e cair fora. Ficou seis anos no cargo, também foram meia dúzia de anos em que foi mantida sob fogo brando e outras vezes nas brasas do caldeirão ardente das queimadas amazônicas.

Na verdade, isto não é nenhuma novidade, a sua cabeça encontrava-se a prêmio faz tempo. E não eram uns poucos que a queriam...inclusive incentivando desconfianças (o mesmo que se cultiva em relação ao presidente Urbano Lula da Silva) em relação a sua capacidade intelectual. Preconceitos ricochetearam nas mídias, numa contra-propaganda cujo único objetivo era fazê-la cair, já que não podiam acertá-la à bala.

A sua imagem de mulher frágil (de fato em termos de saúde, parece que assim é) e de voz mansa incentivava os incautos conspiradores. O custo destas pessoas era um só:

Em nome do desenvolvimento e do progresso, a liberdade de fazer o que quisessem com o meio ambiente, mas sobretudo com a Amazônia.

O CUSTO DO PROGRESSO

Como Ministra do Meio Ambiente Marina Silva Selva/ Marina Osmarina Silva de Souza estabeleceu duras condições para conceder licenças ambientais, cuja reputação a fez ganhar o “Prêmio Goldman de Meio Ambiente” e o “Campeões da Terra”, da ONU. Essa postura, também, contrariava a determinados ministros do governo que apóiam a exploração dos recursos da floresta.Como por exemplo o PAC, a transposição do rio São Francisco, a hidrelétrica no Rio Madeira, a farra do uso dos transgênicos no plantio da soja, a instalação de Usinas de Álcool no Pantanal, a questão das demarcações e homologação das terras indígenas (Raposa Serra do Sol – RORAIMA), etceteras.

Aqueles que se sentiam incomodados pelas atitudes da Ministra Marina Silva Selva, mas não tinham coragem de vir a publico expor suas opiniões beligerantes, eles temiam uma repercussão nefasta a nível internacional, para a imagem positiva de respeitabilidade do governo Urbano Lula da Silva e tambem por outro lado, eles não queriam torná-la em mais um mártir da Floresta Amazônica.

BANCO GENÉTICO: FUNDO SOBERANO

Nos últimos tempos, motivados, talvez, pelas alvissareiras notícias sobre a economia nacional: “investment grade”, “fundo soberano”, arrochado pela bancada ruralista do Congresso Nacional, pelos militares, agronegócios, arrozeiros, madeireiros, fazendeiros, demarcação de terras indígenas, cartões corporativos que mais uma vez coloca a ante-sala da presidência da republica é colocada contra a parede para responder questões relacionadas a privacidade deste mesmo poder. Mais a aproximação das eleições municipais que refaz esse mapa “mutante-quasímodo” partidário nacional, eis que o governo Urbano Lula da Silva, rende-se ao grupo e em do nome do “futuro” entrega a cabeça da Marina Silva Selva.

Todas aquelas questões que Marina Silva Selva tenazmente defendia e ao mesmo tempo via as suas decisões atropeladas pelo interesses imediatos do Governo, por fim, o presidente Urbano Lula da Silva concedeu ao professor Roberto Mangabeira Unger a chave do cofre do PAS (Plano Amazônia Sustentável). Sim, àquele mesmo professor da impoluta Universidade de Harvard-Boston e atualmente encontra-se ministro de estado do governo Lula aonde é responsável para apresentar projetos para o "futuro do Brasil".

MANGABEIRA UNGER DOUTOR EM AMAZÔNIA

No mês de janeiro, do corrente ano, o ministro Mangabeira Unger viajou pela Amazônia, levando consigo “propostas originais” para resolver as questões que desafiam a cobiçada região. Uma das suas idéias para solucionar a escassez de água no Nordeste, pasme:

“Fazer a transposição das águas da Amazônia para aquela região”.

O RIO AMARELO E A AMAZÔNIA

Justamente este mesmo senhor é quem vai coordenar o Plano Amazônia Sustentável, quer dizer,vai decidir o que é bom e melhor para a região amazônica. Nosso desejo é que ele, ao menos leve em consideração as lições que resultam no hibridismo desenvolvimentista chinês, lá o Rio Amarelo está super-explorado, encolheu dois quilômetros. A região norte do país está secando a medida que a demanda hídrica ultrapassa a oferta. Cursos d'água estão se exaurindo e rios e lagos desaparecendo. Na disputa pela água entre cidades, indústrias e agricultura, a análise econômica não favorece a agricultura.

URBANO LULA DA SILVA E MARINA SILVA SELVA

Mas, quem está querendo saber destes fatos? Pelos sorrisos, declarações e mensagens encontradas nos “chats” da internet, podemos vislumbrar um FUTURO pouco promissor para essa empreitada do PAS (Plano Amazônia Sustentável). A saída de Marina Silva Selva do Ministério do Meio Ambiente vem sendo festejada por todos que se pretendem se locupletar sobre os recursos naturais.

2 comentários:

➔ Sill Scaroni disse...

Ola Aurelio, tudo bem?
Aonde posso encontrar o video "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"?
Admiro o seu trabalho.

Sill

AURÉLIO MICHILES disse...

Sil, fico feliz com o teu comentário. Quanto a cópia DVD "O Brasil Grande e os Indios Gigantes" podes conseguir através do ISA- Instituto Socioambiental.
A

"Livre-pensar é só pensar" Millor Fernandes

www.tudoporamoraocinema.com.br

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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.