segunda-feira, 26 de maio de 2008

SAEM OS NARDONI, ENTRAM OS ÍNDIOS


"A derrubada do pau-brasil é o grande símbolo do começo de nossa história. O desfalque e o ataque à natureza são nossos sinais de batismo, como o é também a posse da mulher índia pelo branco invasor (...) A protocélula do povo brasileiro: a criação de um hibrido que nunca saberá quem é, porque nem pai nem mãe lhe servirão de espelho ou modelo de identidade". Roberto Gambini (1)
"O Brasil é uma terra de mestiço pirado querendo ser puro-sangue". Tim Maia (2)


...Antes era a Igreja os missionários, a catequese, hoje é a TV...

A imagem dos índios armados com facões atacando um engenheiro da Eletrobrás que participava de um encontro sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, teve como consequencia reviver a antiga demonização dos povos indígenas e deu motivos para muitas pessoas expiarem seu desprezo contra os índios.

O MEIO É A MENSAGEM
Os povos indígenas foram desde o início do “achamento”(1500) identificados como personagens do paraíso terrestre, para logo depois serem transformados em seres sem almas, numa mistura de gente e féra – os selvagens.

Esta tem sido a estratégia de contra propaganda às extraordinários conquistas civilizatorias dos povos indigenas. Aquelas utilizadas até hoje pela civilização branca e européia na sua medicina, culinária, habitação e tantos outros produtos existentes no cobiçado "banco genético do novo mundo": o tanino, a pimenta, o cacau (chocolate), a rede de dormir, a mandioca, o milho, a batata, a cana-de-açúcar, a seringueira (borracha), etceteras. Estes produtos são utilizados em nosso cotidiano sem que a maioria da população terrestre saiba a sua origem.
Houve um roubo de memória e de propriedade, isto que hoje em dia denominamos como biopirataria.
XINGÚ E A HIDRELÉTRICA
Todas as vezes que nos deparamos como uma cena espetacularmente chocante, acende na memória algo de terrível...vingança...sentimentos eurocentricos...excludentes e hegemônicos. O diferente deverá ser banido, extinto.
MOCINHOS & BANDIDOS

A hidrelétrica que se quer construir faz 20 anos no Xingu não é do interesse dos povos que aí habitam faz milhares de anos. Eles merecem serem ouvidos, sobretudo porque a relação deles com a natureza não tem o mesmo significado para nós que vivemos nas cidades, aonde o imaginário é povoado pela paranóia do medo, da violência, da solidão e do expansionismo sem trégua.
O BELO MONTE DA ELETROBRÁS

O relato sobre o o impacto que a instalação do projeto da usina de Belo Monte poderão causar teve como porta-voz o engenheiro Paulo Fernando Rezende. Por indicação da ELETROBRÁS foi escolhido para apresentar aos moradores da região, os índios de 24 etnias os pró e contras da hidrelétrica. Ele, corajosamente assumiu, como especialista do projeto proposto, que essa obra em nome do "progresso" vai funcionar apenas por alguns meses por ano.

Perplexos e indignados os índios perguntaram-se como uma grande área florestal seria inundada, a fauna e a flora submersas, populações deverão abandonar seu território aonde nasceram seus ancestrais e toda a paisagem afetiva e de sobrevivência será perdida pra sempre em troca de alguns meses de fornecimento de energia elétrica?

LÁBIAS,LOROTAS E FACÕES

Sem uma resposta plausivel diante de tantas não-respoostas, os índios atacaram o engenheiro da ELETROBRAS, sim justamente aquele que se apresentou como o "representante" dos brancos. As imagens dos índios furiosos, armados de facões, rasgando as roupas do engenheiro ensanguentado foi a imagem que as TVs precisavam para alavancar seus índices de audincia: sensacionalismo. Elas foram exibidas varias vezes, com narrações emocionados de indignação,mas sem explicações e motivos.
Toda essa demonização apenas fez despertar sentimentos primitivos; aqueles que levam as pessoas a querer fazer justiça com as próprias mãos, como podemos averiguar nesta mensagem.
OPINIÃO DO LEITOR

“Imprestáveis"
Qua 21/05/08 01h33 New , newt@estadao.com.br
"Indios com interesses em grana atacando trabalhadores honestos. Essa raça tem que receber uma lição urgente, acabar com o coitadismo deles, e descer bala.”


Nota:

(1)Espelho Índio: a formação da alma brasileira/Roberto Gambini. SP;Axis Mundi: Terceiro Nome,2000.

(2)Vale Tudo: o som e a fúria de Tim Maia/ Nelson Mota - RJ, Objetiva,2007.

(3) Foto: André Penner/AP

(4)reconstituição do massacre dos Cinta-Larga (1964).




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Nasceu em Manaus-AM. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura-UnB(73). Artes Cênicas - Parque Lage,RJ(77/78). Trabalha há mais de vinte anos em projetos autorais,dirigindo filmes documentários:"SEGREDOS DO PUTUMAYO" 2020 (em processo); "Tudo Por Amor Ao Cinema" (2014),"O Cineasta da Selva"(97),"Via Látex, brasiliensis"(2013), "Encontro dos Sabores-no Rio Negro"(08),"Higienópolis"(06),"Que Viva Glauber!"(91),"Guaraná, Olho de Gente"(82),"A Arvore da Fortuna"(92),"A Agonia do Mogno" (92), "Lina Bo Bardi"(93),"Davi contra Golias"(94), "O Brasil Grande e os Índios Gigantes"(95),"O Sangue da Terra"(83),"Arquitetura do Lugar"(2000),"Teatro Amazonas"(02),"Gráfica Utópica"(03), "O Sangue da Terra" (1983/84), "Guaraná, Olho de Gente" (1981-1982), "Via Láctea, Dialética - do Terceiro Mundo Para o Terceiro Milênio" (1981) entre outros. Saiba mais: "O Cinema da Retomada", Lucia Nagib-Editora 34, 2002. "Memórias Inapagáveis - Um olhar histórico no Acervo Videobrasil/ Unerasable Memories - A historic Look at the Videobrasil Collection"- Org.: Agustín Pérez Rubío. Ed. Sesc São Paulo: Videobrasil, SP, 2014, pág.: 140-151 by Cristiana Tejo.